“Ao banir agência da ONU, Israel acirra genocídio do povo palestino”, diz médico inglês

Professora dá aula de matemática em escola mantida pela agência da ONU em Gaza (AFP)

Professor de Políticas Humanitárias na University College de Londres, o médico James Smith denuncia o ataque à UNRWA, agência que dá sustentação a escolas, postos de saúde, fornece alimentos, a milhões de palestinos refugiados das guerras de agressão israelense, que foi criada por resolução da ONU logo após a catastrófica limpeza étnica de 1948

“O banimento das atividades da UNRWA (Agência da ONU para Ajuda e Atividades) por parte de Israel é mais uma declaração do seu intento genocida. O ataque à Agência não é apenas porque ela traz à memória o direito de retorno dos palestinos, mas porque ela ajuda a nutrir, educar e prestar serviços de saúde aos palestinos”, diz o médico inglês James Smith.

As declarações de Smith, que é professor em Políticas Humanitárias na College University de Londres, vêm depois que o Knesset, parlamento israelense, aprovou proibição da UNRWA alegando que a entidade seria um “grupo terrorista”.

A Agência foi criada pela ONU e é administrada por ela, inclusive indicando seus diretores. A resolução foi aprovada em 1948, logo após a Nakba (a Catástrofe, que se abateu sobre o povo palestino tornado refugiado em sua própria terra quando teve que abandonar cidades e aldeias, com mais de 400 destruídas, sob terrorismo israelense levando centenas de milhares de palestinos ao êxodo forçado).

“Dada a elevada ameaça existencial que o Estado de Israel impõe ao povo palestino, mais obstrução aos programas da UNRWA terão implicações imediatas e catastróficas para milhões de palestinos”, acrescenta o médico inglês.

Seguem mais alguns trechos destacados por nós a partir deste artigo de James Smith, originalmente intitulado “Banimento da UNRWA por Israel é mais uma declaração do seu intento genocida”:

“Nenhuma organização pode substituir a UNRWA e seus programas de cobertura, capacidade logística e operacional. Somente em Gaza, a Agência realizou 6 milhões de consultas médicas e forneceu assistência alimentar a quase 2 milhões de pessoas desde outubro de 2023.

Logo depois as votações no Knesset, representantes de diversas agências e órgãos da ONU se opuseram às medidas.

O secretário-geral Antonio Guterres defendeu que a UNRWA é “indispensável” enquanto que o diretor da Organização Mundial de Saúde, Tedros Ghebreyesus insistiu que a Agência é “insubstituível”.

Sabendo que nenhuma agência pode substituir a UNRWA e, ainda assim, testando incapacitar seu trabalho de sustento de vidas é uma clara declaração de intento genocida.

Isto representa um óbvio menosprezo pela resolução da Corte Internacional de Justiça de Haia, de 26 de janeiro de 2024, incluindo a mais direta, Declaração Quatro que ordena a Israel a garantia de provisão “de serviços básicos necessários e assistência humanitária para mudar as adversas condições de vida” entre os palestinos.  

Em sua segunda ação à Corte de Haia em março do ano passado, a equipe legal da África do Sul, em apelo enfático, citou vários várias ações tomadas por Israel, incluindo o bloqueio do corpo docente de chegar às escolas e o corpo médico de chegar aos postos de saúde da UNRWA, a suspensão do envio de mantimentos e ainda tentativas de expulsar a UNRWA de sua sede central em Jerusalém: “Crianças palestinas estão esfomeadas até a morte como resultado de atos deliberados e omissões de Israel – em violação da Convenção sobre Genocídio e à determinação da Corte, isso inclui as tentativas deliberadas de manietar a UNRWA”.

Israel tem, repetidamente instrumentalizado a privação de alimentos e destruição restrita de ajuda humanitária como pilares de sua ocupação, que inclui mais recentemente com instigação por deslocamento para fora de Gaza e a realização de punição coletiva [no mais escrachado estilo nazista]. Esta estratégia antecede, há muito tempo, outubro de 2023 – quase toda a população de Gaza é forçada a depender de ajuda humanitária.

Israel tem a obrigação básica legal, como potência ocupante, de garantir o suprimento adequado de ajuda humanitária e da manutenção de serviços essenciais em Gaza.

237 integrantes da equipe da UNRWA foram mortos; muitas das clínicas e abrigos foram destruídos; aos caminhões falta combustível para operar, a maior parte dos moradores de Gaza foram forçados ao deslocamento dentro da Faixa submetidos a ordens ou ocupação militar direta. Quando a ONU solicita passagem de seus comboios para o interior de Gaza, tem frequentemente a negativa por parte de Israel.

Um ano antes da Assembleia Geral da ONU haver votado o estabelecimento da UNRWA, a Assembleia aprovou a Resolução 194, que afirma o direito de retorno dos refugiados palestinos e a necessidade de reparação para aqueles que foram forçados a se instalar em outros lugares.

A mesma resolução estabeleceu a Comissão de Conciliação da ONU (UNCPP, sigla em inglês), a qual foi encarregada de atualizar o direito de retorno.  A UNCPP enfrentou resistência persistente por parte do recém-criado Estado de Israel. Um informe anual é submetido até hoje à Assembleia Geral em nome da UNCPP.

Na tentativa de ofuscar os verdadeiros fatos, autoridades de Israel acusam a UNRWA por “perpetuar o problema dos refugiados palestinos”, ao invés de assumir a responsabilidade israelense e de aliados no fracasso coletivo de uma solução política justa.

O reconhecimento irrevogável do direito palestino ao retorno é visto por Israel como ameaça a sua existência, uma vez que a sua fundação, por assentamento colonial, demandava a limpeza étnica dos palestinos e a violenta subjugação dos que permanecessem.

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