“Os admiradores de Pinochet não são bem-vindos no chile”, declarou o presidente do Senado chileno, Jaime Quintana Leal, ao esclarecer a razão que o levou a recusar-se a participar de um almoço que o presidente do Chile, Sebastián Piñera, oferece a Bolsonaro neste sábado.
Também já declinaram do convite o vice-presidente do Senado, Alfredo de Urresti e o presidente da Câmara, Iván Flores, que também manifestaram seu repúdio a posições de Bolsonaro.
O senador Quintana, que fez questão de ressaltar sua visão de que as relações entre Brasil e Chile são muito importantes, destacou em entrevista à BBC News Brasil que sua participação em “uma atividade de homenagem a ele (Bolsonaro), atingiria muitas pessoas de nosso país que se sentem prejudicadas por suas declarações”.
Pinochet, que implantou uma das ditaduras mais sanguinárias do continente sul-americano, com mais de 3 mil mortos e 30 mil torturados (e que inclusive implantou um modelo previdenciário de capitalização que deixa os chilenos aposentados amargando um miserável provento de 1/3 de seu último salário), recebeu de Bolsonaro e de assessores próximos elogios a sua hedionda carnificina.
Entre eles, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni que, conforme destacou o senador chileno, declarou recentemente que “Pinochet teve de dar um banho de sangue para ajeitar a economia do país”.
O próprio Bolsonaro já havia dito em entrevistas e pronunciamentos que “Pinochet fez o que tinha de ser feito”, ou ainda que “devia ter matado mais gente” e que “tinha que agir de forma violenta para recuperar o país”.
“Esse é um tema muito doloroso para o Chile, não só para quem foi vítima direta da violação de direitos humanos cometida pela ditadura.”
“Quando ele se declara um admirador de Pinochet, isso é muito forte. Os admiradores de Pinochet não são bem-vindos ao Chile”, afirma Quinta Leal, manifestando preocupação com o que Bolsonaro “representa”.
“Porque à medida que sigamos endossando lideranças que começam com discursos populistas, mas terminam consolidando regimes totalitários, a ameaça não é só para um país. Termina sendo uma ameaça para a humanidade. Isso aconteceu na Europa dos anos 1930.”
O senador reiterou que separa sua rejeição a Bolsonaro – que há poucos dias também elogiou o ditador paraguaio Alfredo Stroessner – por admirar ditaduras, da importância e simpatia com que enxerga o Brasil: “Reitero que o Brasil é um país com o qual nós queremos ter o melhor entendimento, temos profundo respeito pelo povo brasileiro e temos uma relação comercial muito boa. O Brasil é muito importante para o Chile, e acredito que o contrário também”.