Outra vez começaram os alardes sobre a alta do dólar. Os porta-vozes do setor financeiro – esse pessoal que ostenta o título de “comentarista econômico” – falam que a causa está em “incertezas eleitorais”.
Segundo eles, se todos – ou, pelo menos, a maioria – votassem no candidato deles, tudo estaria resolvido. Mas, como Alckmin teve entre 2 e 9% nas últimas pesquisas – e Meirelles oscila entre 1 e 2% -, aí o dólar disparou.
Mas, então, o sensacional modelo de economia dessas damas e cavalheiros – esse que foi implantado e mantido por Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer – não resiste a uma pesquisa do Ibope ou do Datafolha?
Barbaridade! (como dizem os gaúchos).
Além disso, se, para que esse modelo funcione, é necessário sempre que o presidente seja um elemento da especulação financeira ou servil ao parasitismo financeiro, sobretudo externo – como Meirelles ou Alckmin –, então, o que eles estão propondo é, na verdade, uma ditadura dos monopólios financeiros, na qual o povo não pode escolher outra alternativa.
Convenhamos que Pinochet não fazia tanto arrodeio para instalar uma ditadura. Mas está explicado porque os mesmos elementos que preconizam uma ditadura do setor financeiro, afetam escândalo diante de um palhaço como Bolsonaro. O problema é que Bolsonaro abre demais o jogo. Além disso, a ditadura deles é muito pior que a ditadura incensada por Bolsonaro.
Nos últimos sete dias, o real teve uma desvalorização, em relação ao dólar, de 6,2%.
Como consequência, houve aumento de inflação – e, por isso, os porta-vozes da especulação financeira estão falando em aumentar os juros.
Mas, por que o aumento do dólar causou inflação?
Realmente, na quinta-feira, o autor destas linhas encontrou o quilo do café, que habitualmente consome, por R$ 28 (vinte e oito reais). E dessa vez os porta-vozes da reação não podem culpar os caminhoneiros…
No entanto, o café preferido deste articulista foi, infelizmente, desnacionalizado. Hoje, pertence a uma empresa germânica. A alternativa, um café antes cearense-mineiro, é agora israelense.
Entre os cinco maiores produtores de café torrado e moído, dentro do país, quatro são empresas estrangeiras (a Strauss-Elite, de Israel, dona do Café Três Corações; a Jacobs Douwe Egberts, da Holanda, dona do Pilão, Caboclo, Café do Ponto e Palheta; a Melitta, da Alemanha; e a Mitsui, do Japão, dona do Café.BR, Café Bandeira e Café Brasileiro). Somente uma é brasileira (a Maratá).
É óbvio que os tucanos e petistas (e o seu puxadinho, Temer) penduraram a economia brasileira no dólar, isto é, na especulação norte-americana.
A desnacionalização (com seu corolário, a monopolização) intensa da indústria – e não somente da indústria – nos governos Fernando Henrique e Lula, é uma consequência desse modelo, completamente antinacional.
Para tudo a resposta desses elementos era (e ainda é) a submissão ao dólar.
Assim foi o seu famoso combate à inflação: aumentou-se os juros para “atrair” especuladores, manteve-se o real hipervalorizado para baratear os produtos importados, arrasou-se com as empresas nacionais, que tiveram seus produtos encarecidos em relação aos de fora.
Através do câmbio – ao manter o dólar artificialmente barato – fez-se um gigantesco dumping a favor das mercadorias importadas e contra as mercadorias fabricadas internamente. Barateou-se o que vinha com preço em dólar e encareceu-se o que era fabricado em reais.
Claro que, se a alta atual do dólar fosse em outra situação, até serviria de proteção para a indústria nacional. O problema é que, sem outras medidas, a própria indústria nacional tem que pagar mais pelos componentes que importa, pois os fornecedores internos foram arrasados.
Sucintamente, este é o “combate à inflação” de Fernando Henrique e Lula, feito à custa de arrasar a economia – daí os milhões de desempregados (minorados apenas pelos R$ 85 do Bolsa-família ou por empregos de péssima qualificação e remuneração correspondente, como no segundo governo Lula, o que não resistiu nem ao próprio PT, ou seja, à Dilma).
Em relação à última parte (o segundo mandato de Lula) é preciso lembrar o “boom” das commodities (o aumento do preço de exportação da soja e do minério de ferro – devido às compras da China).
Isso possibilitou alguma folga durante três anos (mesmo assim, 2009 foi um ano de recessão, graças aos juros de Meirelles). Porém, era uma folga pendurada no dólar, isto é, no preço em dólar da soja e do minério de ferro.
Da mesma forma, a sensacional política de estímulo ao “investimento direto estrangeiro” (IDE), trombeteada por Mantega, assim como, antes, por Gustavo Franco, guru econômico de Fernando Henrique.
Para que entrassem dólares no país foram desnacionalizadas 2.718 empresas, entre 2004 e 2017.
Isso, depois do massacre que houve durante o governo Fernando Henrique, com a desnacionalização de cerca de duas mil empresas.
O resultado, é claro, foi tornar a economia brasileira mais frágil, mais pobre, com menos condições de crescer, mais dependente do exterior, em síntese, menos nacional e menos industrial.
Assim, a participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 16,88% (2003) para 11,90% (2016), inferior àquela do governo Dutra (19,47%, na média anual), há quase 70 anos.
Com uma indústria cada vez menor – e setores inteiros transformados em maquiadoras, que apenas montam componentes importados – é óbvio que ficamos à mercê de qualquer cólica do dólar, inclusive aquelas induzidas por especuladores.
No momento, por exemplo, há uma alta de juros nos EUA. Um especulador – aliás, “gestor de fundos” – declarou que com a taxa dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA em 2,8% ao ano, puxar dinheiro de volta é o menos arriscado: “Quando o juro do mundo é zero, você consegue tolerar muita coisa. Mas, com o juro americano em 3%, não há porque aceitar determinados riscos” (cf. Valor Econômico, 24/08/2018).
No entanto, o juro real no Brasil ainda é imensamente maior que as taxas norte-americanos. Então, de que risco esse especulador está falando?
Existem duas possibilidades. E as duas parecem verdadeiras.
A primeira é que os especuladores estejam prevendo (ou, até, temendo sem prever, o que acontece muito nesse meio) uma quebra dessa maravilhosa economia que petistas, tucanos e peemedebistas – sustentados por monopólios financeiros, principalmente externos – instalaram e mantiveram.
Não é uma hipótese fantástica. Segundo o último relatório de política fiscal do Banco Central (BC), existem dentro do país, US$ 478 bilhões e 361 milhões de dinheiro estrangeiro aplicado em papéis; US$ 709 bilhões e 234 milhões em investimento direto (dinheiro que, cada vez menos se distingue da mera especulação); e, ainda, há US$ 217 bilhões e 817 milhões em empréstimos bancários.
Ao todo, cerca de US$ 1 trilhão e 400 bilhões.
Ao mesmo tempo, as reservas em dólar montam a US$ 382 bilhões e 549 milhões.
Portanto, qualquer fuga em massa de dinheiro estrangeiro, convertido em reais dentro do país, corre o risco de não contar com dólares suficientes para trocar esses reais. Mesmo que a fuga se limitasse apenas ao dinheiro aplicado em papéis (o chamado “investimento estrangeiro em carteira”).
Esse, desde a crise do México, em 1994, é o maior terror dos especuladores estrangeiros. É isso, em geral, o que eles chamam de “risco” nos “países emergentes”, como o Brasil.
Mas existe outra hipótese.
A de que os especuladores estrangeiros estejam apenas fazendo o que mais fazem e sabem fazer: pressionando o governo para aumentar os juros.
Para isso, qualquer coisa é pretexto: desde uma crise no reino de Tonga ou em Bora Bora, até alguma unha encravada, porventura sofrida no dedão do pé da rainha da Inglaterra.
Porém, eles só fazem isso – ou só conseguem fazer isso – porque Fernando Henrique, Lula, Dilma (e Temer) trataram a economia brasileira como um anexo do mercado de futuros de Nova Iorque ou de Chicago.
É exatamente dessa situação que precisamos sair. O que, aliás, não é difícil, desde que haja vontade – a partir de 1930, quando industrializamos o país, nada há de misterioso em crescer o Brasil.
Naturalmente, isso é incompatível com espíritos submissos, servis e corruptos – tucanos, petistas ou satélites.
C.L.
Contrataram um pacote socialista para deixar pobre sempre pobre é rico sempre rico, política básica brasileira