O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), disse se sentir “muito desconfortável de fazer parte de um partido que tem o Aécio como quadro”, mas que “ainda está em tempo do PSDB expulsá-lo”.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o prefeito reafirmou a posição assumida em julho, de que corruptos condenados devem ser expulsos do partido.
“[Ao não expulsar Aécio, o PSDB] comete o mesmo erro que apontamos no PT. Não expulsa quem foi condenado pela Justiça”. “É muito difícil de explicar o motivo de um cara desses [Aécio] estar no PSDB”, continuou.
Na campanha eleitoral de 2014, na qual Aécio Neves disputou a Presidência, o deputado mineiro recebeu sistematicamente propinas da Odebrecht. Até 2017 foram pelo menos R$ 128 milhões – valor que a Justiça bloqueou.
Em áudios, apareceu negociando propinas milionárias e dizendo que mandaria para receber o valor alguém “que a gente mata antes de fazer delação”.
Em diálogo, gravado com autorização da Justiça, o empresário Joesley Batista, dono da JBS, procura saber de Aécio quem seria o responsável por pegar as malas da propina combinada de R$ 2 milhões.
— Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança — propôs Joesley.
— Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho — respondeu Aécio.
O primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, foi o escolhido para pegar a grana. Frederico Pacheco foi flagrado por câmaras colocadas pela Polícia Federal na sede da JBS recebendo os primeiros R$ 500 mil dos dois milhões acertados por Aécio com Joelsey. Mendherson Souza Lima, ex-assessor parlamentar do senador Zezé Perrela (MDB-MG), foi filmado conduzindo o dinheiro até Belo Horizonte de carro.
Além de corrupção passiva, Aécio é réu por tentativa de obstrução judicial, por ter tentado sabotar as atividades da Operação Lava Jato.
Segundo o prefeito Bruno Covas, se a expulsão de Aécio, que foi requerida pelo Diretório de São Paulo para o Diretório Nacional, não acontecer, ele é quem sairá do partido.
Garantiu, porém, não estar procurando nenhum partido e nem ter sido procurado. “Não estou procurando nenhum partido. Nem fui procurado. Não há nenhuma conversa”.
Na entrevista, também criticou as medidas antiambientais e antissociais de Jair Bolsonaro.
“A gente vê o governo federal demitindo diretor de banco porque o banco faz propaganda para o público LGBT, vê o governo dizendo que não tem desmatamento, mas passa a mão na cabeça de quem faz queimada, vê colando selo de desrespeito ao meio ambiente no produto do agronegócio brasileiro, censurando peça de teatro”, disse o prefeito.
Para ele, “a democracia e as instituições são muito maiores do que a pessoa A ou B”.
Covas comentou sobre a construção de sua candidatura para continuar na Prefeitura de São Paulo. Sua estratégia será construir com o maior número de partidos possível.
“Dez, doze, quinze partidos… Quanto maior o arco de alianças, melhor. Quanto mais você conseguir montar um grupo forte e coeso, melhor para a candidatura. Mas não tem nenhum ‘deadline’ nos próximos dias para fechar”.
“Neste momento, não há nenhuma escolha entre A, B ou C, de quem vai ser o vice do PSDB. Como também não há nenhum veto a nenhum nome”.
Em tratamento de um câncer, o prefeito teve alta médica e deixou o Hospital Sírio Libanês, na região central da capital paulista, na tarde da quarta-feira (18). Ele foi internado na UTI na quarta-feira anterior, dia 11, após um sangramento no fígado durante um procedimento para o tratamento do câncer na cárdia – transição entre o esôfago e o estômago – com metástase no fígado.
Ele voltará ao hospital na proxima semana. “Na próxima sexta-feira realizará ultrassonografia abdominal e fará exames de sangue de controle. Há previsão de nova sessão de quimioterapia no dia 26 de dezembro. Assim como as sessões anteriores, será internado, pois o procedimento tem duração de 30 horas”, informa o boletim médico divulgado na quarta-feira.
Na avaliação da equipe médica, Bruno Covas “está muito bem e pode exercer suas atividades profissionais”.