Em artigo especial para o HP, o sociólogo, jornalista e escritor Antonio Abal analisa como a autoproclamada Jeanine Áñez, se candidatou à presidência da Bolívia buscando “garantir sua imunidade”. “É buscando a impunidade”, ressaltou o jornalista e intelectual potosino, que Áñez colocou transnacionais ligadas aos interesses dos Estados Unidos para serem as “encarregadas do manejo técnico das eleições”, ao mesmo tempo em que trabalha “o assessoramento de países como Israel, especialistas em aplicar o terror e a tortura como mecanismo de submissão da sociedade”. Ex-vice cônsul na Argentina durante a gestão do Movimento Ao Socialismo – Instrumento Político para a Soberania dos Povos (MAS-IPSP), Antonio Abal condenou “o cenário político delinquencial que se apropriou do governo” e defendeu que os bolivianos deem a resposta elegendo Luis Arce e David Choquehuanca nas eleições do próximo dia 3 de maio.
L.W.S.
ANTONIO ABAL*
Cinco ministérios do atual governo foram surpreendidos com atos de corrupção. Os campeões do discurso de transparência e honradez nos demonstraram como os seus militantes degustam.
Como ficou claro, chegaram para saquear o país, para devolver os privilégios aos poderosos de sempre; para remover toda a possibilidade de políticas sociais aos setores vulneráveis.
Multiplicam os casos de corrupção, não aplicam as normas legais. Se fosse um governo que respeitasse as leis, cinco ministros já deveriam ter renunciado, porque são as máximas autoridades executivas. O mesmo podemos dizer de dois ministros; o de Governo e o de Defesa, que se negam a prestar contas de seus atos à Assembleia Legislativa Plurinacional.
NEPOTISMO COMO MECANISMO DE SAQUE
Todos estes fatos nos ajudam a configurar o cenário político delinquencial que se apropriou do governo. O nepotismo como mecanismo de saque não foi desmontado. Qual é o sentido de todos estes atos?
A candidatura de Jeanine Añez não é casual, responde ao temor de ser julgada pelo próximo governo por todos os casos que vão se acumulando, desde a decomposição das instituições que deveriam proteger o Estado, como a Polícia e as Forças Armadas; bem como pelo desmantelamento das principais empresas do Estado como a ENTEL (Empresa Nacional de Telecomunicações), BOA (Boliviana de Aviação), fábricas de ureia e de cimento, entre outras.
Contar com uma bancada no Congresso lhe garante, pelo menos, um mecanismo eficiente para frear as iniciativas de seu julgamento num futuro próximo.
O ditador Hugo Banzer fez o mesmo. Construiu um partido político que reduzisse a possibilidade de ser julgado, chegando inclusive ao assassinato de seu principal denunciante: Marcelo Quiroga Santa Cruz. Agora a golpista está aplicando a mesma estratégia. Não devemos ser enganados, não são democratas, não são honestos e não têm interesse em consolidar um Estado digno, transparente e soberano.
O “bem-viver”, como proposição ideológica de uma nova ordem, que respeite a diferença, a interculturalidade, as identidades e as diferentes formas de economia foi o maior desafio da sociedade boliviana no século 21.
ARCE E CHOQUEHUANCA
O atual binômio do MAS (Movimento Ao Socialismo) encarna esse olhar histórico. Luís Arce, artífice da estabilidade e solidez do modelo económico, reconhecido por instituições de prestígio mundial, divide com David Choquehuanca a tarefa de reconstruir o caminho de Qapaj Ñan (caminho da plenitude) interrompido pelo golpe sangrento e ultraconservador.
Para garantir sua imunidade, o atual governo condicionou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), permitiu que transnacionais ligadas aos interesses dos Estados Unidos sejam as encarregadas do manejo técnico das eleições, solicitou o assessoramento de países como Israel, especialistas em aplicar o terror e a tortura como mecanismo de submissão da sociedade.
O discurso de pacificação do país é somente um chamariz para despistar os incautos. Todos os cidadãos somos vítimas do terrorismo de Estado, que castiga, com perseguição política, e não permite o exercício dos direitos humanos, como são o direito à vida, o direito à opinião e comunicação, o direito à organização, à identidade e ao livre pensamento.
Somente a vontade popular pode reverter esta situação, são os movimentos sociais, que já venceram o medo, os que defenderão o Estado Plurinacional.
* Antonio Abal é sociólogo, escritor e jornalista boliviano,