O professor Ronaldo Carmona, da ESG, debatedor da 18ª Agrobalsas, uma das maiores feiras do Agro do país, realizada no cerrado maranhense, aponta que o Brasil tornou-se o celeiro do mundo “porque tivemos uma revolução no Agro, uma disrupção possibilitada pela ciência e por valentes brasileiros”
A 18ª Agrobalsas, uma feira realizada no município de Balsas, no cerrado maranhense entre os dias 16 e 20 de maio, sob o lema “Conectividade Cerrado, o grande celeiro”, revela, pelo conteúdo da Carta Agrobalsas 2022 e pela qualidade de seus palestrantes e expositores, que o Agro brasileiro está discutindo seriamente a transformação do Brasil no maior produtor de alimentos do mundo.
Agrobalsas é o maior evento de agronegócio no Maranhão. Nela são oferecidos anualmente desenvolvimento, inovação, transferência de informações nacionais e internacionais e tecnologia avançada. O evento organizado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte, reúne empresários, produtores rurais, pecuaristas, educadores, estudantes, comercio varejistas, prestadores de serviços, dentre outros.
O governador Carlos Brandão (PSB) prestigiou o evento com toda a sua equipe de governo e despachou da região durante a realização da feira. “É um evento que, com certeza, vai mudar a vida das pessoas e em especial do agronegócio”, disse o chefe do Executivo.
O professor Ronaldo Carmona, professor da Escola Superior de Guerra (ESG) e um dos debatedores do evento, com o tema “Demanda dos mercados frente à globalização acelerada”, comenta que o Brasil “já é uma grande potência do Agro, alimentando entre 800 milhões e 1 bilhão de pessoas, segundo diferentes estudos”.
“Há pouco mais de quatro décadas, éramos importadores de alimentos. Tivemos uma revolução no Agro, uma disrupção possibilitada pela ciência e por valentes brasileiros”, destaca o professor. Ele acrescenta que “o cerrado do Matopiba é a nova fronteira de expansão do Agro brasileiro, pois possui ao mesmo tempo disponibilidade potencial de terra, recursos hídricos e uma condição logística, sobretudo pelos portos da Baía de São Marcos (em São Luiz do Maranhão), que é importante diferencial competitivo”.
O professor Carmona assinala os desafios que o Brasil e o mundo enfrentam depois que a guerra expôs a fragilidade relacionada à dependência de fertilizantes estrangeiros, “mesmo o país possuindo reservas de potássio para centenas e anos, como se estima”. “Mas essas reservas estão bloqueadas à atividade econômica, numa sabotagem ao interesse nacional”, opina o especialista.
O especialista defende também que é preciso que se retire do contexto os pretextos muitas vezes ambientais, segundo ele, que países concorrentes tentam impor como narrativa dominante. “O Agro brasileiro contribui com o meio ambiente, por exemplo, pela exigência da reserva legal, restrição que nenhum concorrente nosso possui”, acrescenta.
Ainda em sua opinião, a segurança alimentar passa a ser algo vital para a maioria dos países “pois existem riscos de interrupção de seu fluxo, como vemos com o trigo russo-ucraniano nesta crise atual, cerca de um terço da produção mundial”.
Ele prossegue dizendo que isso pode ser uma vantagem para o Brasil, cuja produção estável e crescente, com novas frentes como a do Matopiba, pode favorecer e ampliar nossa fatia no mercado. “Mas, por outro lado, se intensificarão medidas protecionistas dissimuladas, inclusive “ambientais”. O fato é que começamos a viver um cenário de desglobalização, e de prevalência da segurança nacional em detrimento aos custos de produção, antes determinantes. Um quadro bastante complexo”, conclui.
Segue na íntegra a Carta AgroBalsas 2022
Carta da Agrobalsas 2022
Ao concluirmos a maior Agrobalsas de todos os tempos, manifestamos nossas congratulações com todos os que fizeram possível a realização deste grandioso evento que é expressão da força, pujança e potencial do Agro nacional.
A Agrobalsas 2022, transcorrida entre 16 e 20 de maio, teve como lema a conectividade cerrado, o grande celeiro. Foi, portanto, um grande encontro realizado a luz de uma ideia do presente – o grande celeiro do cerrado -, que inspira uma ideia de futuro: um novo salto tecnológico que se inicia com a Quarta Revolução Industrial, que trará a Agricultura 4.0, possibilitando assim, um novo enorme salto de produtividade na produção de alimentos que permitirá a superação da insegurança alimentar em todo o mundo.
O Brasil já dá uma enorme contribuição à alimentação da população mundial. Pesquisas apontam que mais de 800 milhões de pessoas que são alimentadas tendo como base a produção brasileira. E nossa capacidade de expandir esta produção de forma sustentável é expressiva, tendo em vista utilizarmos umaparte diminuta do território brasileiro para o plantio e a pecuária, sobretudo se comparada a outros grandes países produtores agrícolas. Com o salto de produtividade possibilitado pela conectividade, aliada a expansão para novas áreas de plantio em harmonia com a natureza, o Brasil terá condições potencial para atender a grande parte do aumento da demanda por alimentos que o mundo viverá nas próximas décadas.
Essa enorme perspectiva de futuro, contudo, contrasta com as agruras do presente.
Após a grave crise da pandemia, a qual, todavia não foi vencida por completo, vimos eclodir o início deste ano uma guerra de grandes proporções entre a Rússia e a OTAN na Ucrânia. Estes dois eventos traumáticos – pandemia e guerra -, geraram uma situação nova no mundo, na qual, conforme debatido na mesa de abertura desta Agrobalsas, teve como consequência um enorme aumento de pessoas em situação de insegurança alimentar no mundo – na casa de dezenas de milhões, segundo a FAO -, ao tempo em que recrudescem atitudes protecionistas de países, quer restringindo as exportações de alimentos e fertilizantes – causando enorme inflação mundial no preço dos alimentos –, quer impondo novas barreiras protecionistas – na maioria dos casos, utilizando-se de falsos pretextos -, como por exemplo a que se vê atualmente em medidas anunciadas pela Europa.
Associado a estes eventos pandêmicos e de guerra, estão a reorganização das cadeias globais de suprimentos, as quais, explicitam a grave vulnerabilidade derivada da dependência brasileira na importação de fertilizantes, a qual urge o país enfrentar por meio de uma política industrial robusta e urgente.
Em seu conjunto, o mundo assiste ao desenvolvimento de uma Geopolítica do Agro, no qual a produção de alimentos passa a ser um fator de poder nas relações entre as Nações.
Contudo, o Brasil como potência agrícola, contribui a nossa condição de potência ambiental. Nenhum dos grandes produtores agrícolas mundiais impõe a si mesmo restrições que nós brasileiros realizamos em prol do meio ambiente, como atesta nosso Código Florestal. A proposta de uma Reserva Legal foi pela primeira vez proposta pelo Patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva, há 200 anos por ocasião de nossa Independência, cujo Bicentenário celebraremos em setembro próximo.
A Agrobalsas realiza-se na região do MATOPIBA, localizado na interseção dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Estamos convencidos que esta é a nova grande fronteira de expansão do Agro brasileiro. Da “porteira para dentro” isso já é uma realidade.
Porém, “da porteira para fora” inúmeros obstáculos e desafios se apresentam. O primeiro, como nos referimos acima, é o geopolítico. Neste, cabe aos brasileiros desconstruir esta ofensiva de propaganda dos concorrentes, mostrando a verdade ao mundo.
Nossa região, através do trabalho de décadas da FAPCEN, ao chegar a cifra próxima a um milhão de toneladas de soja certificadas, dá um exemplo de que estes falsos pretextos podem ser contrapostos com a demonstração que nossa condição de potência do Agro não se afirma em detrimento do meio ambiente.
Precisamos expandir esta experiência, assim como práticas como a ILFP e o Plano ABC para que não nos acusem, falsamente, do contrário do que efetivamente somos.
Aqui tampouco há contradição entre a moderna agricultura empresarial voltada para a exportação e a agricultura familiar que abastece o mercado interno e é responsável pela segurança alimentar dos brasileiros. A Agrobalsas valoriza e incentiva a agricultura familiar, ciente de seu papel para a paz social e a segurança nacional.
Localizada numa região geográfica diferenciada, as adjacências de Balsas – o Sul do Maranhão, o sul do Piauí e o extremo norte de Tocantins -, poderão ter no diferencial logístico um extraordinário ganho de competitividade. Assim, esta Agrobalsas conclama a solução de grandes problemas logísticos, tais quais:
– a recuperação plena e definitiva da Rodovia MA-006, seja através da federalização ou de um regime de concessão, assim como a efetiva construção do ANEL DA SOJA;
– a construção efetiva da Ferrovia Balsas – Porto Franco, que permitirá acessar, pela Ferrovia Norte-Sul, os Portos de São Luís;
– a efetiva solução da Hidrovia do Parnaíba, a qual permitirá acessar, a partir de Teresina/Timon, a Ferrovia São Luís-Teresina, ou por meio de um Canal, nova via fluvial;
– por fim, novos investimentos no Porto do Itaqui, que permita acabar com as filas que oneram o produtor, por meio da construção de mais berços, aumentos da capacidade de armazenamento e construção da Pêra ferroviária, ajustando sua capacidade de escoamento, assim como, incentivando a construção de novos Portos na Ilha do Maranhão.
Na 9° Mesa Redonda: Conectividade Cerrado, Segurança e a Minimização de Riscos Agropecuários”.
Reivindicam a criação da Delegacia Especializada de Combate a crimes Rurais, em Balsas. Uma iniciativa do Tribunal de Justiça do Maranhão e Corregedoria Geral da Justiça, solicitada pelo Juiz de Direito Titular da 4° Vara Criminal de Balsas, Dr. Douglas Lima da Guia.
Foi reivindicado ao governador do Estado disponibilize um braço do CTA para ficar sediado em balsas e com isso pudesse atender o Sul do Maranhão.
Ao concluir a Agrobalsas 2022, expressamos estas questões relevantes ao Agro brasileiro e de nossa região, as quais, buscaremos enfrentar com a mesma determinação que permitiu fazer surgir, neste outrora árido cerrado, uma região de extraordinário vigor no presente e de renovado e amplo potencial de futuro.
Balsas-MA: 20 de maio de 2022
Gisela Introvini
Superintendente-FAPCEN
Com informações da Fapcen