Agiotagem suga R$ 1 trilhão do orçamento e cínicos culpam “gastos” sociais por desequilíbrio

Foto: José Cruz/Agência Brasil

São bilhões de recursos – da saúde, educação, segurança, habitação e investimentos púbicos – transferidos para bancos e demais rentistas

Em 12 meses até outubro deste ano, o gasto do setor público consolidado (União, Estados/municípios e estatais) com o pagamento de juros atingiu a soma de R$ 987,2 bilhões, o que corresponde a 7,88% do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) do Brasil. No mesmo período de 2024, essa despesa estava em R$ 869,3 bilhões. Os dados são do relatório de “Estatísticas Fiscais”, do Banco Central (BC), divulgado nesta sexta-feira (28).   

Ou seja, de um ano para o outro, foram transferidos 117,9 bilhões a mais do orçamento público- dinheiro de toda sociedade – via juros – a bancos e demais rentistas, devido à decisão do BC de aumentar os juros base da economia (Selic) para 15%.  

Apenas no mês de outubro, o orçamento público foi sangrado em R$ 113,9 bilhões. Por consequência, a dívida pública (considerando Governo Federal, o INSS e os governos estaduais e municipais) atingiu 78,6% do PIB (R$9,9 trilhões) no mês.   

“Essa evolução no mês”, destaca o próprio BC, “foi decorrente, sobretudo, dos juros nominais apropriados (0,9 p.p.) e da variação do PIB nominal (-0,3 p.p.)”. No ano, “a DBGG [Dívida Bruta do Governo Geral] elevou-se 2,1 p.p. do PIB, em função, principalmente, da incorporação de juros nominais (7,4 p.p.)”, diz trecho do relatório.  

Apesar do aumento da extração da renda da sociedade para o setor financeiro, do crédito em níveis escorchantes às empresas produtivas e aos consumidores brasileiros, da forte desaceleração da economia e do declínio da geração dos empregos de qualidade no Brasil, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, voltou a afirmar que o BC não tem nenhum interesse em reduzir os juros.   

“Não é de hoje que o Brasil tem as taxas de juros mais altas quando comparado aos seus pares”, afirmou Galípolo, em um evento online promovido pelo banco Itaú.  

“Esse é o mandato do Banco Central, vamos colocar a taxa de juros no patamar que é necessário, pelo tempo que for necessário”, disse Galípolo, que usa agora como álibi, o argumento de que o BC tem que perseguir o centro da meta de inflação, que é de 3%, desprezando o seu o intervalo de tolerância legal de 1,5 a mais (ou seja, em 4,5% a meta estaria cumprida).  

Nesta semana, o IBGE divulgou que o indicador prévio de inflação (IPCA-15), em 12 meses até novembro deste ano, ficou em 4,50%, sendo abaixo dos 4,94% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Até os bancos já estão reconhecendo que a inflação deve ficar abaixo de 4,5% em dezembro deste ano, de acordo com o boletim Focus do Banco Central (BC), que mostra o ponto médio das expectativas de inflação. 

Com a manutenção da Selic em 15%, o juro real (descontada a inflação) segue sangrando o setor produtivo, empresários e trabalhadores, e sufocando as famílias brasileiras.

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Respostas de 3

    1. Amigo.

      Em primeiro lugar, eu digo que não estou aqui para bancar o advogado do PT, até porque não sou filiado a qualquer partido. Contudo, dá para afirmarmos que, em grande medida, o governo Lula III – assim como o Lula I e o Lula II e os de Dilma Roussef – foi obrigado a se tornar refém dos rentistas.

      Isto porque, lamentavelmente, grande parcela do nosso povo ainda não conseguiu entender que o poder não é exercido apenas pelo Executivo – seja ele federal ou estadual – mas, também pelo parlamento. E nas eleições em que venceram, Lula e Dilma tiveram que assumir em minoria no Congresso Nacional.

      Se tivessem maioria no parlamento, Lula e Dilma poderiam ter feito – não sei afirmar se enviariam mesmo, mas, poderiam enviar – propostas no sentido de reduzir drasticamente os juros. Porém, com uma maioria de direita no Congresso Nacional, maioria que sempre defende o rentismo, não havia correlação de forças favoráveis para à aprovação de proposta desse tipo.

      Em segundo lugar, creio que o que afirmei anteriormente já serve para demonstrar que não há qualquer possibilidade de termos sucesso na implementação das mudanças de que necessitamos urgentemente no Brasil, se apostarmos numa só pessoa, como tu estás a fazer com Ciro Gomes.

      Se conseguir ser eleito e não tiver uma maioria no Congresso Nacional, tal qual os presidentes eleitos pelo PT, o teu candidato preferido também ficará totalmente refém dos rentistas.

      Isto se Ciro realmente tiver disposição de mudar o que aí está. Se tivesse disposição, teria ficado no PDT e recolocado o partido “nos trilhos”, no caminho proposto pelo grande Leonel Brizola.

      O PSDB sempre governou apenas para atender aos interesses do grande capital; esse partido não tem qualquer compromisso com os anseios da grande maioria (95% ou mais) do povo brasileiro. Assim, como é que Ciro pretende ser diferente e mudar o país para melhor estando filiado a um partido desses?

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