Em decisão unânime, R$ 55,2 bi serão transferidos para os cofres dos bancos e demais rentistas
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou, por unanimidade, nesta quarta-feira (11), a taxa de juros básica da economia (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano. Esse é o terceiro aumento na taxa nominal desde setembro de 2024, época que figurava em 10,50% ao ano.
Com a decisão, o juro real (descontada a inflação) vai a 9,48%, o segundo maior do mundo, segundo o site MoneYou.
Em seu comunicado, o Copom afirmou que seguirá elevando os juros em 2025, com “ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, com o objetivo de travar qualquer sinal de crescimento da economia, inibindo os investimentos, a geração de emprego e arrochando a renda, a produção e favorecendo o sistema financeiro.
A elevação de um ponto percentual na taxa Selic eleva a dívida pública em R$ 55,2 bilhões, recursos públicos transferidos para os cofres dos bancos e demais rentistas.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), em nota, considerou a decisão do BC de elevar em 1 ponto percentual a Selic “incompreensível e totalmente injustificada”.
“O Banco Central ignora a desaceleração da atividade econômica, já observada no PIB do terceiro trimestre, e a tendência de redução de juros nas principais economias globais, como os Estados Unidos, que partem para o terceiro corte seguido nos juros na próxima semana”, afirma a entidade da indústria.
A pretexto de controlar a inflação, o BC decidiu “realizar um ajuste de maior magnitude, elevando a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”, diz o Copom.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”.
Como afirma o economista Nilson Araújo de Souza, “não há descontrole inflacionário algum. O IPCA (excluindo o ano fora da curva, 2021: 10,06%) segue rodando na média dos últimos quatro anos, de 4,83%, incluindo uma previsão de 4,42% para 2024 (inflação ocorrida nos últimos 12 meses até setembro). Mas poderia ser ainda menor e enquadrar-se nos estreitos limites da meta. O que fez a taxa, que já esteve perto dessa inalcançável meta, elevar-se um pouco foram fatores, alguns deles sazonais, que não se combatem com juros altos”.
No cômputo geral, entre 40 países, a média de juros reais ficou em 1,63%. Segundo a consultoria financeira, ainda, entre 40 países, 55% cortaram suas taxas de juros, 40% mantiveram inalteradas, enquanto apenas 5,00% elevaram as taxas. Ou seja, a decisão do Copom vai na contramão do movimento de diversos países do mundo, que buscam retomar investimentos para crescer suas economias e desenvolver suas indústrias.
A presidente do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann, classificou a decisão do BC de elevar a taxa Selic para 12,25% como “irresponsável, insana e desastrosa para o país”.
“Não faz sentido, nem seria eficaz para evitar alta da inflação, que não é de demanda”. “Nem para melhorar a situação fiscal, muito pelo contrário. Esse 1 ponto a mais vai custar cerca de R$ 50 bilhões na dívida pública”, observou a parlamentar, que seguiu argumentado, em postagem na rede social X.
“Não faz sentido para um país que precisa crescer e continuar gerando empregos… É o fecho da trajetória nefasta do bolsonarista Campos Neto no BC, responsável pela criminosa sabotagem à economia do país nos dois primeiros anos do governo Lula. Sufocou a economia e o crédito e não cuidou da especulação com o câmbio, que era sua obrigação combater”, denunciou Hoffmann.
Para o ano de 2025, o mercado financeiro já demanda que o Copom coloque a Selic em 13,50%, segundo o Relatório Focus do BC, e propõe que os juros sigam acima dos dois dígitos até 2027.
Com a taxa Selic em níveis escorchantes, o gasto do setor público com o pagamento de juros da dívida pública chegou a R$ 869,3 bilhões nos 12 meses, até outubro deste ano.