ADILSON ARAÚJO
A reindustrialização da economia brasileira é um dos principais desafios com que se depara o governo Lula e a frente democrática que derrotou a extrema-direita nas eleições presidenciais de 2022.
Um passo importante é o programa Nova Indústria Brasil (NIB) anunciado pelo governo, que prevê R$ 300 bilhões para financiamentos destinados à nova política industrial até 2026. Além dos R$ 106 bilhões anunciados na primeira reunião do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial), em julho, outros R$ 194 bilhões foram incorporados, provenientes de diferentes fontes de recursos redirecionados para dar suporte ao financiamento das prioridades da Nova Indústria Brasil.
O Programa deve ser complementado com a mudança da política monetária, de forma a viabilizar uma redução substancial das taxas de juros e spread bancário, uma maior flexibilização da política fiscal para garantir a ampliação dos investimentos públicos, o aprofundamento do conteúdo local e uma política de crédito e financiamento adequada para fomentar o aumento dos investimentos da indústria e o desenvolvimento sustentável.
Agravada pela emergência do neoliberalismo nos anos 1990, a taxa de investimento no Brasil é uma das mais baixas do mundo. Em 2022 essa taxa foi de apenas 18,4% do PIB contra 19,2% em 2021. Hoje é de 16,8%. Em contraste, a taxa de investimento média no mundo naquele mesmo ano foi estimada em 27,3% para uma lista de 170 países.
As taxas de investimento no Brasil já foram bem maiores (em torno de 25% do PIB) e, não por coincidência, foi o período do forte crescimento configurado no chamado milagre econômico. A partir dos anos de 1980, em decorrência da crise dos juros escorchantes da dívida externa, a taxa de investimento do Brasil sofreu uma drástica redução.
Como consequência, a taxa média de crescimento do PIB declinou de 7% para cerca de 2% ao ano e a economia passou a descrever uma trajetória batizada pelos economistas de voo de galinha.
A indústria é o carro-chefe do desenvolvimento das nações. Uma verdade que transparece na vertiginosa ascensão da China, que é o país com maiores taxas de investimento do globo (uma média de 40,9% ao ano entre 1988 e 2027) e, sem surpresa, o gigante asiático é o país que apresentou as maiores taxas de crescimento econômico e de redução da pobreza de todos os tempos.
Para superar a defasagem e retomar ao padrão de crescimento chinês, registrado no Brasil de 1930 a 1980 e em 2010, precisamos implementar um audacioso projeto nacional de desenvolvimento assentado nas grandes obras de infraestrutura, promover mais investimentos em tecnologia, pesquisa, ciência, logística e inovação, a qualificação da mão de obra e geração de emprego e trabalho digno.
*Adilson Araújo é presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)