
Ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do DF deixa decreto golpista de Bolsonaro achado em sua casa e apoio aos terroristas que atacaram o STF, Congresso Nacional e Palácio do Planalto sem resposta, por enquanto
O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres, preferiu o silêncio durante todo o seu depoimento à Polícia Federal, na manhã desta quarta-feira (18).
Ele é investigado por ter desmobilizado as tropas de segurança de Brasília para permitir o ataque terrorista dos bolsonaristas no dia 8 de janeiro.
Seu silêncio, apesar de legalmente previsto, pode ser entendido como uma tentativa de esconder os fatos criminosos de que tem conhecimento. O advogado do ex-secretário, Rodrigo Roca, negou que ele vá assinar uma delação premiada.
Segundo o colunista Gerson Camarotti, do G1, aliados próximos de Jair Bolsonaro (PL) não escondem o medo de um depoimento comprometedor de Anderson Torres e até mesmo com um cenário de delação premiada.
De acordo com esse aliados, a avaliação é que, depois da ordem de prisão de Torres por omissão em conter os atos golpistas de domingo (8) e a revelação de uma minuta de um golpe, a situação do ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) ficou extremamente delicada.
“A existência da minuta indica que Bolsonaro pensou no assunto. E Anderson Torres terá que responder quem escreveu a minuta. Bolsonaro teve participação? O incômodo no partido é muito forte, porque o PL não quer confusão. O PL é da política”, disse um influente integrante do PL.
Esses mesmos aliados de Bolsonaro consideraram fraca a explicação de Torres de que o documento foi vazado fora de contexto e que seria triturado.
Anderson Torres foi indicado para a Secretaria no dia 2 de janeiro. Ele exonerou os diretores da secretaria e viajou para Orlando, nos Estados Unidos, no dia 7 de janeiro, um dia antes do ato antidemocrático. Torres entraria de férias, autoconcedidas, somente no dia 9.
Sua prisão foi decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto Torres ainda estava nos Estados Unidos. Ele foi preso assim que pisou no Brasil, no sábado passado (14), sendo transferido para uma cela no 4º Batalhão da Polícia Militar do DF, local onde também foi colhido o depoimento do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.
DECRETO
A Polícia Federal realizou uma operação de busca e apreensão em sua residência e encontrou a minuta de um decreto presidencial que determinava “estado de defesa” no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o objetivo de anular as eleições presidenciais e manter Jair Bolsonaro no poder.
Torres admitiu que estava em posse do documento, mas falou que não era de sua autoria. Ele não disse o motivo de não ter entregue o documento à polícia ou denunciado seu autor por conspirar contra a democracia.
O interventor na Segurança Pública do DF, Ricardo Cappelli, afirmou que Anderson Torres ajudou os terroristas a acessar a Praça dos Três Poderes, onde destruíram o Palácio do Planalto, o STF e o Congresso Nacional.
“Não me parece coincidência que Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, tenha assumido a Secretaria em 2 de janeiro, trocado o núcleo da Secretaria Segurança Pública, viajado, e esse evento inaceitável tenha acontecido em 8 de janeiro”, disse o interventor.
“Eu tenho absoluta segurança de que vamos desmontar essa organização criminosa que tentou dar um golpe de estado no Brasil. É uma organização criminosa, que vai desde o financiamento e, segundo as investigações estão apurando, vai até a presença de homens profissionais no campo de batalha”, acrescentou.
Jair Bolsonaro também está sendo investigado por incitar os ataques contra a democracia. Em seu Facebook, ele publicou um vídeo que dizia que “Lula não foi eleito pelo povo brasileiro”, mas “escolhido pelo TSE e pelo STF”.
PF TENTA RECUPERAR DADOS DO CELULAR
Torres voltou ao Brasil sem o seu celular e chegou a postar em rede social que seu celular havia sido clonado no período em que estava na Flórida, nos Estados Unidos.
A Polícia Federal já não conta com o aparecimento do aparelho de Anderson Torres e começou a trabalhar na recuperação de informações pela nuvem de dados, com ajuda de equipamentos de inteligência.
Relacionadas: