
Cerca de 14 mil trabalhadores da companhia de transporte público Berliner Verkehrsbetriebe (BVG) realizaram uma massiva greve em Berlim nesta sexta-feira (15) por aumento salarial e melhores condições de trabalho.
A ação ampliou a pressão em torno da pauta que inclui uma semana de trabalho de 36,5 horas, bônus de Natal para os novos empregados e um progresso mais rápido na carreira e na escala salarial. As negociações continuarão no dia 5 de março.
A paralisação começou já nas primeiras horas da manhã, com todos os metrôs e bondes, assim como a maioria dos ônibus da capital alemã, parados em seus depósitos e garagens até o meio dia, conforme o deliberado em assembleia com o Sindicato Verdi, um dos principais do país.
Reunindo 4.000 trabalhadores, a concentração em frente à sede da BVG expôs a tensão que se espalha pela categoria. “Se nada acontecer, as coisas vão explodir na BVG”, sintetizou o mecânico industrial David, que trabalha nas oficinas da empresa. Seu colega Marco, disse que é isso mesmo: “a BVG fez tanto lucro que deveria usar esse dinheiro para aumentar nossos salários”.
Da mesma forma que outros companheiros de empresa relataram, Marco denunciou não poder sobreviver com seu minguado salário. Após deduzir os custos fixos, só lhe sobra 400 euros por mês. “Eu não posso pagar um carro por isso, sem férias, nem mesmo consertando eletrodomésticos”, protestou. Por esta razão está à procura de um segundo emprego numa empresa de segurança, onde poderá trabalhar nos fins de semana.
David condenou os baixos salários e o desrespeito. Treinado como mecânico industrial, ele agora exerce essa função, mas ganha menos, pois pela BVG recebe como mecânico de veículos. Além disso, como novo funcionário, precisa trabalhar duas horas e meia a mais, mas recebe até 1.000 euros a menos que os trabalhadores contratados pela empresa antes de 2005. “Queremos remuneração igual para que não haja mais diferenças entre colegas”, destacou.
Motorista de ônibus, Orkan precisa dirigir 39 horas mensais para receber 1.600 euros mensais, contra 1.980 euros que recebia da assistência social no período em que se encontrava desempregado. “Se minha esposa também não trabalhasse na BVG, eu teria que me candidatar à assistência novamente”, relatou.
“As condições para os motoristas de ônibus são muito ruins em Berlim, com os aluguéis altos alcançando o mesmo nível de Munique. Muitas vezes temos que dirigir por oito horas seguidas. É um milagre que mais acidentes não aconteçam”, acrescentou outro trabalhador, que não quis se identificar.
“Se um ônibus sai de serviço, o estresse aumenta enormemente e você leva para casa com você”, complementou Burak, ressaltando que, “na verdade, estamos trabalhando apenas para pagar o aluguel”. “Com nossa greve espero que, desta vez, consigamos um bom aumento de salário”, sublinhou.