Planalto mantém o preço da gasolina atrelado ao dólar e ao barril de petróleo, que não param de subir, e quer culpar os outros pelo desastre
Jair Bolsonaro não assume nenhuma responsabilidade por seus atos à frente do governo. Se falta vacina, ele diz que não tem nada com isso, se ocorrem enchentes e queda de encostas por falta de verbas para obras de prevenção, ele não está nem aí, não se solidariza com ninguém, prefere passear de jet ski e tomar banho de mar.
Se a inflação dispara, ele diz que não sabe de nada e que não é culpa dele porque aumento de preços está ocorrendo no mundo todo. Só não explica porque aqui ela é o dobro dos outros países.
Agora, que os aumentos dos combustíveis fugiram ao controle, estão esfolando a população e estão trazendo muito desgaste para seu governo, ele inventou que a culpa é dos problemas passados da Petrobrás. “Os aumentos são por causa da roubalheira da Petrobras”, afirmou.
Antes, ele dizia que a culpa pelos aumentos era dos governadores, por causa da cobrança do ICMS. O chefes dos Executivos estaduais desmascaram o presidente ao congelarem o ICMS por três meses e mostrarem que os aumentos não pararam. Foram seis reajustes decididos pela Petrobrás no mesmo período em que o ICMS ficou congelado, informou o presidente do Fórum dos Governadores, Wellington Dias.
Ficou claro de quem é a responsabilidade pela disparada dos preços.
A responsabilidade é da política desastrosa do governo de atrelar os preços internos dos combustíveis ao mercado internacional do petróleo e à variação do dólar. Por esta política, a Petrobrás é obrigada a cobrar um preço muito mais alto do que seus custos de produção.
Quem a obriga a fazer isso é o conluio entre o governo e o cartel dos importadores. As empresas importadoras dizem que se a Petrobrás cobrar um preço justo (menor), eles não vão importar mais os derivados. Hoje o Brasil importa 20% do total de combustíveis consumidos internamente. Antes não era assim. O Brasil era autossuficiente. Mas, agora, o governo não investe mais na ampliação do refino e, para piorar a situação, ainda está se desfazendo de suas refinarias.
O resultado é que o Brasil dobrou as importações de derivados. A importação de óleos combustíveis de petróleo (excluindo óleos brutos) pelo Brasil aumentou 81,86% no ano passado em relação a 2020, saltando de US$ 7,3 bilhões para US$ 13,4 bilhões. Os Estados Unidos lideram com folga a venda para nosso País, alcançando US$ 7,4 bilhões, pouco mais que a metade do mercado (55,37%). Quanto mais o governo depende de importações, mais se submete às exigências dos importadores.
Os Estados Unidos também estão à frente na exportação de gás natural para o Brasil, que teve um aumento de 298% no ano passado. Os norte-americanos ficaram com quase 70% do mercado de gás importado pelo Brasil, somando US$ 3,2 bilhões, um aumento de nada menos que 2.330% em relação a 2020. No total, foram US$ 4,7 bilhões gastos em importação de gás.
“Com isso viabilizaram a importação de derivados para o Brasil por parte das petroleiras internacionais, sobretudo norte-americanas, ao mesmo tempo em que se reduzia a produção das refinarias brasileiras. A consequência foi forçar a redução em 30% da capacidade de produção das refinarias da Petrobrás, abrindo mais espaço para as estrangeiras”, denuncia a diretoria da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet).
A Petrobrás poderia regular o mercado, pois seu custo de produção é muito inferior aos preços da política de paridade com importados. Paulo César Lima, ex-assessor legislativo, que foi petroleiro, fez um estudo na época da greve [dos caminhoneiros] mostrando que o litro de diesel custa para a Petrobrás entre R$ 0,92 e R$ 0,93, e estava sendo vendido por R$ 2,30. Então o lucro era superior a 150%. Dentro desse raciocínio, é perfeitamente viável conter o preço porque é um combustível social, responsável pelo transporte de pessoas, alimentos e gera um aumento generalizado em toda a cadeia.
Portanto, afirmar, como fez Bolsonaro, que os aumentos da gasolina e do diesel são causados por problemas de desvio de recursos ocorridos há mais de 5 anos, é pura fuga da realidade. É esconder a verdade. É tirar o corpo fora.
Bolsonaro citou dívidas por obras não concluídas que a empresa teve que pagar. “Falta pagar no corrente ano mais R$ 60 bilhões e aí a Petrobras volta à estaca zero. Ela pode sim trabalhar melhor e investir melhor e ter um produto mais barato nas refinarias”, disse.
Nada disso explica os aumentos dos combustíveis já que o balanço da Petrobrás tem apresentado lucros. Só para se ter um exemplo. Em agosto, por exemplo, o Conselho de Administração da Petrobrás antecipou a renumeração dos acionistas relativa ao exercício de 2021, no valor de R$ 31,6 bilhões.
A causa desses aumentos nos preços não tem nada a ver com os compromissos financeiros e o fluxo de caixa da empresa. Eles são provocados pela insistência do governo em vincular os preços internos aos preços internacionais do barril de petróleo e ao dólar. Com isso, somente em 2021 a gasolina teve um aumento de 47,49%, enquanto o óleo diesel teve o preço majorado em 49,81%. O aumento no preço dos combustíveis foi um dos principais fatores para a inflação bater os dois dígitos em 2021.