“Pelo amor de Deus! Que bobagem!”, disse Aurélio Valporto, presidente da Abradin, sobre a carta dos três economistas neoliberais chantageando o novo governo, em nome do “mercado”, contra o combate à fome e a retomada dos investimentos
O economista Aurélio Valporto, presidente da Abradin (Associação Brasileira de Investidores), criticou nesta sexta-feira (18), a carta enviada pelos economistas Armínio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva advogando, em nome do mercado, os interesses do setor especulativo da economia em detrimento dos que querem elevar a produção nacional, promover o desenvolvimento econômico do país e combater a fome.
Sobre uma das frases ditas pelos três economistas neoliberais, na carta dirigida a Lula, afirmando que o país tem juros altos “porque não é percebido como um bom devedor”, Aurélio Valporto respondeu desqualificando a afirmação. “Pelo amor de Deus! Que bobagem!”, disse o economista. “O governo coloca a taxa que quer! E ele cria demanda para os títulos”, acrescentou.
“O governo dita as regras e faz alterações sempre que quer, através, por exemplo, de resoluções e circulares do Banco Central”, explicou Valporto, em sua entrevista ao HP. “Há pouco tempo atrás as taxas de juros reais estavam negativas no Brasil (a inflação chegou a ser mais alta que os juros) e o governo não deixou de se financiar”, prosseguiu o especialista em investimentos.
Ele deu um exemplo de como funciona. “Se a demanda por títulos públicos estiver baixa a uma determinada taxa [de juros], ele baixa uma circular aumentado o limite de endividamento de instituições financeiras em títulos públicos de 30 para 40 vezes o patrimônio líquido e reduz a quantidade de títulos privados que elas podem ter”, explicou. “Enfim, títulos públicos não têm demanda por causa da taxa. A não ser que o interesse seja atrair capital estrangeiro”, explicou o economista.
“Aliás, por falar nisso”, prosseguiu o economista, “a administração das taxas de juros no governo Bolsonaro foi desastrosa. Abaixou demais, rápido demais, quando não devia, gerando uma desvalorização do Real indesejada àquela época, e subiu demais frente a um surto inflacionário que tinha sua causa no aumento de custos da economia, originado pela disparada no preço da energia, tanto combustíveis como elétrica”.
Valporto argumentou que essa decisão de subir os juros piorou ainda mais a inflação. “E nesse caso”, disse, “o aumento dos juros, outro preço básico da economia, apenas colocou mais lenha na fogueira inflacionária”. “A inflação cedeu e chegou a ser negativa nos últimos meses por conta da queda no preço da energia e de alimentos, apesar dos juros reais, entre os mais elevados do planeta, atrapalharem”, afirmou.
“Enfim”, ponderou o presidente da Abradin, “os juros estão superelevados por causa da péssima gestão da política monetária, não porque o governo teria dificuldade em financiar a dívida interna”. Ele não tem essa dificuldade”, afirmou.