Ex-ministro de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do DF demitiu toda a cúpula do órgão e abandonou a capital às vésperas do atos terroristas para facilitar a ação criminosa dos apoiadores do governo derrotado nas urnas
O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres foi preso na manhã deste sábado (14) pela Polícia Federal ao desembarcar em Brasília, vindo dos EUA. Apesar de ter embarcado sem revelar seu sobrenome, a PF já o esperava no aeroporto brasileiro. Ele usou apenas os dois primeiros nomes, Anderson Gustavo.
Ele é acusado de participação no golpe frustrado que terminou com a depredação das sedes dos Três Poderes, na capital federal, em 8 de janeiro. A prisão de Torres foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes após os atos terroristas em Brasília.
Em uma operação de busca e apreensão em sua casa quando estava nos Estados Unidos, a Polícia Federal encontrou uma minuta de um decreto, que seria assinado por Bolsonaro decretando o estado de defesa nas instalações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para subverter o resultado da eleição presidencial. A Justiça está considerando a minuta como uma prova da preparação de um golpe de Estado.
Anderson Torres era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal quando ocorreram a invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF pelos terroristas que pregavam um golpe para derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Torres desarticulou toda a cúpula da Segurança Pública de Brasília e viajou para os EUA nas vésperas da ação terrorista em Brasília. A suspeita é que Torres tenha agido para facilitar a ação dos terroristas bolsonaristas.
Torres assumiu a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal depois de deixar o Ministério da Justiça com o fim do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mesmo com restrições por parte do novo Ministério da Justiça para assumir o cargo, ele foi nomeado por Ibaneis Rocha (MDB), governador do DF que também foi afastado do cargo pela Justiça após os atos terroristas de bolsonaristas em Brasília.
O então comandante da PM do DF, coronel Fábio Augusto Vieira, que informou ao governador que tudo estava sob controle uma hora antes do início das depredações também teve a prisão decretada por Moraes e já se entregou. Logo após o vandalismo, Torres tentou se desqueimar chamando os atos antidemocráticos de “execrável episódio”. “Em um caso de insanidade coletiva como esse, há que se buscar soluções coerentes com a importância da democracia brasileira”, disse. Mas as evidências de sua participação na ação prevaleceram..
O ex-ministro, que viajou, mesmo não estando oficialmente de férias, que só começavam no dia 9 de janeiro, foi para Miami, a mesma cidade para onde Jair Bolsonaro viajou um dia antes da posse de Lula para não passar a faixa presidencial. Ele foi levado ao 4º Batalhão da Polícia Militar (PM), no Guará, uma região administrativa da capital federal.
Em entrevista à CNN, um dos advogados que representa Anderson Torres afirmou ele não foi omisso e não tem “a mínima parcela de culpa” nos ataques em Brasília. Sobre a minuta do golpe encontrada em sua casa após diligências da Polícia Federal, o ex-ministro alegou que havia na casa dele “uma pilha de documentos para descarte, onde muito provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado”.
“Tudo seria levado para ser triturado oportunamente no MJSP. O citado documento foi apanhado quando eu não estava lá e vazado fora de contexto, ajudando a alimentar narrativas falaciosas contra mim”, destaca. A declaração está sendo interpretada como obstrução de Justiça, já que, mesmo que sua versão fosse verdadeira, ele teria que encaminhar o documento para a polícia e não fez. E ainda declarou que iria destruir a prova, o que caracteriza, no mínimo, o crime de prevaricação.
De acordo com Basília Rodrigues, agentes da PF que cumpriram a ordem de prisão relataram que, ao mesmo tempo em que o comboio ia à Papuda, carros da PF levaram o ex-ministro para o Batalhão da PM no Guará. A estratégia foi utilizada para dispersar a imprensa e garantir maior discrição à prisão de Torres, segundo Brasília.