
Na última semana, a Agência Nacional de Mineração (ANM) divulgou um parecer técnico com conclusões e recomendações ao Plano de Fechamento da Mina de Sal-Gema da Braskem em Maceió (AL). O documento foi divulgado no dia 31 de janeiro.
Segundo o relatório da Agência, o sistema de monitoramento foi eficaz por ter alertado com antecedência de cerca de 15 dias tanto o início do abatimento quanto o subsequente colapso da frente de lavra M#18. No entanto, o grupo recomenda uma avaliação técnica mais aprofundada para compreender as causas e possíveis consequências do ocorrido, bem como as implicações na própria cavidade e nas cavidades adjacentes.
A recuperação do talude da encosta do Bairro Mutange segue conforme o projeto apresentado pela Braskem, sem descontinuidades significativas. O GT-SAL, grupo de especialistas da ANM que monitora a situação das minas da empresa em Maceió, destaca a importância de medidas cautelares e estudos adicionais após a desinterdição da área de segurança, garantindo o retorno seguro de pessoal e equipamentos.
“Diante da materialização da ocorrência registrada no mês de novembro de 2023, na área da frente de lavra M#18, há necessidade de esclarecimento em relação ao critério utilizado na avaliação do risco da ocorrência de novos abatimentos abruptos uma vez que tal critério define a tomada de decisão sobre o método de fechamento da frente de lavra a ser adotado”, apontam os técnicos.
A frente de lavra M#18 ao qual os especialistas da ANM se referem no documento ficou popularmente conhecida como mina nº 18. Parte dela se rompeu em 10 de dezembro. O instante em que o solo cedeu, abrindo um buraco (uma dolina ou sinkhole, como é classificada no parecer) sob as águas da Lagoa Mundaú, foi registrado por câmeras de segurança que flagraram o redemoinho que se formou quando a água invadiu a caverna subterrânea resultante de décadas de exploração do sal-gema.
No documento, os técnicos da ANM se dizem surpresos com a “inesperada ocorrência”, já que o conjunto de informações anteriormente fornecido pela empresa “não se mostrou preciso.”
“De tais avaliações, verificou-se que, de acordo com os resultados e estimativas apresentadas, a possibilidade de ocorrência de sinkhole seria uma hipótese remota de ocorrência, com indicação de redução progressiva do risco associado, porém jamais descartada […]”, acrescentam os especialistas, destacando que, com base no que vinha sendo reportado, a frente de lavra M#18 tinha sido inserida no grupo de cavidades a serem preenchidas com material sólido – processo que estava começando quando parte dela se rompeu, o que, na avaliação do grupo técnico, “indica que toda a bacia ainda apresenta sinais de instabilidade”.
“Todos os elementos levantados, monitorados individualmente ou em conjunto, não permitem, atualmente, definir ou estimar, com suficiente grau de certeza, o comportamento do maciço, [conforme] demonstrado pela movimentação atípica no entorno da frente de lavra M#18”, concluem os técnicos, alertando que “ocorrências semelhantes não podem ser descartadas em outros setores [cavidades] da mina, no decorrer do tempo, visto que a subsidência [afundamento] continua ativa.”
Três minas tiveram cavidades medidas pela última vez em 2019 pelo método sonar, sendo o instrumento que detecta a presença de corpos sólidos a partir da propagação sonora, segundo o relatório. Além disso, há outras que nem sequer estão com monitoramento pelo método de piezômetro, sendo dispositivos que monitoram nível, pressão e condutividade hídrica da água no solo.
Quinze minas não estão pressurizadas, ou seja, não estão preenchidas devidamente e, por isso, a cavidade sofre com desabamentos, o que a faz, na prática, subir em direção ao solo.
RECOMENDAÇÕES
Considerando a “surpreendente e inesperada ocorrência abrupta” em parte da mina e outras constatações, os membros do grupo técnico sugerem à Gerência Regional da ANM em Alagoas exija que a Braskem apresente, no prazo legal, um relatório apontando as causas, consequências e justificativas para o rompimento de parte da mina, além da análise de risco de eventos semelhantes voltarem a ocorrer em outros pontos monitorados.
Entre outras medidas, o GT-Sal também propõem que sejam cobrados, da empresa, uma justificativa técnica para ainda não ter iniciado o preenchimento de outras frentes de lavra, bem como um gráfico atualizado sobre o acompanhamento de tendência de afundamento do solo e um cronograma de fechamento de frentes de lavra que estão sendo monitoradas, mas em relação às quais ainda não há definição quanto ao método a ser empregado (M#03, M#15, M#20, M#21, M#29 e M#34).
- Confira as exigências da ANM à Braskem:
Relatório com análise das causas e consequências bem como justificativas sobre o abatimento abrupto na área da mina 18, cuja ocorrência era considerada improvável por consultorias contratadas pela empresa; - Análise de risco acerca da possível ocorrência de novos eventos de movimentação do terreno ou abatimentos, envolvendo a própria frente de lavra da M#18, frentes de lavra adjacentes a essa ou de possíveis colapsos em outras cavidades não pressurizadas;
- Justificativa técnica para o não preenchimento de outras frentes de lavra não pressurizadas, não contempladas no grupo específico planejado, especialmente que tenham migrado para fora da camada salina, considerando que qualquer outra metodologia de fechamento a ser executada não oferece garantia de estabilidade, eliminação do processo de subsidência e eliminação do risco de sinkhole (buraco);
- Gráfico de tendência contemplando as leituras de subsidência antes e após o evento ocorrido na área da frente de lavra M#18 e imediações, bem como a interpretação dos resultados;
- Relatórios com dados atualizados da geometria e georreferenciamento de todas as cavidades não pressurizadas, bem como resultados consolidados e interpretados das leituras de monitoramento das demais cavidades com o controle de pressão ativo;
- Simulações com a utilização do modelo 3D elaborado, considerando os parâmetros envolvendo o abatimento ocorrido na M#18 e a possibilidade de ocorrência de outros eventos semelhantes;
- Atualização da representação gráfica dos grupos de cavidades, contemplando vistas superiores e inferiores, e vistas laterais nas quatro direções, incluindo as dimensões aproximadas dos pilares remanescentes e a integração e verificação de possíveis interligações ou interferências entre elas;
- Previsão de prazo para a apresentação da proposta de fechamento das frentes de lavra sem definição do método de fechamento, que estão em monitoramento recorrente (M#03, M#15, M#20, M#21, M#29 e M#34);
- Quais as alternativas de fechamento estão sendo avaliadas para execução nas frentes de lavra não pressurizadas dentro e fora da camada de sal que se encontram atualmente no status de monitoramento, de acordo com as tendências dos resultados dos registros até o presente;
- Previsão ou programação para a realização de novos exames de sonar das frentes de lavra M#09, M#12, M#22, M#23 e M#33 para uma melhor avaliação da evolução das cavidades associadas e, especialmente, com relação à frente de lavra M#18;
- Atualização dos cronogramas de execução das atividades de fechamento da mina.