“Não se está duvidando, ou achando isso ou aquilo outro. É simplesmente um espírito colaborativo”, disse o general Paulo Sérgio em audiência na Câmara. Já Bolsonaro segue insistindo nos ataques às urnas eletrônicas
Diferentemente do que vem pregando e fazendo Jair Bolsonaro nos últimos tempos, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, negou nesta quarta-feira (6), em audiência na na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, que as Forças Armadas coloquem em dúvida o processo eleitoral.
“Não se está duvidando, ou achando isso ou aquilo outro. É simplesmente um espírito colaborativo. Esse é o espírito da equipe das Forças Armadas. Desde o início estamos sempre prontos, permanecemos colaborativos para melhoria do processo”, afirmou o ministro. “Só isso. Não tem outro viés”, destacou.
Já Bolsonaro, pré-candidato em grandes dificuldades para concretizar seu plano de reeleição, vem levantando suspeitas sem provas sobre a urna eletrônica, afirmando que não são auditáveis — embora sejam — e defendendo a aplicação de voto impresso, considerado um retrocesso pela Justiça Eleitoral. Seu comportamento é típico de quem prepara o terreno para tentar tumultuar o processo eleitoral e questionar o seu resultado.
As ameaças de Bolsonaro são tão graves que levaram o ministro Edson Fachin a alertar, nesta quarta-feira (6), que há risco do Brasil passar por um evento mais grave do que a invasão ao Capitólio de Washington, ocorrido em 6 de janeiro do ano passado, quando partidários do então presidente derrotado dos EUA, Donald Trump, invadiram as dependências do Congresso para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden.
“O que tem sido dito no Brasil… é que nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do 6 de janeiro daqui, do Capitólio”, disse Fachin, em palestra no Wilson Center, em Washington.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constituiu uma comissão formada por representantes de todas os segmentos da sociedade para aprimorar o sistema eleitoral brasileiro. O processo do país é elogiado no mundo inteiro como um dos mais modernos e seguros do planeta.
As Forças Armadas também integram a Comissão de Transparência das Eleições e apresentaram várias sugestões de mudanças que foram acatadas. O órgão foi criado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em setembro do ano passado para discutir medidas que possam ampliar ainda mais a transparência e a segurança das eleições. O método de votação usado no Brasil foi resultado de um trabalho de mais de 60 anos e, desde sua implementação, em 1996, nunca houve fraude numa eleição, segundo a Justiça Eleitoral.
Paulo Sérgio Nogueira foi convidado pela Câmara dos Deputados porque teria havido queixas, por parte do ministro, de que medidas sugeridas pelos militares não teriam sido levadas em conta pela Corte. “Sabemos muito bem que esse sistema eletrônico precisa sempre de aperfeiçoamento. Não há programa imune a um ataque, imune a ser invadido”, disse Nogueira durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.
O TSE nega que isso tenha ocorrido e reafirma que respondeu a todas as sugestões apresentadas pelas Forças Armadas, aceitando várias delas e recusando algumas. Outras sugestões que chegaram fora do prazo legal serão analisadas e adotadas ou não nos próximos pleitos. Nas eleições deste ano há um prazo legal a ser cumprido. Além disso, o tribunal, que é o responsável constitucional por comandar o pleito, voltou a frisar que o processo é seguro e que não aceitará nenhuma ingerência externa na condução do processo.