Exportação bate recorde e preço do produto consumido diariamente pelos brasileiros explode nas prateleiras dos supermercados
Depois do feijão com arroz, outra tradicional combinação do brasileiro vai ficar ainda mais cara. Trata-se do café com leite. O café deve chegar à mesa das famílias brasileiras entre 35% e 40% mais caro em setembro, antecipam estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). O impacto das condições climáticas nas safras contribui para a inflação do produto, mas é a política econômica que dirige a produção para as exportações o principal fator para os preços proibitivos.
No acumulado de 12 meses até julho, o consumidor brasileiro viu o café moído subir 13,21%, enquanto o solúvel avançou 3,69%, conforme dados do IPCA, o índice oficial de inflação do país. O leite longa vida teve uma alta de 11,29% no período.
“Este ano, há uma soma de fatores como não se via desde o início da década de 1990. O dólar está extremamente alto, o que, ao mesmo tempo que eleva os custos de produção, amplia a demanda externa [ao tornar o produto brasileiro financeiramente mais atraente]. Além disso, após colhermos uma excelente safra em 2020, a produção, que este ano já seria menor, foi prejudicada pela falta de chuvas e por sucessivas geadas”, disse o diretor-executivo da Abic, Celírio Inácio para reportagem da Agência Brasil.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP) mostram que a saca de café arábica tipo 6 estava sendo comercializada a R$ 1.032,50 neste mês. Há um ano, o valor da saca era de R$ 566,51.
“Com tudo isto, a indústria é pressionada a repassar o preço ao varejo”, acrescentou Inácio, destacando que, entre dezembro de 2020 e julho de 2021, os custos da matéria-prima utilizada no plantio aumentou, em média, 82%. Já o preço do café, segundo ele, subiu, nas prateleiras, cerca de 16%, enquanto outros produtos alimentícios considerados básicos, como o arroz e o óleo de soja, também dispararam. “Mas este aumento de 35% a 40% que estamos estimando é considerando o momento atual”.
A safra atual deve ser 22,6% menor do que na temporada anterior, o que, segundo especialistas, não será nenhuma novidade. A principal característica do cultivo do café é a bienalidade, ou seja, já prevê um ano de alta produtividade, intercalando com outro de menor volume. O que mudou é a falta de prioridade para o mercado interno. Em um período de geadas e secas, que segundo estimativas do próprio Ministério da Agricultura atingiu cerca de 200 mil hectares de cafezais, o planejamento estratégico é fundamental.
Com o prejuízo das geadas, dos custos de produção e da entressafra, o que sobra para produção está indo para fora e o que fica para o mercado interno é vendido a preços absurdos. Cerca de 70% de toda a produção nacional, a maior do mundo, é atualmente exportada para outros países.