A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, instalada no âmbito da Câmara Legislativa do Distrito Federal, aprovou a convocação do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário da Segurança Pública do DF, Anderson Torres.
A CPI foi criada com o objetivo de investigar, no plano distrital, as causas que provocaram os atos de vandalismo e de terrorismo por parte dos bolsonaristas no dia 8 de janeiro, quando a lei determina que a proteção das instituições republicanas – Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal – é da responsabilidade principal do governo do Distrito Federal, através de sua segurança pública.
No entanto, logo que retornou ao cargo de secretário da Segurança Pública, por ato do governador reeleito Ibaneis Rocha, Anderson Torres tirou férias, viajou para Miami (EUA), não sem antes trocar todo comando da Secretaria que estava sob sua responsabilidade.
No dia dos atentados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi obrigado a intervir na segurança pública do DF diante das flagrantes manifestações de negligência por parte dos que teriam responsabilidade de evitar a invasão das sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e impedir a depredação que está custando milhões aos cofres públicos.
Antes disso, Ibaneis Rocha, frente ao caos que ocorria na Esplanada dos Ministérios, demitiu Torres, fato que não foi suficiente para impedir o afastamento do próprio governador pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por 90 dias, prazo que expira no dia 9 de abril.
De acordo com o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), já foram aprovadas as quebras dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático de Anderson Torres, mas ainda não há data certa para colher seu depoimento.
Segundo o deputado, também aprovada a quebra dos mesmos sigilos de Antônio Cláudio Alves, acusado de quebrar um relógio trazido por Dom João VI em 1808 para o Brasil e que se encontrava no Palácio do Planalto.
Mas o parlamentar informa que o principal foco da investigação da Câmara Distrital é a ida do ex-ministro para os EUA com destino à mesma cidade em que se encontra Jair Bolsonaro, Orlando, na Flórida. “Ele tinha que estar aqui de plantão.” O parlamentar não crê no comparecimento espontâneo de Torres. “Estamos convocando ele para depor, pela primeira vez, mas talvez a gente não vá se limitar a um único convite.”
Apesar de Torres não exercer, hoje, cargo vinculado ao Distrito Federal, as investigações da CPI têm acesso a recursos que estão no mesmo patamar da investigação policial e judicial e o relatório final dos parlamentares pode instruir outras apurações sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Após o ocorrido, dois dias depois, no dia 10, a Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa do ex-ministro e encontrou a minuta de um decreto que seria assinado por Bolsonaro para perpetrar um golpe político no país, com a implantação de um estado de sítio para intervir no Tribunal Superior Eleitoral, anular o resultado eleitoral que deu vitória a Lula, entre outras excrescências golpistas.
No caso das investigações sobre Anderson Torres, esse é um dos principais documentos que estão na mira das apurações conduzidas pelo STF.
MAC