Alertando que a Otan, viu a “agressão contra a Iugoslávia como uma guerra de porta aberta, para cercar e buscar a desestabilização da Rússia e China, o que foi seguido por posteriores ações, a exemplo do golpe fascista da Ucrânia”, Klaus Hartman, diretor do Comitê Internacional Slobodan Milosevic, apresentou sua contribuição à Conferência Internacional por Paz e Progresso ao Invés de Guerra e Pobreza”, realizada em Belgrado nos dias 22 e 23 de março de 2019. Seguem-se trechos do trabalho de Hartman denominado “20 anos de destruição da coexistência baseada nas normas internacionais”
KLAUS HARTMAN
Alertando que a Otan, viu a “agressão contra a Iugoslávia como uma guerra de porta aberta, para cercar e buscar a desestabilização da Rússia e China, o que foi seguido por posteriores ações, a exemplo do golpe fascista da Ucrânia”, Klaus Hartman, diretor do Comitê Internacional Slobodan Milosevic, apresentou sua contribuição à Conferência Internacional por Paz e Progresso ao Invés de Guerra e Pobreza”, realizada em Belgrado nos dias 22 e 23 de março de 2019. Seguem-se trechos do trabalho de Hartman denominado “20 anos de destruição da coexistência baseada nas normas internacionais”
“Em todas as ocasiões, a União Europeia (UE) declara que é a garantidora da paz na Europa, que tem assegurado muitas décadas de paz no continente.”
Daí se conclui que ou miseravelmente faltam à UE conhecimentos básicos de geografia, porque a Iugoslávia estava sem sombra de dúvida na Europa; ou esta “união” sofre de demência em estado avançado.
Provavelmente, ambas as suposições estão erradas; o que eles querem é apenas fazer com que o povo esqueça o escândalo, a desilusão. A grande maioria dos países membros da Otan, que participaram da agressão à Iugoslávia eram membros da União Europeia.
Enquanto a integração como membro da Otan está fora de questão para a vasta maioria da população da Sérvia, a questão das relações da Sérvia com a União Europeia parece que não foi respondida com suficiente clareza. É por isso que eu gostaria de tornar claro que, em termos militares, a União Europeia não é fundamentalmente diferente da Otan.
Para se tornar membro da União Europeia, a Sérvia teria primeiramente que admitir a rendição de suas províncias do Kosovo e de Metohija. A Sérvia perderia sua soberania em determinar o seu próprio orçamento nacional, que assim deixaria de ser decidido em Belgrado, para que a decisão passasse a ser tomada em Bruxelas.
Da mesma forma, sua independência nacional, sua soberania em termos do direito a busca de sua própria política externa seria perdida. Como membro da União Europeia, teria que se submeter a aceitar as sanções impostas à Síria, assim como à Rússia.
Além disso, deve ficar alerta a população sérvia, de que a associação à União Europeia também significa a obrigação de “integração militar” à UE. E isso sob o comando da Otan.
A guerra de agressão contra a Iugoslávia foi a primeira guerra na Europa desde 1945, um ponto de virada na história do pós-guerra. A Iugoslávia não tinha atacado nenhum outro país. Foi a primeira guerra aberta da Otan, não precedida por uma declaração de guerra. A Otan usou força militar sem um mandado da ONU e, portanto, cometeu uma agressão em violação da lei internacional. A Operação Força Aliada foi lançada sem recurso à clausula de defesa coletiva, que até ali era considerada a base para uma operação da Otan. Também foi a primeira guerra da Otan desencadeada em território fora da entidade.
O Dr. Reinhard Mutz, vice-diretor do Instituto para a Pesquisa da Paz e Política de Segurança da Universidade de Hamburgo disse, à época: “Qualquer um que proceda com violência em transações interestatais, para sua própria satisfação e para aplicar suas regras a todos, está exercendo força ilegítima… O Ocidente está abatendo a machadadas as fundações de sua própria civilização, quando deliberadamente mina a lei internacional. De tal modo que aí, os fins não justificam os meios, na verdade os meios degradam os fins”.
A União Mundial dos Livre Pensadores declarou, em 5 de junho de 1999, em sua conferência em Munique: “A guerra contra a Iugoslávia viola a Carta das Nações Unidas e tem causado imenso dano à lei internacional, que emergiu depois da libertação do fascismo em 1945 com base nos acordos contra a coalizão anti-hitlerista e que estabeleceu uma válida ordem mundial, garantindo a soberania e a igualdade entre todos os Estados e a substitui pelo reino dos sem-lei”.
Naquele momento, nós alertamos que o ataque à Iugoslávia era uma guerra de abertura de portas para futuras agressões. Alguns amigos eram céticos. Eles pensavam que isso era exagero. No entanto, guerras imperialistas de agressão e mudança de regime se seguram, uma após a outra, em um ritmo veloz. Depois do Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, depois das guerras contra o Líbano, no Chifre da África (formado pela Etiópia, Somália, Djibuti, Quênia e Eritreia e no Mali, o desmembramento do Sudão, a guerra por procuração na Geórgia ou o golpe de Estado na Ucrânia, estes céticos ficaram em silêncio e a agressão à Iugoslávia tornou-se um tópico nas discussões públicas.
Durante seu bombardeio, a própria Otan confirmou a correção da minha conclusão de que a guerra contra a Iugoslávia era uma guerra de “abertura de porta”. Um novo Conceito Estratégico (The Alliance’s Strategic Concept) foi adotado pela Otan em sua Cúpula do 50º Aniversário, em Washington, em 24 de abril de 1999. Este conceito autorizava a Aliança a também se engajar em “operações de resposta a crises” – tal como vinha sendo conduzido naquele momento contra a Iugoslávia – o que não é coberto pelo artigo 5º da Carta da ONU (que diz respeito à defesa territorial): portanto, em violação a sua própria Carta de fundação, agora planeja desencadear guerras “fora dos termos de sua Carta”, e além das fronteiras territoriais da Aliança. A Otan decidiu se transformar em uma aliança internacional de operação da agressão e o ataque à Iugoslávia foi o modelo para a completa abolição das restrições e freios à máquina de guerra da Otan.