
O cientista político Adam Przeworski, que foi citado pelo ministro Luiz Fux em seu voto pela absolvição de Jair Bolsonaro, disse que anistia para o ex-presidente e demais golpistas seria “um desastre” para a democracia brasileira.
A anistia “seria um desastre”. “A lição de uma anistia seria clara: pode-se levar a cabo ações criminosas contra a democracia e sair impune. Encorajaria o próprio Bolsonaro e qualquer outro líder político a tentar isso”, afirmou o professor emérito da Universidade de Nova York.
Przeworski, que estuda democracias, foi citado pelo ministro Luiz Fux durante o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que defendeu a absolvição de Jair Bolsonaro e de seus comparsas. Fux foi o único ministro da Primeira Turma a não votar pela condenação.
Em entrevista ao jornal O Globo, o estudioso falou que o julgamento impressiona não somente pela decisão sobre Jair, mas também pelos golpistas que eram ligados às Forças Armadas.
“Isso é inédito no Brasil. E as Forças Armadas estão em silêncio. O julgamento mostra que Bolsonaro não sai impune, que a sua base potencial de apoio para desestabilizar a democracia foi desativada e que as Forças Armadas não vão desempenhar um papel político”, comentou.
“A democracia brasileira é muito forte. As instituições brasileiras são poderosas, e o veredicto contra Jair Bolsonaro confirma essa impressão”, avalia o estudioso.
Adam Przeworski leu o voto de Luiz Fux, mas não fez uma avaliação “do ponto de vista jurídico”. “É verdade que acadêmicos definiram a democracia de maneiras distintas. Isso justifica as ações de Bolsonaro? Isso implica que ele não tentou um autogolpe?”, questionou.
O escritor disse que “caso se declare a anistia, isso ensina a chefes do Executivo que eles não serão punidos se cometerem atos criminosos. A pior situação é a que aconteceu nos Estados Unidos, porque Trump foi ameaçado de punição, processado criminalmente por seus atos durante o primeiro governo, mas não foi punido nem impedido de reassumir. Agora, está no poder e vingativo”.
Ele destacou que Donald Trump “está se envolvendo em todo tipo de medidas de retrocesso da democracia” e, mesmo tendo sido eleito em eleições limpas, “se comporta como um potencial autocrata”.