Os governos de nove Estados fecharam contratos milionários com a empresa israelense de equipamentos de espionagem, Cognyte, desde 2017. Os valores somam pelo menos R$ 57 milhões.
Apenas em Goiás, o governador bolsonarista Ronaldo Caiado pagou R$ 7,6 milhões para rastrear 10 mil aparelhos celulares entre 2020 e 2022, por meio do sistema First Mile.
O software First Mile, vendido pela Cognyte, é capaz de identificar a localização de qualquer aparelho celular através das antenas de telefonia.
No entanto, o governo de Goiás colocou sob sigilo todos os documentos referentes à contratação. A Agência Pública entrou com pedidos através da Lei de Acesso à Informação (LAI), mas receberam como resposta que os documentos são “reservados”.
O uso da First Mile pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro está sendo investigado. A agência era dirigida por Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro. Os indícios apontam que o antigo governo usava a ferramenta israelense para espionar adversários políticos, advogados e lideranças sindicais.
Alguns meses depois que o governo de Ronaldo Caiado contratou a Cognyte, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) fez o mesmo, pagando R$ 5 milhões para a empresa de espionagem. A PRF era chefiada por Silvinei Vasques, aliado de Jair Bolsonaro, que foi preso por tentar atrapalhar as eleições presidenciais em 2022.
Segundo a Agência Pública, além de Goiás, os Estados do Mato Grosso, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pará, Espírito Santo e Alagoas também firmaram contratos com a Cognyte desde 2017. O mesmo ocorreu com setores das Forças Armadas.
Os contratos não se limitam à First Mile, mas a falta de informações e transparência por parte dos governos estaduais não permite que a população saiba qual tipo de serviço está sendo contratado.