Com o avanço da vacinação no país, a maioria das escolas públicas do país deve reabrir para aulas presenciais no mês de agosto. Até agora, 23 estados e o Distrito Federal já anunciaram o retorno das aulas presenciais.
Apenas Paraíba e Acre têm previsão de retorno em setembro, quando a vacinação dos professores deve incluir a segunda dose. Roraima é o único estado sem data prevista. Os estados adotaram modelos de retorno diferente: alguns de forma 100% presencial e outros na modalidade híbrida, que mescla atividades na escola e outras remotas. Em São Paulo, o governo permitiu a volta de 100% dos alunos desde que as escolas possuam espaço para garantir a segurança de todos.
No Rio de Janeiro, o retorno terá restrições que variam entre 40% e 75% dos alunos. Minas Gerais, Bahia, Tocantins, Sergipe, Alagoas e Amazonas devem receber apenas metade dos estudantes.
Retorno em São Paulo
O início das aulas do segundo semestre no estado de São Paulo ocorreu nesta segunda-feira (2) com a autorização de até 100% dos alunos em regime presencial. Para funcionar com a capacidade máxima, as unidades precisam garantir o distanciamento mínimo de 1 metro entre as carteiras. O uso de máscara por parte de estudantes e funcionários continua obrigatório.
As escolas que não conseguirem respeitar o distanciamento com todos os alunos presentes podem adotar esquema de rodízio para atender presencialmente todos os matriculados. A exceção é para as creches públicas e privadas, que atendem crianças de 0 a 3 anos, que terão limite de 60% dos alunos atendidos diariamente. Antes, o limite era de 35% do total.
Apesar da autorização de retorno às aulas em 100%, o secretário da Educação, Rossieli Soares, afirmou que 95% das escolas do Estado de São Paulo ainda estão funcionando com algum tipo de revezamento. E neste mês de agosto, a aula presencial ainda será facultativa aos estudantes.
A orientação inclusive é para que os adolescentes e crianças com comorbidades continuem com as aulas remotas até serem vacinadas. Isso deve ocorrer a partir do dia 23 de Agosto.
Rossieli lembrou ainda que todos os profissionais de educação acima de 18 anos receberam a primeira dose da vacina contra Covid-19 em 11 de Junho e devem completar a imunização agora em setembro, mês em que a secretaria de educação fará também nova reavaliação para obrigatoriedade do retorno 100% presencial.
Desde abril, as escolas do estado estão abertas para aulas presenciais, mas a presença dos estudantes estava limitada a 35% do total. No ano passado, as escolas chegaram a reabrir, mas com o avanço da pandemia, em março de 2021, as medidas de restrição foram intensificadas, e as instituições de ensino foram orientadas a receber apenas estudantes em situação vulnerável.
Retomar o tempo perdido
O diretor de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), Lucca Gidra, comemorou a volta às aulas e comentou sobre a importância de manter os cuidados e da volta segura.
“A escola é essencial para a sociedade. Muitas vezes, é o único aparelho de Estado que a criança, o estudante tem de acolhimento e que as famílias têm de apoio. A educação de forma remota não substitui de jeito nenhum a educação presencial. A gente sabe que essa pandemia comprovou que a educação presencial é o método, e é o único método para se ter uma educação que realmente de qualidade”.
“É muito importante e muito necessário esse retorno às aulas. A gente precisa retomar o tempo perdido. Durante a pandemia, muitos estudantes perderam o contato com a educação no geral, perderam o contato com os estudos. Não conseguiram fazer as atividades online, tiveram dificuldade com a educação de forma remota e nada substitui a educação presencial, a educação na sala de aula, o contato com estudantes e o contato com com os professores. E claro, contato com distanciamento, porque as escolas estão tendo um bom nível de segurança necessária para que se tenha o retorno adequado aqui no estado de São Paulo”, concluiu Lucca.
Necessidades psicomotoras
O pediatra Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), lembra que muitas crianças não têm acesso à internet – e, quando têm, é só pelo celular.
“Já são situações que limitam muito essa possibilidade [de aula à distância]. As crianças precisam estar num ambiente propício para ter um ensino à distância adequado. Dar uma aula à distância não é a mesma coisa que aula presencial. Tem que ter capacitação dos professores para conseguir isso. É possível captar a atenção [das crianças] através dessas aulas? Sim, é possível, mas requer uma técnica muito mais apurada. Não é tão simples assim. Além de todos esses fatores, tem a questão do tempo de tela. Isso também é um problema, a gente sabe”, pontua.
Por outro lado, ele avalia que mesmo a volta no formato híbrido ainda é melhor do que ter um ensino completamente remoto.
“O que é melhor? Não ter nada ou ter alguma coisa com o ensino híbrido? As crianças estão extremamente prejudicadas no desenvolvimento neuropsicomotor. Por pior que seja o ensino híbrido, é melhor do que nada”, diz.
Olavo Nogueira Filho, diretor-executivo do Todos pela Educação, concorda. Além da questão do acesso, ele salienta que o ensino remoto infantil tem “baixíssima efetividade pedagógica”.
“Mesmo que tenha baixa efetividade, cumpre um papel relevante de manutenção do vínculo com o professor, com seus pares. Por isso que é importante lançar mão disso num cenário em que as escolas não podem abrir. É a melhor opção. Mas tem que entender que o ensino remoto é uma solução emergencial – dura um tempo limitado. No Brasil, estamos falando de quase 16 meses de escolas fechadas”, lembra.
Mas, no caso dos alunos menores, essa manutenção do vínculo remotamente não é tão eficaz, explica.
“Do ponto de vista dos [alunos] menores, é claro que a solução remota tem ainda menos eficácia – mesmo no que diz respeito à manutenção do vínculo. O que os especialistas indicam, mais do que soluções tecnológicas, [é que] o que deve se estimular são atividades físicas – em que a própria família possa ajudar”, diz.
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