Um jovem de 16 anos foi morto a tiros pela Polícia sul-africana na noite de segunda-feira (23), na cidade de Mahikeng, durante um protesto contra os escândalos de corrupção e a miséria generalizada por todo o país. “Nós queremos que o presidente demita o primeiro-ministro da província, Supra Mahumapelo, por ele estar atolado na corrupção”, afirmou o trabalhador da construção civil Oratile Seadira, de 25 anos.
“Não temos nada. Não temos casa. Não há boas escolas e não temos hospital. As pessoas estão dizendo que vão incendiar a cidade inteira se ele não for demitido”, arrematou o trabalhador furioso. Embora seja do setor da construção, Seadira vive em uma favela nos arredores da cidade.
As manifestações na cidade de Mahikeng tiveram início na sexta passada e deixaram um cenário de destruição e violência, com caminhões, postos de gasolina e comércios depredados ou incendiados. Dado o clima de guerra civil instalado na cidade, somado a elevada insatisfação nacional com os altos índices de pobreza e os escândalos de corrupção, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, suspendeu sua participação na Comunidade das Nações, em Londres, e retornou apressadamente para seu país, ainda na sexta passada.
“Nós conclamamos a todo nosso povo: Vamos ficar calmos que esse assunto será resolvido!”, disse Ramaphosa após reunir-se com diversas lideranças locais do seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC, nas siglas em inglês). Em seu esforço para resolver as tensões na cidade, o presidente que vai ampliar a interação do governo com os líderes comunitários, porém nada falou sobre a demissão de Supra ou da adoção de medidas para melhorar as condições de vida dos moradores locais.
“Nós fomos negligenciados. Queremos que Cyril Ramaphosa venha e veja como vivemos e se arraste na lama como nós”, disse Miriam Visage (52), que mora em um barraco de dois cômodos com seus seis filhos e sete netos. Para ela, “o ANC está cheio de promessas vazias”. Sobre a repressão policial, ela afirmou: “estamos nos manifestando pacificamente”, enquanto a policia, desde o início das manifestações, vem abusando da violência e em diversos momentos dispararam suas armas de fogo contra os manifestantes. “Eles acham que somos animais selvagens para nos fuzilar?”
As acusações contra Supra envolvem diversos casos de corrupção, a exemplo da bolsa de estudos dada a seu próprio filho no valor de um milhão de rands (70 mil euros), de sua participação no esquema de compra ilegal de gado para Zuma, de quem é um forte aliado, além de seu envolvimento no colapso do sistema de saúde regional.
A África do Sul vive um momento de grande tensão social, com 28% de sua população desempregada, acesso restrito aos serviços de saúde e educação e limitações na distribuição de água e eletricidade, além de um grande déficit de moradia digna.
GABRIEL CRUZ