O diretor do Instituto Butantan, que coordena os testes da vacina chinesa contra o coronavírus no Brasil, afirmou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve acelerar o processo de liberação do imunizante para que seja possível iniciar a vacinação em massa em janeiro.
“A Anvisa tem se manifestado que está acompanhando esse processo (de testes da vacina) muito de perto e que vai acelerar seus procedimentos burocráticos. Não deve haver nenhum problema com a burocracia, pelo contrário, eles querem agilizar muito esse processo. Se tudo correr bem, no começo do próximo ano já poderemos estar vacinando a população”, afirmou Dimas Covas em entrevista à GloboNews, nesta segunda-feira (31).
A vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac está sendo testada em voluntários brasileiros em 12 centros de pesquisas do país. No momento, 2 mil pessoas estão em teste no Brasil. Ao todo, 9 mil pessoas participarão.
“Os testes devem evoluir muito rapidamente e vamos incluir os 9 mil voluntários antes do fim de setembro, o que vai permitir a análise dos testes de eficácia antes do final desse ano”, explicou Dimas Covas.
A liberação pela Anvisa vai depender se a última fase de testes mostrar que a Coronavac é realmente eficaz e segura.
Até agora, estudos mostraram que nenhum voluntário teve reação adversa grave que tenha comprometido a segurança da vacina. Alguns participantes tiveram apenas leve dor no local da aplicação.
Na China, essa vacina já foi liberada emergencialmente e está sendo aplicada desde julho. Por enquanto, pessoas consideradas do grupo de risco ou mais expostas ao vírus, como médicos, estão sendo imunizadas.
“Esse uso emergencial começou em julho e faz parte de uma ampla avaliação da segurança da vacina. Ela foi ampliada em 24 mil chineses e isso determinou qual é o perfil de segurança da vacina. A ocorrência de efeitos colaterais foi muito baixa, em torno de 5%, nenhum efeito colateral grave. O efeito mais frequente foi dor no local da injeção e as manifestações febris não chegaram a 0,18%”, relatou Dimas Covas.
“Então isso é uma boa notícia, de que a vacina seguramente é uma das mais avançadas do mundo nesse momento, com um perfil de segurança muito apropriado e até com desempenho muito satisfatório em relação a outras vacinas que estão sendo testadas”, acrescentou.
Estagnação no “platô” da Covid-19 preocupa
A média móvel de novas mortes, que registra as oscilações dos últimos sete dias e elimina distorções entre um número alto de meio de semana e baixo de fim de semana, foi de 875 a cada 24 horas pelo novo coronavírus, nesta segunda-feira, 31. Este é o menor número registrado desde o dia 21 de maio, quando foi contabilizada uma média móvel de 870 óbitos.
Até o dia 31 de agosto, o Brasil já contabiliza 121.381 mortes e 3.908.272 casos de Covid-19, segundo o levantamento do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).
O Brasil estagnou-se em um patamar estratosférico de atualizações diárias, com média de mil mortes e 40 mil novas infecções. Para especialistas, pequenas variações entre uma semana e outra não indicam mudança desse cenário. A redução de novos casos e óbitos é muito mais lenta do que foi o avanço.
Os dados apontam que o país não consegue nem mesmo sustentar uma queda da taxa de transmissão (Rt) da Covid-19, que, na última semana, voltou a subir. Após chegar a 0,98, com o fechamento da 33ª semana epidemiológica, a nova avaliação do Imperial College de Londres indicou que o Brasil voltou ao índice de 1, quando a doença alcança níveis considerados de descontrole. O número simboliza que cada infectado transmite a doença para uma outra pessoa saudável, mantendo a alta circulação do vírus.
Com isso, o Brasil voltou ao rol de nações nas quais a doença é considerada ativa. O Brasil ficou por 16 semanas consecutivas com Rt acima de 1, sendo o país da América Latina com mais longa permanência nos altos patamares de transmissão. “O que observamos é uma flutuação da curva, não é uma baixa. Em uma semana desce, mas na outra, sobe. Esse é um comportamento quase que único no mundo inteiro, a despeito do discurso do governo”, afirmou o pesquisador Domingos Alves, um dos responsáveis pelo Portal Covid-19 Brasil.