Para Ronaldo Carmona, a declaração conjunta de Xi e Putin na abertura dos jogos de inverno significam muito mais do que o gesto diplomático de abstenção chinesa no Conselho de Segurança da ONU
O pesquisador do Núcleo de Defesa do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Ronaldo Carmona, destacou, em entrevista à Globonews, neste sábado (27), que a declaração conjunta entre China e a Rússia na abertura dos jogos de inverno tem mais importância do que o gesto de abstenção do país asiático no Conselho de Segurança da ONU.
“Esse gesto da China de ter uma atitude de abstenção deve ser lido dentro daquele tipo de ambiente, que é um ambiente diplomático, um ambiente multilateral e que, portanto, se pratica formas próprias relacionadas ao ambiente diplomático”, explicou Carmona. “Eu acho que muito mais interessante para compreender essa aliança, devemos revisitar a declaração conjunta da abertura dos jogos de inverno. Aquela declaração que alguns apontam como o início dessa nova era, dessa nova ordem mundial”, acrescentou o analista.
“A China, ao se abster, obviamente não comprometia a decisão, fosse pela aprovação ou pela rejeição. De modo que eu acho que foi um gesto relacionado àquele tipo de ambiente. Eu acho que muito mais interessante para compreender essa aliança, devemos revisitar a declaração conjunta da abertura dos jogos de inverno. Aquela declaração que alguns apontam como o início dessa nova era, dessa nova ordem mundial”, afirmou o especialista.
Ronaldo Carmona lembrou que “do ponto de vista geopolítico, o temor do ocidente sempre foi a coalizão, ou uma aliana duradoura, entre essas duas grandes potências eurasiáticas. Vamos nos lembrar que, ao final da guerra fria, e antes disso – acabou de se fazer 50 anos da visita do presidente Nixon à Pequim em 1972 – que está, digamos, assim na raíz do que foi o desfecho da guerra fria”.
“Então”, acrescentou Carmona, “essa aliança entre Rússia e China, para além de um gesto diplomático num ambiente multilateral como é o caso do Conselho de Segurança, nós temos que ler gestos mais profundos que ocorrem no qual a declaração é uma peça importante”.
“Ela [a declaração] não apenas sinaliza com o aprofundamento da cooperação ente esses dois gigantes, como também polemiza com o ocidente sobre o próprio conceito de democracia, sobre a própria acusação deles serem países autocráticos”, observa o analista. “A declaração portanto, ela é um gesto muito mais forte do que essa abstenção chinesa num contexto diplomático, onde é perfeitamente compreensível esse tipo de gesto pela natureza do ambiente que é o Conselho de Segurança”, avaliou Carmona.