Em depoimento, Daniele Lima informou que o motorista entrou rapidamente na associação com o carro e que pode ouvir ele dizendo “aqui é Bolsonaro”, além de palavras de baixo calão. Disse que, logo em seguida, ela passou a ouvir vários disparos de arma de fogo
Daniele Lima dos Santos, vigilante que trabalha na região da associação, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, onde Marcelo Arruda, tesoureiro do PT, foi assassinado, afirmou em depoimento que ouviu o policial penal Jorge Guaranho gritar “aqui é Bolsonaro” pouco antes de atirar. Daniele relatou à Polícia Civil que logo após os gritos do policial penal pôde ouvir vários tiros.
Em seu depoimento, Daniele Lima dos Santos relatou que ele gritou a mesma coisa na 1ª vez em que passou pelo local onde ocorria a festa de Marcelo Arruda. O depoimento é mais uma evidência de que a conclusão da delegada da polícia civil, Camila Cecconello, de que não houve motivação política para o crime não se sustenta. Testemunhas disseram que o policial penal chegou em um carro com a mulher e um bebê. Além disso, o carro do atirador tocava bem alto uma música de apoio a Jair Bolsonaro (PL) e ele gritava “aqui é Bolsonaro!
Conforme o documento, Daniele disse que no dia do crime estava fazendo vigilância na região quando viu um carro entrando na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, na Vila A, com Jorge Guaranho e uma mulher dentro. “Ela relatou que prosseguiu com a ronda na rua e, então, avistou este veículo saindo bruscamente do local, o que causou estranheza. Disse que após certo tempo viu o mesmo veículo se aproximando em alta velocidade, sendo que teve que jogar sua motocicleta para o lado, pois percebeu que o condutor do automóvel não iria parar”, diz o relatório.
Daniele informou, ainda, que o motorista, ao voltar, entrou rapidamente na associação com o carro e que pode ouvir ele dizendo “aqui e Bolsonaro” novamente, além de palavras de baixo calão. “Disse que, logo em seguida, ela passou a ouvir vários disparos de arma de fogo. Afirmou que o condutor do veículo vinha em direção à depoente e que se ela não tivesse jogado a motocicleta para a lateral, ele teria a acertado”, conforme documento.
A delegada disse que Guaranho atirou contra Marcelo por ter se sentindo ofendido, já que o petista jogou um punhado de terra e pedra contra o carro dele, após provocação política. Entretanto, a delegada afirma que a morte não foi provocada por motivo político, por ter entendido que os disparos tenham sido feitos em um segundo momento, após a escalada da discussão.
Outro dado que desmente a versão da defesa do assassino, de que ele teria ido ao local por acaso, numa ronda, foi a informação, confirmada pela polícia civil, de que o assassino estava em um churrasco, quando ficou sabendo que a festa de Marcelo estava acontecendo na associação. Segundo as investigações, o atirador tomou conhecimento por meio de uma outra pessoa que estava no churrasco e tinha acesso às imagens de câmera de segurança da associação onde o aniversário de Marcelo estava acontecendo. Ele se dirigiu ao local, segundo a polícia, para fazer uma provocação.
O crime aconteceu em 9 de julho. Marcelo Arruda foi baleado na própria festa de aniversário, que tinha como tema o PT e o ex-presidente Lula. Ao ser atingido por Guaranho, o tesoureiro do PT, que era policial, diante das ameaças do provocador, foi até o carro e pegou sua arma funcional e revidou.
O próprio inquérito confirma que Marcelo tinha se armado para se defender, sabendo do provável retorno do provocador. “A vítima pega a sua arma de fogo como proteção de um eventual retorno do autor. E a vítima aponta a arma de fogo quando vê a volta do autor, porque já sabia que o autor estava armado. Então, é uma atitude natural da vítima querer se defender”, diz o relatório. O assassino, que foi atingido, segue internado no hospital, sem previsão de alta. Na sexta-feira (15), ele foi indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe.
A delegada Camila Cecconello disse que Guaranho atirou contra Marcelo por ter se sentindo ofendido, já que o petista jogou um punhado de terra e pedra contra o carro dele, após provocação política. Entretanto, a delegada afirma que a morte não foi provocada por motivo político, por ter entendido que os disparos tenham sido feitos em um segundo momento, após a escalada da discussão. A conclusão foi duramente criticada por especialistas que veem nela um erro gravíssimo e um estímulo à violência política.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a polícia tenta minimizar o caso. “A Polícia Civil do Paraná concluiu que não foi crime político porque não impediu ninguém de exercer seus direitos. Fica difícil Marcelo exercer esses direitos estando morto, não? Negar a natureza de crime de ódio ao caso é uma tentativa covarde de apagar essa tragédia!”, escreveu nas redes sociais.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) foi na mesma linha. “Um atípico inquérito a jato, para uma conclusão estapafúrdia, que confronta fatos e evidências visíveis a olho nu. É lamentável que um delegado se preste a fazer o jogo bolsonarista, em detrimento de seus deveres”, escreveu.