A Polícia Federal investiga a suspeita de que duas empresas tenham sido usadas para desviar recursos da construção da Cidade Administrativa, sede do governo de Minas Gerais em Belo Horizonte, para campanhas do então governador Aécio Neves (PSDB). A obra, orçada em R$ 900 milhões, custou mais de R$ 1,8 bilhão, segundo cálculos do Tribunal de Contas do Estado.
O esquema de desvio dinheiro foi denunciado pelo ex-diretor superintendente da Odebrecht em Minas Gerais, Sérgio Neves, em acordo de colaboração premiada com a Justiça no final de 2016.
Segundo o depoimento de Sérgio Neves, o então presidente da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, Oswaldo Borges, determinou que 3% de um contrato de R$ 360 milhões com as empresas Odebrecht, Queiroz Galvão e a OAS iriam para futuras campanhas políticas do tucano.
O ex-executivo da Odebrecht relatou que Borges intermediou o esquema antes mesmo da licitação. “Ele determinou que adicionalmente nós deveríamos contemplar duas empresas locais”, disse Sérgio Neves.
As duas empresas, denominadas Cowan e a Alicerce, foram subcontratadas, mas não prestaram qualquer serviço. “Custou R$ 5 milhões no contrato. Fizemos um contrato para a prestação de serviço de R$ 5 milhões fictícios. (…) Fictícios, sem a prestação de serviço com a Cowan e R$ 2,6 milhões com a Alicerce, um contrato de consultoria sem a prestação de serviços”, contou o colaborador.
Em uma nota fiscal da Cowan de R$ 4,6 milhões, por exemplo, estão relacionados vários equipamentos, como guindastes e caminhão betoneira, que teriam sido locados para o consórcio. Um documento da Alicerce, no valor R$ 608 mil, se refere a prestação de serviços de consultoria.
O depoimento de outro executivo da Odebrecht, Carlos Berardo Zaeyen, que era o responsável pelos contratos do consórcio, reforça as suspeitas. Ele disse à PF que não tem conhecimento de prestação de serviços da Alicerce e nem da utilização de equipamentos da Cowan na Cidade Administrativa.