Bolsonaro mandou Mauro Cid vender ilegalmente o Rolex. E o dinheiro foi entregue ao “mito” ou à mulher dele. É o que o ajudante de ordem dirá à PF, garante o advogado
Desde que o advogado do “faz-tudo” de Bolsonaro, Mauro Cid, informou na quinta-feira (17) que seu cliente iria esclarecer à Policia Federal que ele não vendeu o relógio Rolex cravejado de ouro por conta própria, mas sim porque o seu chefe mandou, o bolsonarismo entrou em polvorosa.
Bolsonaro saiu dizendo em entrevista à TV Bandeirantes na sexta-feira (18) que a estratégia de Mauro Cid era “kamikaze” e que o que ele falasse seria “de sua total responsabilidade”. Soube-se que Bolsonaro enviou seu advogado para um encontro com o advogado de Mauro Cid assim que veio a público as declarações deste à revista Veja. Este fatos explica o vai-e-vem do advogado de Cida na manhã desta sexta.
Bolsonaro seguiu atacando seu ex-auxiliar. “Ele (Cid) tinha autonomia”, disse Bolsonaro em Abadiânia (GO), cidade a caminho de Goiânia, onde o ex-presidente será homenageado nesta noite. A conversa com a reportagem ocorreu enquanto Bolsonaro comia um pão com manteiga acompanhado de café com leite em uma panificadora da cidade.
A estratégia de Bolsonaro de abandonar seu ex-ajudante de ordem à própria sorte indignou os familiares de Mauro Cid. Até agora o tenente-coronel Mauro Cid vinha segurando a barra dos crimes de Bolsonaro, tanto em relação às vendas ilegais da joias quanto às armações golpistas do Planalto. Mas o seu chefe não demonstrou a mesma solidariedade com seu subordinado quando os escândalos vieram à tona.
Quando a carreira de seu pai, o general Mauro César Lourena Cid, passou a se desgastar publicamente, por conta do envolvimento, tanto dele próprio quanto de seu filho, nos crimes cometidos pelo ex-presidente, a coisa se modificou. O tenente-coronel resolveu admitir para a PF que as ordens das ilegalidades vinham de Bolsonaro.
Na manhã desta sexta-feira (18), o Estadão noticiou que o advogado Cezar Bittencourt teria voltado atrás de sua entrevista à revista Veja no dia anterior e que Mauro Cid não iria mais acusar Bolsonaro de ter pedido para que ele vendesse o relógio Rolex. Em entrevista à Globonews no início da tarde, Bittencourt acabou confirmando que o Rolex foi vendido a pedido de Bolsonaro e que o dinheiro foi entregue ou a ele ou a Michelle Bolsonaro.
O advogado de Mauro Cid fez questão de dizer que falava apenas sobre o Rolex e não sobre as demais joias. Ele descreveu o pedido de Bolsonaro como um pedido para que Cid “resolvesse o problema do relógio”. Perguntado se Mauro Cid poderia ter vendido o relógio por conta própria, o defensor do ajudante de ordens disse que nenhum assessor toma decisões sem o pedido ou a concordância de seu chefe.
Sobre o dinheiro obtido com a venda do Rolex, carca de 30 mil dólares, Cezar Bittencourt afirmou que ele foi “devolvido a quem de direito”. O relógio tinha sido dado a Bolsonaro pelos árabes e deveria compor o patrimônio do Estado. Ele confirmou que o dinheiro da venda ilegal foi entregue em dinheiro vivo. Ele não soube responder se o dinheiro foi entregue em mãos para Jair Bolsonaro ou para Michelle Bolsonaro.
Segundo a reportagem da Veja, o fato que fez Mauro Cid falar a verdade foi o envolvimento de seu pai, o general Mauro César Lourena Cid, no esquema das joias ilegais. A Polícia Federal identificou que cerca de 15 mil dólares da venda do Rolex foram depositados na conta do general. O pai de Mauro Cid passou a desabafar com amigos que não pensava em terminar sua vida preso, e entrou em depressão.
Quando foram divulgadas as informações de que o próprio pai estaria envolvido na negociação das joias, amigos do general se sentiram traídos por ele. Diante da exposição do pai, Mauro Cid decidiu mudar de estratégia. Ele vai acusar Bolsonaro, dizer que o pai é “inocente” no caso. Dirá que o país foi envolvido nas negociações por ele e que acabou “emprestando” sua conta a seu pedido, para fazer transações bancárias da venda das joias.
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