Edmundo González Urrutia, derrotado nas urnas e “proclamado” vencedor por Washington, que teve mandado de prisão decretado – por, entre outras infrações, “associação para cometer crimes” e “instigação para a violação da lei” – fugiu da justiça de seu país indo se exilar na Espanha
Gonzalez, candidato derrotado por Maduro, (reeleito presidente da Venezuela) decidiu fugir da Justiça de seu país, pediu asilo à Espanha e embarcou rumo a Madri neste sábado (8).
A vice-presidente, Delcy Rodrigues, declarou que o governo venezuelano decidiu acatar a decisão espanhola de conceder asilo a Gonzalez e lhe concedeu salvo-conduto. Ele embarcou em avião da Força Aérea da Espanha.
Segundo a vice-presidente da Venezuela, “após os contatos entre os dois governos e o cumprimento dos trâmites legais, a Venezuela concedeu os salvo-conduto necessário para garantir a tranquilidade e a paz política no país.”
Quanto à tranquilidade, Delcy estava se referindo à atividade do candidato derrotado que feriu a soberania do seu país ao buscar apoio externo dos Estados Unidos. Pesava contra ele mandado de prisão por “conspiração”, “incitação para violação da lei”e “falsificação de documentos públicos”, ao apresentar supostas atas por redes sociais mas negando-se a entregar as supostas “provas de fraude” ao Supremo Tribunal de Justiça que averiguava a veracidade das acusações levantadas pelo opositor.
Através de seu advogado, José Vicente Haro, o ex-candidato a presidente venezuelano pela extrema direita, Edmundo González, cuja prisão foi pedida no início da semana depois de ter ignorado três intimações judiciais, alegou em uma declaração juramentada entregue na quinta-feira (4) não pretender desconhecer a “jurisdição institutional” e o não comparecimento por não saber por que foi convocado pelo Supremo venezuelano, e atribuindo sua ausência ao seu empenho em evitar a “intensificação das tensões sociais” e a “judicialização da política”, considerações apontadas como “descabidas” pelo procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab.
Na declaração, González procurou se safar das acusações alegando “não ter” responsabilidade pelo site de resultados paralelo privado, usado para proclamá-lo vencedor por larga margem, contrariamente ao Conselho Nacional Eleitoral e à revisão do Supremo venezuelano, expondo atas fictícias e proclamando que a eleição foi “fraudada”.
Para Saab, com quem o advogado Hato se reuniu, a comunicação entregue é ao mesmo tempo uma tentativa de se justificar e se desculpar, enquanto “se declara acima da lei, da autoridade e do Estado”.
O mandado de prisão acusa González de usurpação de funções (artigo 213), falsificação de documentos públicos (artigo 319), instigação à violação da lei (artigo 283), conspiração (artigo 132), todos do Código Penal, sabotagem e danos a sistema (artigo 7 da Lei de Delitos Informáticos) e associação para cometer crimes (artigo 37 da Lei Orgânica contra o Crime Organizado e o Financiamento do Terrorismo).
Em conferência de imprensa após a reunião, Saab acusou Edmundo González e María Corina Machado de autores intelectuais da morte de 27 venezuelanos nos dias seguintes ao 28 de julho e de 190 feridos, 100 deles policiais e militares.
O procurador-geral acusou-os igualmente pelos ataques e destruição de 400 bens públicos e privados como escolas, liceus, universidades, centros de saúde, centros educativos, para fazer acreditar que na Venezuela o povo se insurgira.
“Eles validaram a página farsa onde as pessoas entram no QR e aparecem em um restaurante ou parque de diversões” e descreveram esses eventos como uma zombaria para o povo, acrescentou.
Revisão das atas das eleições e dos registros de urnas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), após ouvidos nove de dez candidatos a presidente – o único ausente foi González -, que foi realizada pelo Supremo venezuelano confirmou a vitória de Nicolas Maduro para um terceiro mandato, de janeiro de 2025 a janeiro de 2031.
O Supremo concluiu que “os boletins emitidos” pela CNE “são respaldados pelos registros de escrutínio emitidos por cada uma das máquinas de votação” e “mantêm plena coincidência com os registros nas bases de dados dos centros de totalização nacional”. A decisão, enfatizou o órgão, é final.
O pronunciamento do Supremo se deveu a que o CNE, sob ataque informático (de negação de acesso), que dificultou a totalização à distância, ter demorado a anunciar o vencedor na noite de 28 de julho, depois de uma eleição transcorrida na tranquilidade. O que foi seguido pela irrupção de cenas de vandalismo, depois de González e Machado alegarem fraude, insuflarem a baderna e colocarem no ar um site paralelo.
O Conselho Nacional Eleitoral proclamou Maduro como vencedor com 52% dos votos, em comparação com 43% de González e pouco mais de 4% para os outros oito candidatos. Enquanto Machado e o site fake alegavam que a vitória era de González por 70%.
Prontamente, o Departamento de Estado – os EUA mantêm a Venezuela sob sanções tão extremas que chegaram a proibir a exportação de petróleo e a confiscar reservas de ouro e ativos venezuelanos – nomeou González vencedor, uma espécie de Guaidó 2.0.
Posição acompanhada por governos como o do fascista Javier Milei e o do ‘progressista’ ma non troppo Gabriel Boric. Também a União Europeia se recusou a admitir a vitória de Maduro, assim como a OEA, conhecida em priscas eras como Organização dos Escravos Americanos.
A vitória contra a extrema direita foi reconhecida pela Rússia, China, Turquia, Vietnã, Cuba, Arábia Saudita e dezenas de países do Sul, que pediram respeito pela soberania venezuelana.
Brasil, Colômbia e México fizeram gestões para mediar uma saída para a crise, com o último, após a determinação do Supremo venezuelano, tendo considerado caber às instituições venezuelanas resolver a questão.
A posição do Brasil passou a ser de nem reconhecer Maduro nem González como vencedor, com o presidente Lula chegando a propor a realização de novas eleições ou um governo de composição. A realização de novas eleições foi rechaçada tanto por Maduro quanto por Machado, aliás, por González. Brasília também considera que as atas eleitorais não foram apresentadas, como exigia, e classificou o mandado de prisão contra González de descabido.
Vendo a confusão eleitoral nesse momento na França, analistas têm perguntado sobre se vão ser pedidas as atas também a Macron. Um observador espanhol às eleições venezuelanas, e ex-fundador do Podemos, Pablo Iglesias, falando sobre a oposição de Bóric à reeleição de Maduro, advertiu-o de que a cumplicidade com os alegadores de fraude vai também recair contra os progressistas chilenos nas eleições futuras.
Como se sabe, um dos estratagemas mais notórios das ‘revoluções coloridas’ paridas por Tio Sam, como visto na Bolívia, Iugoslávia e na Ucrânia, foi, exatamente, o de exigir um “terceiro turno” inexistente, e clamarem contra a “fraude”, sempre que perdiam as eleições. Fizeram escola, como mostram Trump e Bolsonaro.
Em um desdobramento da crise, a Venezuela anunciou no sábado a revogação da custódia brasileira sobre as instalações da embaixada argentina após o rompimento de relações com Buenos Aires, acusando aos seis integrantes da extrema direita venezuelana ali albergados de envolvimento em planejamento de atentados.