“Já se começa a perceber ruído no governo, com esse plano de investimentos em infraestrutura do Braga Netto”, diz Fabio Terra, presidente da Associação Keynesiana Brasileira
O presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), Fabio Terra, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo que os exemplos mundiais e a ineficácia das políticas econômicas adotadas no Brasil para enfrentamento da crise do coronavírus começam a escantear a agenda de Paulo Guedes – pautada no arrocho fiscal e nas privatizações.
“A agenda ultraliberal do Paulo Paulo Guedes está sendo jogada para nocaute, contra as cordas”, diz o professor da Universidade Federal do ABC. “Já se começa a perceber ruído no governo, com esse plano de investimentos em infraestrutura do Braga Netto”.
Essa é a saída que o dirigente da associação de estudos sobre o economista britânico John Maynard Keynes defende: atuação forte do Estado, com aumento dos gastos públicos, especialmente nos momentos de crise.
“Crise significa que o setor privado está saindo de cena. Nesta hora, o Estado precisa balancear”, diz, adicionando que é um problema “ser keynesiano” apenas na crise. “A importância do Estado não é quando a crise aconteceu, é também evitar que aconteça. O que é bem diferente do que aconteceu no Brasil até agora. A gente está muito atrasado”.
Diversos países do mundo estão fazendo esforços fiscais para conter a crise – e o consequente desemprego, quebradeira das empresas e falta de renda – que beiram os 20% de seus PIB’s (Produto Interno Bruto). Aqui no Brasil, o Ministério da Economia comandado por Paulo Guedes, ao contrário, insiste que a saída será a manutenção da política econômica que já estava colocando o país no fundo do poço, antes mesmo da pandemia.
De acordo com a equipe econômica de Bolsonaro, é o setor privado que vai fazer reerguer a economia e que o papel do Estado será incentivar investimentos através das privatizações e reformas – ignorando que no pós-crise, é improvável que exista empresário com condições de investir. Terra adiciona: “privatização logo após uma crise é muito ruim para o setor público, porque o preço das empresas vai estar muito baixo. Imagina vender agora uma Eletrobrás”.
Sobre o argumento de que não há dinheiro para colocar na economia, o presidente da associação keynesiana defende que as regras fiscais sejam flexibilizadas e o a PEC do Teto de Gastos, suspensa.
“A gente tem visto que fazer o ajuste fiscal não vai levar a crescimento . Aprovamos a PEC do Teto em 2016 e o crescimento não sai de 1%. Defendo revogar”, disse na entrevista.
“A gente vai bater no fundo do poço este ano e deve permanecer lá até o final do ano. E no primeiro trimestre do ano que vem, talvez comecemos a sair. Mas tem uma condição, que é o setor público já neste instante estar participando da atividade econômica de maneira mais intensa”.