“Muita gente que votou em Bolsonaro, como eu, acreditava no discurso dele. Bolsonaro é um traidor de carteirinha. Traiu o eleitor, traiu o País inteiro”, apontou o militar
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL), afirmou nesta sexta-feira (28), em entrevista à revista IstoÉ que “Bolsonaro sempre foi covarde”. “É uma característica dele. Um momento em que isso ficou perceptível foi no Sete de Setembro, quando o presidente fez um chamamento popular, uma bravata absurda na Avenida Paulista”, disse o militar.
“Pouco tempo depois”, disparou o general Santos Cruz, “ele [Bolsonaro] chamou outra pessoa para escrever meia página para se desculpar”, numa referência à carta escrita por Michel Temer na qual Bolsonaro pede desculpas pelas palavras agressivas ditas por ele contra os ministros do Supremo no ato golpista do 7 de Setembro.
Santos Cruz afirmou que as Forças Armadas não tem que se envergonhar de nada. “Não vejo que um aventureiro qualquer como Bolsonaro tenha capacidade de quebrar a cultura das Forças Armadas. Elas não têm que se envergonhar de nada. Quem tem que ficar envergonhado é quem tenta desgastá-las”, disse. “A população pode ter absoluta certeza de que as Forças Armadas não serão usadas no Brasil para golpe nenhum”, garantiu o general.
“Muita gente que votou em Bolsonaro, como eu, acreditava no discurso dele. Bolsonaro é um traidor de carteirinha. Traiu o eleitor, traiu o País inteiro. Quando você é eleito, você é presidente de todo mundo, e não só dos seus eleitores. Bolsonaro não cumpre o que fala, a começar pelo mais simples, como é o caso da reeleição. Ele dizia ser contra. Seu governo destruiu a direita e o conservadorismo”, acrescentou.
Sobre as ameaças feitas por Bolsonaro aos servidores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que eles não aprovassem o uso da vacina da Pfizer em crianças, Santos Cruz classificou de barbaridade. “Uma barbaridade e uma canalhice total. Órgãos técnicos como a Anvisa existem exatamente para fazer com que a sociedade não fique à mercê apenas de decisões políticas. Expor os servidores é uma coisa criminosa”, disse o militar.
“Ao mesmo tempo, Bolsonaro também incentiva ações contrárias a esses servidores. Isso é de uma covardia infinita. Porque o covarde nunca vai junto. Ele estimula sempre alguém a fazer. Vide o que aconteceu na greve dos caminhoneiros. Bolsonaro incentivou a paralisação. E tem gente detida até hoje”, destacou o general.
“Um componente muito forte”, destacou o militar, “foi a milícia digital”. “É muito ativa. Uma verdadeira gangue virtual, composta também por pessoas extremistas, que gostam desse tipo de populismo barato que Bolsonaro faz. Gente que aceita o presidente passeando por aí usando dinheiro público. Ou que aceita barbaridades como essa a que assistimos, expondo os funcionários da Anvisa”, denunciou.
Santos Cruz creditou a Bolsonaro boa parte da crise vivida pelo Brasil. “A pandemia afetou todos os países. Mas, aqui no Brasil, não houve liderança nesse processo. Quando há um problema sério assim, a autoridade máxima tinha que assumir as responsabilidades. Tinha que se unir aos governadores para cruzar esse período, apesar das divergências políticas. Um líder faria isso. Mas não”, afirmou o general.
“Faltou coragem a Bolsonaro para assumir essa responsabilidade, destacou o ex-ministro. “Faltou capacidade de coordenação. A partir daí, veio uma série de outros absurdos, como a propaganda que Bolsonaro fez de medicamentos ineficazes contra a Covid, como a cloroquina. Isso tudo espanta o investidor, que não quer conviver em um ambiente de insegurança. Isso faltou e ainda está faltando”, apontou.
Santos Cruz disse que ainda não decidiu seu futuro político. “Meu objetivo é que nosso próximo presidente não seja Lula, nem Bolsonaro. Hoje, meu interesse político é de que nenhum dos dois vença. Lula já teve a oportunidade dele. Não é o caso de voltar. E acho que Bolsonaro, em três anos, conseguiu mostrar que não está preparado para o cargo”, afirmou.
“É isso o que me motivou a entrar para a política. Algumas outras coisas influenciaram também. Como quando vi o fanatismo tomando conta da sociedade. O fanatismo sempre termina em violência. Passei cinco anos vivendo em ambientes assim, na África e na América Central. Vi muita gente morrer por briga causada por isso”, completou o general.
Ele definiu três fases distintas no governo Bolsonaro. “A primeira foi marcada pela influência muito forte dos extremistas nos primeiros oito meses de governo. Na segunda fase, Bolsonaro tentou abertamente usar as Forças Armadas como ferramenta de pressão política. Não deu certo, porque os militares têm uma cultura muito forte e não vão admitir esse tipo de populismo. E, quando não tinha mais nada, Bolsonaro abraçou o Centrão, que é a terceira fase do governo. Aí vieram as manobras orçamentárias. Só assim ele vem conseguindo sobreviver”, completou o general.