Com Cuba há oito anos – somando os mandatos de Trump e de Biden – sob um agravamento tão brutal do bloqueio econômico dos EUA a ponto de ter dificuldade até mesmo de importar petróleo para as termelétricas, o sistema elétrico cubano entrou em colapso na sexta-feira, nas vésperas da chegada do furacão Oscar, e só na segunda-feira (21) logrou-se restaurar a eletricidade de 90% dos domicílios de Havana, enquanto na ilha inteira continuam os esforços para superar a emergência energética, com a retomada se dando por regiões.
O apagão é a manifestação mais crua da gravidade da agressão econômica dos EUA contra a população cubana do cruel bloqueio que há 32 anos vem sendo repudiado por quase unanimidade na Assembleia Geral anual da ONU.
“O colapso do sistema de energia é mais uma demonstração de todos os problemas que o bloqueio nos causa”, afirmou o presidente Miguel Díaz-Canel. “Tudo acontece por causa das divisas que não temos, devido à perseguição financeira e do combustível que não temos por causa da sabotagem energética”, acrescentou.
Ele também agradeceu às manifestações, pelo México, Venezuela, Colômbia e Rússia, de prontidão para apoiar a restauração do fornecimento de energia elétrica na Ilha, com combustível e especialistas.
Sob as leis de intensificação do bloqueio dos anos Clinton, o navio que aportar em Cuba fica proibido por seis meses de ingressar nos EUA. Sob as “regulamentações” de Trump, que Biden manteve, o petróleo tem que ser pago em cash no momento da entrega e não adianta ter dinheiro em conta bancária, porque Cuba é excluída do sistema de pagamentos controlado por Washington.
“Os combustíveis são pagos em dinheiro, e muitas vezes tendo dinheiro nos bancos não podemos fazer as transações porque ninguém quer aceitá-los. Foi o que nos aconteceu com o navio de gás liquefeito de petróleo, que esteve atracado durante quase um mês”, disse o ministro de Minas e Energia de Cuba, Vicente Levy.
O bloqueio também dificulta ao extremo a compra de peças de reposição para a geração e distribuição, com as unidades mais novas do sistema em operação “há mais de 35 anos” e mantidas em funcionamento graças ao esforço dos técnicos cubanos.
Analistas têm advertido que a atual situação em Cuba é mais deletéria do que no então chamado “período especial”, logo após a queda da União Soviética. O colapso de sexta-feira vinha sendo antecedido por apagões na Ilha inteira. No domingo, registrou uma internauta, “a Lua era a única luz que iluminava a noite cubana”.
Como assinalaram os engenheiros responsáveis pelo sistema de energia de Cuba, o reestabelecimento é complexo pois envolve diagnóstico dos problemas nas termelétricas e a retomada tem que equilibrar fornecimento e consumo para evitar oscilações que voltem a fazer o sistema colapsar. Para isso as termelétricas devem retomar a produção conjuntamente e conectadas entre si.
No relatório que fundamenta a proposta à ONU de repúdio ao bloqueio norte-americano, o governo cubano denuncia as “atualizações” sob Trump das sanções, passando a exigir “licenças ou autorizações específicas” e pagamentos “em dinheiro e adiantado”, o que diminuiu as importações de alimentos dos Estados Unidos, aprovadas sob legislação em 2000.
Outra medida absurda foi a designação de Cuba como “Estado Patrocinador do Terrorismo” (SSOT, no jargão de Washington), dificultando ainda mais à Ilha realizar transações financeiras e bancárias, comércio exterior e acesso a crédito.
Uma calúnia contra Cuba, por sediar negociações de paz entre o governo colombiano e organizações guerrilheiras, medida perpetrada por Trump e que Biden manteve.
A falseta é utilizada para restringir a entrada de turistas em Cuba, principal fonte de divisas para o país. Os EUA oferecem seu Programa de Isenção de Vistos para viajantes de 42 países, mas as pessoas que visitam Cuba não são elegíveis para visitar os EUA, devido à sua designação SSOT.
Como reitera o relatório de Havana, o “o governo dos Estados Unidos usou o turismo, a principal fonte de renda do país, como uma arma política contra Cuba. Em 2023, Cuba recebeu 2.436.980 visitantes internacionais, o que representa 57% do número alcançado em 2019.”
Na segunda-feira, o presidente Díaz-Canel, que está pessoalmente coordenando o restabelecimento do sistema elétrico nacional cubano, anunciou que não irá a Kazan para a cúpula dos BRICS em razão do apagão e das providências necessárias, bem como da passagem, por Cuba, do furacão Oscar, que virou uma tempestade tropical, mas ainda assim matou seis pessoas.
A religação vem sendo feita paulatinamente, por regiões, para lograr estabilização, depois que duas tentativas redundaram em retorno à queda de energia. Nessa reativação, a prioridade é atender hospitais e instalações de fornecimento de água. Unidades geradoras foram distribuídas pelo país de forma emergencial. Todas as atividades não essenciais e aulas estão suspensas até quarta-feira.