
A Agência Nacional do Cinema (Ancine) proibiu a exibição para os seus funcionários, do filme “A Vida Invisível”, do diretor Karim Aïnouz, uma produção nacional inscrita para concorrer ao Oscar 2020 e que conta com a atriz Fernanda Montenegro em seu elenco.
O filme seria exibido em um evento para a capacitação dos funcionários que trabalham no órgão responsável por pensar políticas públicas e fiscalizar a indústria cinematográfica nacional.
Os funcionários organizam mensalmente a mostra de um filme nacional com um debate com a presença de produtores. Em condição de anonimato, servidores da Ancine disseram à revista “Veja” que a sessão estava prevista para a quinta-feira (12).
A Secretaria de Gestão Interna da Ancine, comandada por Cesar Brasil Gomes Dias, informou internamente que o evento não poderia ser realizado porque o projetor da sala de exibição estava quebrado. Porém, servidores procuraram o funcionário responsável pela manutenção do local que afirmou não haver nenhum problema técnico com o aparelho.
Entre as atrizes que atuam em ‘A Vida Invisível’ está Fernanda Montenegro, que foi xingada de “podre” e “mentirosa” pelo atual secretário de Cultura, Roberto Alvim. Ele hostilizou a atriz em setembro, quando exercia o cargo de diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte. Alvim havia se irritado com uma capa da revista ‘Quatro Cinco Um’, na qual Fernanda Montenegro aparecia vestida de bruxa e em cima de uma fogueira de livros.
A proibição da exibição na Ancine foi qualificada como “censura” pelo diretor Karim Aïnouz. Em texto publicado nas redes sociais, ele também critica Bolsonaro por suas políticas de aniquilamento da cultura nacional.
Veja o texto:
Foi com muito PESAR e INDIGNAÇÃO que recebi ontem a notícia de que “A Vida Invisível”, escolha nacional para o Oscar 2020 e o qual assino a direção, foi impedido de ser projetado em um evento de capacitação para servidores da ANCINE.
Digo PESAR, pois é triste testemunhar os desdobramentos de uma política TÓXICA e COVARDE, perpetrada por um governo CATASTRÓFICO, que põe DELIBERADAMENTE em xeque a CULTURA de um país tão abundante quanto o nosso. Digo INDIGNAÇÃO, porque as ameaças serão APENAS ameaças e porque acredito, faço e continuarei fazendo de tudo para que a cultura circule à revelia dos que se apequenam e temem seu poder emancipador. Infelizmente já vi esse filme antes.
Não há meias-palavras para a CENSURA – velada ou não – e para o ANIQUILAMENTO da cultura. Não há meias-palavras para um governo do ÓDIO, do BOICOTE, do DESMONTE e da MORTE. Não há meias-palavras para uma política COVARDE que tenta se escorar na própria INCAPACIDADE e IGNORÂNCIA. Não há meias-palavras para a DESINFORMAÇÃO DELIBERADA e a MENTIRA como tática de um governo IRRESPONSÁVEL que se agarra nas beiras de tudo que é FALSO.
A “Vida Invisível” faz parte de uma safra filmes que estão servindo como prova inconteste de que o fomento à cultura tem frutos grandiosos. Os filmes nacionais lançados na última década têm tido uma belíssima trajetória nos festivais internacionais e nas bilheterias. Eles têm representado a diversidade do Brasil de maneira poderosa e positiva.
A ameaça à vida do setor é CRIMINOSA, não só nos termos da importância da indústria pujante que é o cinema nacional hoje, gerando milhares de empregos, mas também e, principalmente, se entendermos a importância crucial que a cultura exerce na sociedade. A cultura é o que nos possibilita acreditar na dignidade coletiva. Ela desarma o horror.
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