
O assessor de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou que “é uma ilusão” acreditar que o Brasil se fortalece comercialmente com as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para produtos estrangeiros.
Na avaliação do ex-ministro das Relações Exteriores, o Brasil se favorece das relações comerciais com vários parceiros.
Alegando haver relações comerciais prejudiciais para os EUA, Donald Trump aumentou as taxas de importação para todos o mundo. Ao recuar, manteve uma sobretaxa de 10%. Com essa política, iniciou uma guerra tarifária com a China e tem implementado uma taxação que chega a 245% o valor dos produtos chineses. Diante disso, a China responde à arrogância americana.
Amorim critica Trump e sua escalada contra o mundo e aponta que “não é tão fácil assim quanto parecia botar um tarifaço para todo o mundo”.
O anúncio das sobretaxas por Trump “criou uma tempestade global, os mercados despencaram. E continuam muito instáveis. A Europa está preocupadíssima. Até mesmo os Estados Unidos podem cair numa recessão, aliás, o país é o principal ameaçado”. “De qualquer maneira, deu uma sacudida forte aqui”.
O ex-ministro avaliou o peso da America do Sul e dos BRICS para se contrapor e resistir neste momento. “Os BRICS têm um peso grande na economia mundial, é óbvio. Quando ele se move ou faz alguma coisa, todo mundo presta atenção”, comentou.
Celso Amorim, ainda na entrevista, ressaltou que a China “tem hoje uma disponibilidade de recursos para investimento no exterior que os Estados Unidos não têm”, podendo, dessa forma, oferecer “mais oportunidades ao Brasil e menos riscos”.
Sobre as relações com a China e seu papel, o Amorim destacou que “temos um grande superávit comercial com a China, ao contrário dos Estados Unidos, com quem nós temos déficit. Se você incluir serviços, propriedade intelectual, o déficit aumenta muito mais ainda. Isso uma coisa que eles devem ter presente quando forem negociar”, continuou.
O ex-ministro avaliou o comportamento do Brasil sob a guerra tarifária imposta por Trump. “Se tiver uma tarifa sobre um produto com o qual competimos com a China, ou outro que tenha uma tarifa maior do que a nossa, temos uma vantagem. Mas sem multilateralismo nunca ganharíamos um caso como o que ganhamos o do algodão com os EUA, ou o açúcar com a União Europeia”, continuou em entrevista ao jornal O Globo.
Para o ex-chanceler, o risco de “ruptura do multilateralismo” é a “coisa mais forte e perigosa de tudo isso”. “Quando as pessoas dizem que o Brasil pode ter uma vantagem comparativa, eu acho que isso é uma ilusão. A quebra do sistema multilateral traz um prejuízo muito maior do que a eventual vantagem comparativa que, talvez, você possa ter”, acredita o assessor.