As indústrias de transformação estão encerrando o ano de 2024 fortemente preocupadas com a sinalização do Banco Central (BC) de elevar ainda mais os juros em 2025, o que derreteria todos os avanços que o setor conquistou em 2024.
Neste ano, a indústria brasileira conseguiu desatolar parte do “corpo da lama”, com o breve período de cortes dos juros básicos da economia (Selic) pelo BC. Entre agosto de 2023 e junho de 2024, o nível da taxa caiu de 13,75% para 10,5% ao ano.
Segundo o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) “a sequência de resultados da nossa indústria de transformação desde o final de 2023 não deixa dúvida sobre a boa direção que a conjuntura do setor tem tomado”, ressalta o IEDI, em análise “desempenho industrial por grupos de intensidade tecnológica”, estudo que aponta que “os ramos de maior tecnologia estão na liderança” dos bons resultados.
“O problema é que seus mercados são mais sensíveis ao aumento das taxas de juros e sua produção requer frações maiores de insumos importados. Ou seja, o quadro macroeconômico atual não traz boas perspectivas”, afirmou o IEDI, em nota divulgada nesta semana.
Conforme números do IEDI, no acumulado até setembro de 2024, tanto a indústria geral, quanto sua principal seção, a indústria de transformação, ampliaram sua produção física frente ao mesmo período de 2023, 3,1% e 3,3%, respectivamente.
Segundo instituto, ainda, a indústria de alta tecnologia cresceu +9,4% no terceiro trimestre de 2024, acumulando avanço de 4,0% em janeiro a setembro deste ano, “sua primeira alta desde jan-set/18”, ressalta a entidade. Já a média-alta intensidade tecnológica registrou +10,2% no 3º trimestre deste ano.
O BC, alinhado à ganância do sistema financeiro, retomou em setembro o ciclo de alta da Selic, que no final deste ano atingiu os 12,25%. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC também já sinalizou aos bancos que deve realizar mais dois aumentos de 1 ponto percentual na taxa nominal, nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025, o que colocaria a taxa em 14,25% no primeiro trimestre do ano que vem para restringir os investimentos e o consumo de bens e serviços do país.
Em dezembro deste ano, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu de forma generalizada, conforme apurado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O indicador diminuiu em 27 dos 29 setores da indústria analisados, além de todas as regiões do Brasil e todos os portes de empresa (pequeno, médio e grande). “Com as quedas, 16 setores da indústria migraram da confiança para a falta de confiança entre novembro e dezembro”, ressaltou a CNI, em nota.
A CNI destaca que o aumento dos juros, alinhado à forte desvalorização do real ao dólar, “são componentes que preocupam a indústria e podem colocar em risco o desenvolvimento econômico do país”, criticam os industriários.
A entidade também avalia que o Copom na sua última decisão “ignorou elementos importantes, tanto no cenário interno quanto externo: desaceleração da atividade econômica, já observada no PIB do terceiro trimestre, além de tendência de redução de juros nas principais economias globais”.
Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, a perda de valor da nossa moeda em compasso com a piora das expectativas do mercado financeiro “contrariam dados reais da performance da economia e do controle da dívida pública”, critica. “Esse cenário de instabilidade, que beneficia a poucos, prejudica o setor produtivo e o desenvolvimento da nossa sociedade”, completa o empresário.