A posse do novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, mostrou alguma coisa que quase todos os brasileiros (todos os que não são diplomatas) achavam, desde a época do Barão do Rio Branco, que não existia: há imbecis completos também nos quadros do Itamaraty.
E malucos. Bota maluco nisso.
Muito erudito, o novo ministro citou:
– a novela “Direito de Nascer”, da gusana Glória Magadan, grande clássico da literatura mundial;
– o filme “Independência ou Morte”, que quase acaba com a carreira de Tarcísio Meira na época da ditadura;
– a série espanhola, da Netflix, “Ministério do Tempo” (o sujeito é realmente um intelectual);
– o roqueiro brasiliense Renato Russo (um trecho da letra de “Monte Castelo: “é só o amor que conhece o que é verdade”);
– o cantor e compositor baiano Raul Seixas (um trecho de “Ouro de Tolo” – logo essa música: “Eu é que não me sento no trono de um apartamento/ Com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”);
– uma frase supostamente – porque é possível atribuir a ele quase qualquer coisa – do escritor francês Marcel Proust (“nossos sentimentos vão se atrofiando por medo de sofrer”);
– três frases do poeta português Fernando Pessoa (aliás, Álvaro de Campos: “O poeta superior diz o que efetivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir”);
– em grego, um trecho do Evangelho Segundo João (precisamente, aquele que é o lema da CIA e da campanha de Bolsonaro: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará“);
– em tupi-guarani, versos do padre José de Anchieta;
– um grito de guerra dos gregos (os antigos) em alguma batalha, onde certamente ele esteve presente;
E terminou seu discurso com a velha saudação integralista: Anauê!
Entretanto, o galinha verde não se atreveu a pronunciar essa saudação com a clareza de Plínio Salgado e seus sequazes na década de 30.
Araújo disse: “Anuê Jaci”.
Segundo ele, essa é a versão tupi-guarani de “Ave Maria”.
Mas, certamente, não foi para traduzir Maria por Jaci – a lua dos indígenas – que ele terminou o discurso com essa saudação.
Bem, leitores, além disso, o sujeito fez um panegírico de governos fascistas (Hungria e Polônia) – e, claro, dos EUA e de Israel.
Momento particularmente emocionante foi aquele em que Araújo proclamou, com cara de nojo:
“Aqueles que dizem que não existem homens e mulheres são os mesmos que pregam que os países não têm direito a guardar suas fronteiras, os mesmos que propagam que um feto humano é um amontado de células descartável”.
[Houve um gemido na sala: “Uai, depois de citar tantos gays?”]
Mas, segundo Araújo, a preocupação da política externa deve ser com “a teofobia, o ódio contra Deus”.
Sendo assim, depois de tanta citação, temos direito também a uma.
Ouça o leitor a sensacional “Carimbador Maluco”, do finado Raul Seixas.
C.L.
Não é?