O ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres, usou a própria mãe como laranja em sua “empresa” de comércio de aves de estimação, afirmou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), que realizou uma operação em sua residência.
Na casa de Torres foram encontradas aves ameaçadas de extinção, como Bicudos e Curiós, criadas sob irregularidades, que geraram uma multa de R$ 54 mil para o ex-ministro. Pelo menos 7 aves registradas não foram encontradas.
O levantamento foi feito pela Agência Pública.
Anderson Torres passou a empresa Criadouro de Bicudos Flautas do Brasil Ltda. para o nome de sua mãe, Amélia Gomes da Silva Torres, mas ela nunca cuidou dos animais ou da empresa, servindo apenas de laranja para o filho.
A empresa, inicialmente de “criação de pássaros”, foi fundada em 2006 por José Luiz Amorim Carrão, no Guará, cidade satélite do Distrito Federal.
Em janeiro de 2021, Amélia Torres entrou na sociedade, passando a ser a administradora. Meses depois, Luiz Carrão deixou a sociedade e a empresa foi transferida para a casa de Anderson Torres, no condomínio Ville Montagne, no Jardim Botânico, ainda que ele não fosse sócio da empresa.
Na mesma casa, no entanto, constava o registro de criador amadorista de Anderson Torres.
Segundo o Ibama, Anderson Torres e Amélia Torres “informavam o mesmo endereço nos respectivos registros de criação, também compartilhado por um criadouro comercial. Essa prática é proibida pela legislação”.
Enquanto realizavam a operação na casa de Torres para verificar a situação das aves, os agentes do Ibama ouviram de Amélia “que não é nada dela, que ela não cuida de nada”, sendo tudo de Anderson Torres.
Anderson Torres também transferiu, no Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros (Sispass), para sua mãe parte das aves que criava. As transferências foram em número superior ao que é autorizado para um criador amadorista.
Em 15 de junho de 2021, quando Amélia já era, no papel, sócia-administradora da Criadouro de Bicudos Flautas do Brasil Ltda., a atividade da empresa passou de “criação de pássaro” para “comércio varejista de animais vivos e artigos e alimentos para animais de estimação”.
Na casa de Anderson Torres e sede da empresa, o Ibama identificou que estão faltando animais que estavam registrados em nome do ex-ministro de Bolsonaro.
O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse que “ou esses animais morreram, ou esses animais foram vendidos, ou esses animais estão em outros lugares. Ele vai ter que esclarecer”.
Além disso, existem indícios de que pelo menos uma ave foi capturada adulta, ou seja, através de caça ilegal. Isso porque o animal tem uma cicatriz na pata, comum em aves que tiveram a anilha de identificação colocada depois de adultas.
Segundo Agostinho, ouvido pela Agência Pública, “o tráfico de animais só existe porque tem muita gente comprando. Então a gente tenta trabalhar em várias situações. Uma é coibir quem vai tirar o animal da natureza. A outra é coibir o comércio desse animal que é considerado, além do crime ambiental do tráfico de animais, crime de receptação e de maus tratos”.
Anderson Torres está preso desde o dia 14 de janeiro, quando voltou dos Estados Unidos. Torres, que era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, desmobilizou as tropas de segurança de Brasília para permitir a chegada dos terroristas à Praça dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro.
Durante o governo Bolsonaro, o Ibama abriu mão de fiscalizar a criação de animais, facilitando a vida de traficantes de animais silvestres. A “operação Delivery”, através da qual o órgão identificava e combatia o tráfico de aves, foi encerrada.
Além disso, o Ibama deixou de exigir a comprovação de nascimento em cativeiro de uma ave para entregar as anilhas que são colocadas nas patas, passando o controle para a empresa que vende o equipamento. Dessa forma, traficantes e compradores de animais silvestres conseguem forjar a identificação de uma ave.