
José Roberto de Souza Barbosa, conhecido como Barbosinha, amigo íntimo do atual secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, e ex-motorista da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Militar por suspeita de envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele é acusado de repassar informações sigilosas de operações policiais para traficantes da facção.
Em um episódio do podcast “Papo de Rota”, apresentado por Guilherme Derrite e exibido em 5 de junho de 2021, trouxe à tona a relação de amizade entre o atual secretário estadual da Segurança Pública e Barbosinha. No programa, gravado enquanto Derrite exercia o mandato de deputado federal (PL-SP), ele elogiou Barbosa, afirmando que era um “excelente patrulheiro”, e expressou orgulho de ter trabalhado com ele durante quase quatro anos no mesmo pelotão da Rota. No episódio, ambos também relembraram ocorrências marcantes de suas carreiras.
De acordo com reportagem do portal UOL, Barbosinha encontra-se atualmente no centro de uma investigação conduzida pela Corregedoria da Polícia Militar. Ele é acusado de vazar informações sigilosas de operações policiais para integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital). Segundo a Corregedoria, o sargento teria favorecido líderes do tráfico, incluindo Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, Cláudio Marcos de Almeida, o Django, ambos mortos em disputas internas da facção, e Sílvio Luís Ferreira, o Cebola, atualmente foragido.
O Inquérito Policial Militar (IPM) 059/319/24, instaurado em 17 de outubro do ano passado, apura o envolvimento de Barbosinha e outros policiais que atuaram na Agência de Inteligência e na seção de rádio da Rota. A investigação começou após uma denúncia anônima. Embora inicialmente focado em PMs suspeitos de colaborar com o PCC, o inquérito passou a investigar a relação entre esses policiais e o assassinato de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, morto a tiros no aeroporto de Guarulhos em novembro de 2024. Na última quinta-feira (16), 14 policiais foram presos por suspeita de participação no homicídio.
Além disso, o nome de Barbosinha foi relacionado a um esquema de bicos realizados para a empresa de ônibus Transwolff, investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) por ligações com o PCC. Ele e o sargento Alexandre Romano, também ex-Rota, supostamente prestaram serviços para a empresa. Romano, inclusive, aparece em uma planilha apreendida pelo MP-SP, que registra o pagamento de R$ 4.000 por esses serviços.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) destacou que Barbosinha “não era motorista de Derrite na Rota, mas apenas do pelotão dele” e que a relação entre ambos era limitada. A SSP reforçou que qualquer tentativa de vincular Derrite às ações de outros policiais é “mera ilação”. Ainda segundo a secretaria, a Polícia Militar é uma instituição que não tolera desvios de conduta, possuindo uma Corregedoria atuante para investigar e punir com rigor qualquer agente que descumpra a lei.
O IPM segue em andamento sob segredo de Justiça, e a reportagem não obteve resposta da defesa de Barbosinha até o momento. Caso haja manifestação, o texto será atualizado.
PCC TERIA PAGO R$ 5 MILHÕES A PMS DA ROTA
Tuta, então líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) fora do sistema carcerário, afirmou ter pago R$ 5 milhões aos PMs da Rota em troca de informações sigilosas sobre a Operação Sharks, do Ministério Público de São Paulo em 2020, que permitiram sua fuga.
A quantia foi transferida em parcelas, começando com um pagamento inicial de R$ 2 milhões, seguido de valores menores ao longo do tempo. A Rota tinha a missão de cumprir diversos mandados de prisão ligados à operação, incluindo um contra Tuta. No entanto, ao chegarem ao endereço indicado, os agentes não conseguiram localizá-lo.
As autoridades levantaram suspeitas sobre um possível vazamento de informações, que poderia ter ocorrido no próprio prédio onde Tuta residia. A situação se complicou ainda mais quando promotores obtiveram um áudio no qual Tuta afirmou: “O pessoal da R [referindo-se à Rota] salvou minha vida na Sharks”. Essa declaração gerou sérias preocupações sobre a conduta dos policiais envolvidos.
Investigadores do Grupo de Atuação Especializado no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) identificaram que os policiais militares envolvidos faziam parte do setor de inteligência da Rota. Em vez de realizar patrulhamentos visíveis, estavam envolvidos em operações discretas. Os promotores expressaram insatisfação com José Augusto Coutinho, então comandante da Rota e atualmente segundo na hierarquia da Polícia Militar, por não ter tomado as providências necessárias para apurar as denúncias, o que pode configurar encobrimento.
Em declaração, a Secretaria da Segurança Pública (SSP), afirmou que a Polícia Militar não tolera desvios éticos e garantiu que todas as denúncias são rigorosamente investigadas pela Corregedoria.
TUTA
Antes de assumir uma posição de liderança no PCC (Primeiro Comando da Capital), Marcos Roberto Almeida, conhecido como Tuta, trabalhou como adido comercial no Consulado de Moçambique, em Minas Gerais. Entre 2018 e 2019, com registro em carteira e salário de R$ 10 mil, Tuta foi responsável por temas relacionados ao intercâmbio comercial entre Brasil e Moçambique, atuando agregado à embaixada do país africano. Apesar de seus antecedentes criminais, ele apresentou certidões negativas à Justiça Federal e mineira antes de ser contratado, conforme relatado por Deusdete Januário Gonçalves, ex-cônsul-honorário de Moçambique em MG.
Em depoimento prestado em fevereiro de 2024 ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), Deusdete afirmou que, durante o período em que trabalhou no consulado, Tuta era visto como um homem “simples” e discreto, sem ostentar riqueza. O ex-cônsul chegou a descrevê-lo como “um homem de grande identidade, que desempenhava sua função corretamente”. No entanto, após ser notificado para prestar esclarecimentos sobre a ligação de Tuta com lavagem de dinheiro e o tráfico internacional de drogas, Deusdete encerrou o vínculo empregatício com o criminoso. Meses depois, em 2020, Tuta assumiu a liderança do PCC.
Tuta, que já fazia viagens em jatinhos particulares durante o período em que estava no consulado, foi condenado, junto com outros três integrantes da facção, por associação criminosa e lavagem de R$ 1 bilhão provenientes do tráfico de drogas. Apesar de ter sido cotado como sucessor imediato de Marcola, líder máximo do PCC, Tuta acabou sendo expulso da facção em 2022, acusado de enriquecer às custas da organização criminosa.
Desde então, investigadores acreditam que Tuta foi sequestrado e morto pelo tribunal do crime do PCC. No entanto, oficialmente, ele é considerado foragido.