Valor total das dívidas da varejista soma R$ 43 bilhões. Entre os 16,3 mil credores estão BB, Caixa, BNDES, Banco da Amazônia e Finep
A Americanas, cujos principais investidores são Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, formalizou na tarde de quinta-feira (19) um pedido de recuperação judicial de R$ 43 bilhões, distribuídos em mais de 16 mil credores, em caráter de urgência, tendo obtido o benefício no final do dia. Os sócios têm grande notoriedade, entre outras casos, pela compra, há anos, das concorrente Brahma e Antártica formando uma corporação monopolista, que junto com a Coca-Cola dominam o mercado de bebidas.
“Em resumo, o valor total da dívida das Requerentes é de, aproximadamente, R$ 43 bilhões e, também de forma aproximada, 16.300 (dezesseis mil e trezentos) credores. Requerem, ainda, o prazo de 48 (quarenta e oito horas) para apresentação da lista de credores completa”, pleiteou a petição assinada pelos advogados da varejista.
A cifra, no entanto, se refere ao valor de face e não considera os juros atrelados às operações.
Os bancos públicos e instituições estatais de fomento concentram um terço da dívida da Americanas e, diante desse volume de crédito disponibilizado, a Advocacia-Geral da União (AGU) pretende ingressar como parte interessada no processo de recuperação judicial, obtida pela corporação no Tribunal de Justiça no Rio de Janeiro.
Emprestaram para a empresa, através de 19 contratos no valor de R$ 6,4 bilhões, o Banco Brasil, a Caixa Econômica, o BNDES, o Banco da Amazônia, o Banco do Nordeste e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O BB e o BNDES respondem sozinhos por quase 85% dessa dívida com bancos públicos. A varejista deve R$ 3 bilhões ao primeiro e R$ 2,4 bilhões ao segundo.
Depois da mão invisível do mercado permitir anos a fio a fraude no balanço da corporação, inclusive com o aval da PricewaterhouseCoopers (PwC), prestigiada auditoria internacional que prestava seus serviços à corporação, a Americanas vai obter o benefício do “congelamento” de bilhões em dívidas. É o procedimento padrão previsto judicialmente, até que a empresa apresente um plano de recuperação.
Outros pontos obscuros, desde o comunicado relevante do rombo ao mercado, estão sendo questionados. Os relativos as questões de informações privilegiadas. A que tempo ou pelo menos nos nove dias da presidência de Sérgio Rial poderiam ter favorecidos aqueles que tiveram acesso à situação caótica da empresa e antecipadamente venderam suas ações, se protegendo da queda previsível do valor das ações na Bolsa.
E, no tocante à distribuição de dividendos, quanto foi recebidos pelos acionistas, especialmente os majoritários, com base em lucros fictícios em todos esses anos que a fraude aconteceu.
Entre o 160 mil fornecedores, a grande maioria é de empresas de pequeno porte. O jovem Bernardo Garcia viu a empresa do seu pai falir por conta de calote da Americanas, que rompeu um contrato de cinco anos devendo meses de faturamento, sem aviso prévio.
Garcia revelou ter enviado a jornais um e-mail denunciando a responsabilidade da companhia no ocorrido, não tendo sucesso, no entanto, no seu propósito de comprometer a corporação pela conduta no caso.
“Meu pai infartou quatro meses depois da falência e ficou uma semana na UTI. Desde então, ele e seu sócio estão sob medicamentos para lidar com ansiedade e depressão. Eles perderam tudo: casa, carro, dinheiro e 40 anos de luta e esforço. Perderam também a vontade de viver. Nesses dois anos, tentam correr atrás de advogados que aceitem a causa pelo êxito, já que não possuem condições financeiras para arcar com os custos do processo. E eu, como filho, tento me desdobrar para ajudá-los financeira e emocionalmente”.
Diante dessas circunstâncias o benefício da Recuperação Judicial fica questionável. O propósito do benefício é dar ao empresário que dirige o seu negócio dentro da legalidade, diante de uma fatalidade ou mesmo de uma dificuldade, não lesiva de gestão, possa contar com a colaboração de fornecedores e outros credores para se reerguer e continuar sua operação.
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Não se preocupem com a dívida das lojas americanas com o BNDES, o Tesouro paga, afinal de contas, o Tesouro é o avalista dos grandes… entendeu ou quer que desenhe.
Não, o que queremos é que o Tesouro não pague. É muito fácil se render a essa ladroagem e depois posar de muito esperto, sem um pingo de vergonha. Não acha que é hora de acabar com essa postura ridícula, não?