As pressões para que o delegado Leadro Daiello fosse retirado do comando da PF, substituído por Fernando Segóvia, se intensificaram depois que o bunker da quadrilha do PMDB, montado por Geddel Vieira Lima e seu irmão, Lúcio Vieira Lima, abarrotado com R$ 51 milhões de propina, foi estourado em Salvador. Lula e o PT, por sua vez, também vinham se somando às manobras para obstruir as investigações da Lava Jato ao fazerem duras críticas à atuação da PF. Em entrevista, em agosto, Lula defendeu os investigados da Operação e atacou a PF e o MPF. Não por acaso estão oficializando a aliança do PT e PMDB em vários estados com o patrocínio das duas cúpulas.
Michel Temer afastou na quarta-feira (8) Leandro Daiello do comando da Polícia Federal e nomeou para substituí-lo o delegado Fernando Segóvia, ex-superintendente da PF no estado do Maranhão. As pressões para que o delegado Leandro Daiello fosse retirado do comando da PF se intensificaram depois que o bunker da quadrilha do PMDB, montado por Geddel Vieira Lima e seu irmão, Lúcio Vieira Lima, abarrotado com R$ 51 milhões de propina, foi estourado em Salvador, durante a Operação Tesouro Perdido, deflagrada no dia 5 de setembro.
Outro motivo que acelerou a mudança no comando da PF foi a divulgação de partes de um relatório a PF dando detalhes sobre o funcionamento do chamado quadrilhão do PMDB. As informações obtidas pela Polícia Federal durante as investigações atingiram os auxiliares mais próximos do governo, entre eles Eliseu Padilha e Moreira Franco, e apontavam Michel Temer como chefe da quadrilha. O conteúdo do relatório foi usado para embasar a segunda denúncia do Ministério Público Federal contra Temer e seus comparsas.
PRESSÃO
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o subchefe de Assuntos Jurídicos da pasta, Gustavo Rocha, conselheiro de Temer, além de Romero Jucá, foram os integrantes do bando mais empenhados na nomeação de Fernando Segóvia. Jucá, Gustavo, Padilha e Moreira Franco estão envolvidos até o pescoço nas investigações da Lava Jato e já vinham pressionando o Ministério da Justiça para mudar o comando da PF. Lula e o PT, por sua vez, também vinham se somando às manobras para obstruir as investigações da Lava Jato ao fazerem duras críticas à atuação da PF. Em entrevista, em agosto, durante sua passagem por Pernambuco, Lula defendeu os investigados da operação e atacou a PF e o MPF, dizendo que eles estavam cometendo arbitrariedades. “Todo mundo é inocente até prova em contrário”, disse Lula, numa cínica defesa dele próprio e dos demais ladrões investigados e denunciados. A aliança anti-Lava Jato PT-PMDB está mais clara, quando se sabe agora que estão negociando coligações em, pelo menos, 8 estados (ver edição anterior).
Pressionando por fora corria também outro meliante: o senador Aécio Neves, pertencente a uma outra facção criminosa, mas que também se empenhou intensamente pela troca no comando da PF. O tucano não perdoou a operação controlada pelos policiais que flagrou seu primo recebendo malas de propina dentro da JBS.
A quadrilha chefiada por Temer vem agindo sorrateiramente contra as investigações da Lava Jato. O governo reduziu as verbas da Polícia Federal, trabalhou para enfraquecer as equipes do Ministério Público Federal e atacou violentamente a atuação investigativa do ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot. Numa tentativa desesperada de obstruir as investigações,Temer chegou a atropelar a escolha dos procuradores para o substituto de Janot, não nomeando o preferido da categoria. Achou que, com Raquel Dodge, estaria protegido. Desta vez, com o mesmo intuito acobertativo, Temer e seu bando substituem o comando da PF. Só que agora, a nova direção da PF vai ter pela frente uma população bastante atenta e vigilante contra qualquer sabotagem à Operação Lava, como pretende o governo, o PT e as demais forças políticas investigadas pela corporação.
Os ataques do bando de Temer ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal foram feitos em sintonia com iniciativas de acobertamento levadas a cabo por outros grupos delinquentes também investigados por crimes de corrupção. O afastamento de Aécio Neves do cargo de senador e a determinação, pelo STF, de que ele não poderia sair de casa à noite, por exemplo, foi duramente criticado por correligionários do tucano, mas quem mais se empenhou para derrubar as medidas tomadas pela justiça, após o flagrante, foram as bancadas do PT e do PMDB. Petistas e peemedebistas agiram juntos, se revezando da tribuna para atacar e desautorizar o STF. Com a decisão transferida para seus pares, Aécio readquiriu seu mandato e voltou a delinquir normalmente.
Outro frenético articulador contra a atuação da PF foi Romero Jucá que, junto com Renan e Aécio, é líder absoluto em quantidade de investigações a que está submetido. Ele fez várias reuniões com Temer para apressar o afastamento de Daiello. Inclusive em algumas delas foi acompanhado por José Sarney. O MPF sustenta, entre outras coisas, que Jucá recebeu R$ 4 milhões para atuar de acordo com os interesses da Odebrecht no Congresso Nacional. Além disso, em outro inquérito, no qual são citados diversos parlamentares que atuaram em favor da empreiteira na licitação da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, Jucá teria recebido, segundo o Ministério Público, R$ 10 milhões da Odebrecht e da construtora Andrade Gutierrez.
BALCÃO
Daiello tentou emplacar como seu substituto o diretor-executivo da corporação, Rogério Galloro, mas enfrentou uma forte resistência dos investigados da Lava Jato. A indicação de Galloro chegou a ser levada à apreciação de Temer, mas este, junto com a tropa de choque, conseguiu barrar a sugestão do ex-superintendente. Nesta altura o nome de Segovia ainda nem constava da lista tríplice da corporação. Na ocasião Michel Temer estava totalmente empenhado em perdoar dívidas de sonegadores, distribuir cargos e comprar parlamentares para garantir maioria e acobertar seus crimes. O verdadeiro balcão de negócio em que se transformou o Palácio do Planalto acabou impedindo temporariamente o prosseguimento das investigações de Temer, pedidas pelo Supremo Tribunal Federal.
O delegado Fernando Segóvia é advogado formado pela Universidade de Brasília. Ele tem 22 anos de carreira. Foi superintendente regional da PF no Maranhão e adido policial na República da África do Sul, tendo exercido parcela importante de sua carreira em diferentes funções de inteligência nas fronteiras do Brasil. Entre as Operações conduzidas por ele, estão a Rapina III, que prendeu 24 pessoas envolvidas em um esquema de fraudes em contratos públicos nas áreas de saúde e educação, que agiam em três cidades do interior do Maranhão. Durante um ano e meio de investigações, os agentes apuraram desvio de R$ 30 milhões dos cofres públicos. A operação da PF atingiu três municípios onde as fraudes teriam ocorrido – Imperatriz, Ribamar Fiquene e Senador La Rocque – e também a capital, São Luís.
SÉRGIO CRUZ