Depois de quase três semanas após o desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, amigos pedem o seu corpo para se despedirem dele.
Quem falou em nome do grupo de amigos e parentes do jornalista foi Turan Kislakci, presidente da Associação Turco-Árabe de Mídia. Falando diante do consulado da Arábia Saudita, em Istambul, no dia 21, Kislakci, formulou a exigência às autoridades do país: “Deem-nos Jamal, para que possamos realizar um funeral para ele. Assim, pessoas que se importam com o que aconteceu a ele, líderes mundiais, possam vir aqui, a Istambul para a despedida”.
A versão publicada por jornais em todo o mundo, com base em fontes da polícia turca, é de que Khashoggi foi submetido à tortura e teve seu corpo despedaçado por uma serra óssea. O sinistro assassinato teria sido perpetrado por um esquadrão de 15 homens dos serviços de segurança diretamente ligados à realeza saudita e que entraram no dia do assassinato e saíram, quase todos no mesmo dia, em jatos contratados para a operação.
Depois de todo este tempo e de versões que foram, desde afirmar que o jornalista saíra ileso do consulado, a uma morte em “interrogatório que deu errado” e, agora, a mais recente é de que admitem que morreu dentro do consulado mas em uma briga com alguns dos presentes em seu interior. Uma das versões para a morte nessa briga, seria que ele teria morrido ao sofrer um golpe de judô com o qual o oponente o estrangulou.
“Há 18 dias, um assassinato brutal ocorreu. Como já aconteceu com Saad Hariri, pensamos que ele sairia vivo. Com o passar dos dias perdemos a esperança”, disse o jornalista turco, lembrando o caso do primeiro-ministro libanês, Hariri, que foi detido na Arábia Saudita, e depois foi solto por pressão internacional que incluiu a França, a Síria e o próprio Líbano. Hariri fora detido quando negociava a formação de um governo de salvação nacional junto com o Bloco Patriótico, do qual participam partidos que contrariam os ditames de Riad e de Washington.
A noiva de Khashoggi, Hatice Cengiz, escreveu uma mensagem de despedida: “Queremos justiça para Jamal. 18 suspeitos não é suficiente [referindo-se à declaração de que 18 pessoas estavam presas na investigação que ocorre na Arábia Saudita sobre o caso]. Queremos saber os que ordenaram o crime”.
Enquanto isso, Trump, que de início declarou que o informe saudita sobre a morte era “crível”, acabou tendo que admitir que há pontos no mínimo não esclarecidos. Perguntado sobre o paradeiro do corpo declarou: “Parece que ninguém sabe. Alguém sabe, mas ninguém dos vários grupos de investigação – a este momento – sabe”. Só esqueceu de dizer que – até pela própria Arábia Saudita – a conveniente hipótese de suicídio foi descartada.
Pensando mais um pouco, o chefe da Casa Branca acrescentou um pouco depois: “É preocupante que o corpo não tenha sido encontrado”.
Mas, membros do Congresso dos EUA não estão tão determinados a aceitar a versão saudita dos fatos. O senador pela Carolina don Sul, o republicano Lindsey Graham, afirmou que “dizer que eu sou cético a respeito da nova narrativa saudita é pouco”.
Mark Warner, membro do Comitê de Inteligência do Senado, foi mais longe: “A explicação não fica de pé diante de qualquer exame e levanta mais questões do que respostas. Deve haver uma investigação ampla e independente”.
Já Omer Celik, porta-voz do partido da Justiça e Desenvolvimento que compõe a maioria governista turca, também declara que a Turquia não se satisfaz com as “contenções usadas pelos sauditas” e que o jornalista foi vítima de “uma morte premeditada”
“Não estamos culpando ninguém por antecipação mas não vamos permitir um encobrimento”, acrescentou Celik.
“É uma questão de honra para nós que isso seja esclarecido. Vamos jogar luz sobre isso usando todos os meios em nossas mãos, como é a vontade de nosso presidente”, declarou o porta-voz.
O próprio Erdogan prometeu, para as próximas horas, “dar todos os detalhes” sobre o crime.