“Agente da CIA agiu certo ao denunciar Trump”, diz Joseph Maguire em sessão sobre impeachment

Joseph Maguire, diretor de Inteligêncial dos EUA, depõe no Congresso sobre conversa imprópria de Trump com Zelensky, presidente da Ucrânia. (Foto: Brendan Smialowski/AFP)

Em depoimento na quinta-feira (26) ao comitê de Inteligência da Câmara de deputados dos EUA, sobre a revelação de que no dia 25 de julho o presidente Donald Trump telefonou ao novo presidente ucraniano para pressionar por uma investigação contra o ex-vice-presidente e agora pré-candidato a 2020, Joe Biden (e seu filho), o diretor interino de Inteligência Nacional, Joseph Maguire, disse acreditar que o denunciante – identificado pelo The New York Times como um “agente da CIA” – agiu de “boa fé” e seguiu a lei ao apresentar a denúncia.

Maguire testemunhou sobre o documento depois de se recusar por semanas a compartilhá-lo com o Congresso, conforme exige a lei federal. Ao presidente do comitê, o democrata Adam Schiff, Maguire explicou que por uma questão de “prudência” consultara previamente a advocacia da Casa Branca para determinar se o relatório incluía informações protegidas por privilégios de executivos presidenciais.

Na terça-feira (24), a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, anunciou a abertura de uma investigação de impeachment contra Trump, com base na denúncia. Acuado, o governo Trump se viu forçado a publicar um resumo do telefonema para Volodymyr Zelensky.

“CASO URGENTE”

Maguire disse ainda considerar o caso “sem precedentes” e “urgente”, mas que seu trabalho é “cumprir a lei”. Quanto ao que foi conversado com Trump, alegou “sigilo” em decorrência de sua condição de diretor da Inteligência Nacional. “Seria impróprio para mim, porque destruiria minha relação com o presidente em questões de Inteligência, divulgar o conteúdo de nossas conversas”, acrescentou.

A oposição democrata acusa Trump de tentar prejudicar um concorrente na eleição utilizando um governo estrangeiro e de pôr em risco as instituições democráticas e a segurança nacional dos EUA. Para Schiff, Trump “traiu seu juramento de defender nossa segurança nacional e traiu seu juramento de defender a Constituição”.

O comportamento do presidente “mina a integridade de nossas eleições, a dignidade do posto e nossa segurança nacional … e isso confirma a necessidade de inquérito de impeachment”, enfatizou Pelosi.

Já Trump, em reunião com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, Trump disse que a presidente da Câmara “perde seu tempo com uma crise fabricada”.

O denunciante, em sua carta, admite que não ouviu diretamente a conversa telefônica, mas que tem razões para acreditar que os demais agentes que a relataram estavam dizendo a verdade. “Considerei as descrições desses eventos pelos meus colegas verídicas porque, em quase todos os casos, múltiplos agentes recontaram padrões de fatos que eram consistentes um com o outro”.

Admissão que foi ironizada em tuitada de Trump: “um informante com informações de segunda mão? Outra fake news! Outra caça às bruxas!” As ações em favor de Trump incluiriam seu advogado pessoal, o ex-prefeito de Nova Iorque, Rudi Giuliani, e o procurador-geral William Barr.

O presidente também está sendo acusado de ter bloqueado a liberação de US$ 400 milhões para o governo ucraniano, enquanto Zelensky não mostrou toda a boa vontade requerida. Mas a Casa Branca diz que Kiev não sabia disso no dia do telefonema.

Ainda segundo o agente da CIA denunciante, altos funcionários da Casa Branca tentaram bloquear todos os detalhes do telefonema entre Trump e Zelensky. A transcrição da chamada foi movida para um sistema separado usado para informações classificadas, ao invés de armazenada no sistema de computador usual.

ROTEIRO DE ESPIONAGEM

Ainda de acordo com o denunciante, Zelensky se reuniu no dia seguinte da chamada, com dois emissários de Trump, o representante especial para a Ucrânia, Kurt Volker, e o embaixador norte-americano junto à União Europeia, Gordon Sondland. Uma semana depois, Giuliani viajou a Madri para se encontrar com emissários de Zelensky. Em maio, a embaixadora nomeada por Obama foi mandada de volta a Washington. A denúncia também diz que o portal The Hill desde março vinha registrando movimentos do governo Trump quanto a relacionar a Ucrânia com o Russiagate.

Embora a parte da denúncia de nove páginas que a oposição democrata está centrando seu fogo seja sobre o pedido a Zelensky para investigar Biden, a conversa, que ocorreu no dia seguinte ao procurador especial Robert Mueller fechar o Russiagate, começa com Trump dizendo saber que o governo ucraniano anterior [Poroshenko] estaria envolvido em forjar o Russiagate, através da Crowdstrike, a empresa que declarou que hackers russos teriam invadido o computador do Diretório Nacional Democrata. “Gostaria que você nos fizesse um favor”, diz Trump na teleconferência, comentando que “nosso país passou por muita coisa e a Ucrânia sabe muito sobre isso”. Inclusive solicita de Zelensky os servidores [computadores] usados n a operação.

A.P.

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