Agentes da PF disseram que nunca viram essa postura em 10 anos
Marília Alencar, braço-direito de Anderson Torres, atuou para impedir que a Célula de Inteligência de Segurança Pública (CIISP) do Distrito Federal se reunisse nos dias anteriores à tentativa de golpe de 8 de janeiro, avalia a Polícia Federal.
As informações são de Andréia Sadi, da GloboNews.
Marília Alencar, que trabalhou com Torres no Ministério da Justiça, foi levada por ele para o governo do DF em janeiro de 2022, onde estava lotada como subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública.
Enquanto representante do governo do Distrito Federal na Célula de Inteligência e Segurança Pública, Marília impediu que o grupo se reunisse entre os dias 7 e 8.
O órgão recebeu informações sobre a movimentação massiva de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro em direção a Brasília no dia 7 de janeiro. Eles foram informados da chegada de 43 ônibus, levando 1.622 bolsonaristas para a capital do país.
Colegas da Célula, que é composta pelas Polícias Militar e Civil, Detran, Corpo de Bombeiros, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, questionaram quando haveria a reunião para discutir a movimentação dos bolsonaristas – que já pediam abertamente um golpe de estado desde novembro de 2022.
A resposta de Marília, no entanto, foi de que o grupo continuaria conversando somente pelo Whatsapp. Segundo Andréia Sadi, agentes da PF disseram que nunca viram essa postura em 10 anos.
Ainda de acordo com a jornalista, a PF já tem “elementos suficientes para concluir que Marília Alencar (…) não acionou a célula de inteligência, o que deveria ter sido feito”, apesar de ter informações importantes sobre o que poderia acontecer no dia 8 de janeiro.
O chefe de Marília, Anderson Torres, tinha viajado para os Estados Unidos no dia 7 de janeiro, deixando a Secretaria de Segurança Pública do DF acéfala e incapaz de responder ao atentado golpista. Em sua casa, a PF encontrou a minuta de um decreto presidencial que anularia as eleições.
Na avaliação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a inação da Polícia Militar do DF, que tinha Anderson Torres como superior, foi fundamental para que os golpistas conseguissem invadir as sedes dos Três Poderes.
A tentativa de golpe não teria “ocorrido se a Polícia Militar do Distrito Federal tivesse atuado segundo o procedimento correto”.
“Falo com absoluta tranquilidade, como ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, que se dois batalhões de choque estivessem presentes na Praça dos Três Poderes nada disso teria ocorrido”, afirmou.
TENTATIVA DE ATRAPALHAR AS ELEIÇÕES
Quando estavam no Ministério da Justiça, Anderson Torres e Marília Alencar agiram juntos para tentar atrapalhar o segundo turno das eleições presidenciais e favorecer Jair Bolsonaro, que estava em desvantagem na disputa.
Marília, que era diretora de Inteligência do Ministério, produziu um mapeamento com os locais onde Lula obteve maior vantagem no primeiro turno. Anderson Torres articulou junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF), à época chefiada pelo bolsonarista Silvinei Vasques, uma série de blitze nos locais indicados por Marília.
Anderson Torres tentou arrastar a PF para o plano, mas não obteve apoio na corporação.