O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), condenou o aumento na taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central.
“Subiram os juros com o país em recessão e com desemprego gigantesco. Dólar na estratosfera. Vão produzir mais estagnação e mais inflação. Mas asseguram que em 10 ou 15 anos vamos virar um Canadá. Quem vai estar vivo até lá é um ‘pequeno detalhe’, sob a ótica deles”, escreveu o governador no Twitter na quinta-feira (17).
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) subiu a Selic de 2% para 2,75%, a pretexto de segurar a inflação e o dólar. Para a próxima reunião, o Copom prevê outro “ajuste da mesma magnitude”, segundo o comunicado, divulgado após a decisão.
A decisão aconteceu no pior momento da pandemia no país, o que foi totalmente ignorado pelos tecnocratas do BC, que mais uma vez acenou para o sistema financeiro que, apesar das milhares de vidas ceifadas, desemprego galopante e a economia em recessão, os ganhos dos bancos estarão garantidos.
Segundo a nota do Banco Central, o pior momento da pandemia, “já não prescreve um grau de estímulo extraordinário”; a economia teve um “crescimento forte na margem”, já que o PIB recuperou “a maior parte das perdas observada no primeiro semestre”. Primeiro, a economia não cresceu, o PIB caiu 4,1% m 2020; segundo, só não caiu mais exatamente por conta dos estímulos promovidos pelo governo – por decisão e ordem do Congresso Nacional, como o auxilio emergencial e a ajuda às empresas.
Mais uma vez, o governo Bolsonaro nega a grave situação do país e caminha na contramão dos países que estão promovendo politicas de estímulos monetários para salvar vidas e a economia. O que se verifica em todo o mundo é redução da inflação, ao contrário do que diz o BC.
O banco central dos EUA (Federal Reserve) no mesmo dia em que o Banco Central aumentava os juros anunciou que os juros americanos vão continuar inalterados até 2023, entre zero e 0,25%, ou até quando o país se recuperar dos efeitos da pandemia, e repeliu as estimativas de previsões de especuladores de que o pacote anunciado de US$ 1,9 trilhão irá trazer inflação para o país. Segundo o presidente do FED, Jerome Powell, os estímulos monetários frente à pandemia vão continuar e não vai agir de “forma preventiva”.
PARA EMPRESÁRIOS, É FREAR ECONOMIA
Os empresários também se manifestaram contra o aumento dos juros. Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), “a atividade econômica deve exibir um desempenho fraco no 1º trimestre, com risco de que esse quadro se estenda por todo o semestre”. Em nota afirmou: “entendemos que a elevação da Selic neste momento é precipitada e dificulta o cenário para a atividade econômica em 2021, que já enfrenta inúmeros desafios em razão da persistência da pandemia”.
Para a Federação da Indústria do Rio de Janeiro (Firjan), a alta é incompatível com o cenário econômico atual, “distante do seu nível potencial, com taxas de desemprego elevadas e muitas incertezas quanto aos efeitos da pandemia”.
O presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz Coelho, alertou que “os produtos vão ficar mais caros e vai diminuir o consumo, e isso afeta o emprego. Política monetária de aumento de juros é para frear a economia, que já está freada”.
ECONOMISTAS REPELEM NEGACIONSIMO ECONÔMICO
O economista Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas, em artigo publicado na Folha “Aumento da Selic seria cloroquina da política econômica”, afirma: “A pressão forte dos alimentos se deveu à alta dos preços das commodities no exterior, o que também pressionou o preço de insumos industriais e, mais recentemente, dos combustíveis. Daí pergunto: qual a influência direta da alta das taxas de juros sobre estes preços? Nenhuma! A única influência indireta seria através da taxa de câmbio, mas como mostrei acima, as variações desta última estão descoladas do comportamento da Selic. E, ademais, seria muito melhor evitar a alta dos preços de alimentos através de estoques reguladores –que o governo desmontou nos últimos anos– e de uma política de preços mais racional por parte da Petrobras que amortecesse as oscilações no mercado internacional”.
Já o economista José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, .afirma em artigo publicado em seu site: “O Copom e o Negacionismo Econômico no Brasil”: “Quanto a aceleração recente da inflação, a figura abaixo mostra que a elevação da média móvel dos últimos 12 meses do IPCA foi resultado basicamente da elevação extraordinária dos preços de alimentos e bebidas. As medidas de núcleo de inflação (aparadas sem suavização e excluindo alimentos e preços monitorados) mostram uma inflação bastante comportada e baixa, compatível com uma economia que opera com enorme capacidade ociosa. Isso mostra, portanto, que a aceleração recente da inflação foi devida a um choque de oferta negativo, o qual, por sua natureza, não pode ser combatido por intermédio de elevação de juros, cuja função é reduzir pressões de demanda; as quais são inexistentes na economia brasileira no presente momento. Elevar os juros nesse contexto será prova cabal de negacionismo econômico”.