Foram torrados R$ 48 milhões numa auditoria que produziu relatório de oito páginas sem nada. Montezano tentou justificar dizendo que “auditorias são caras mesmo”
Jair Bolsonaro assumiu o governo dizendo que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tinha cometido grandes irregularidades e que abriria a caixa-preta do banco logo nos primeiros dias de sua administração. Demitiu Joaquim Levy e nomeou Gustavo Montezano porque passava o tempo e nada aparecia.
Montezano foi apresentado a ele como tendo o perfil que ele precisava para arrombar a tal caixa-preta. Tinha sido condenado por arrombar a porta do condomínio onde morava em São Paulo.
Passou de novo o tempo e a única coisa que apareceu foi o escandaloso gasto de R$ 48 milhões para fazer a auditoria do banco.
O relatório foi divulgado no início de janeiro sem nenhuma irregularidade. Ou melhor, a grande irregularidade que veio a público foi exatamente o gasto de R$ 48 milhões para as duas empresas.
O escritório Cleary Gottlieb Hamilton & Steen LLP e Levy & Salomão Advogados apresentaram um relatório de oito páginas.
Ou seja, cada página custou R$ 6 milhões e nada de caixa-preta. Esse gasto milionário é mais um escândalo do governo Bolsonaro. Ex-diretores do banco disseram que o preço inicial do estudo era 25% do que saiu no final. Aditivos foram feitos já na atual administração.
Diante do vexame da “espetacular” abertura da caixa-preta que não aconteceu, Jair Bolsonaro se irritou também com Gustavo Montezano. Ele criticou na terça-feira (28) o termo aditivo de contrato para realização da auditoria do BNDES. Segundo o presidente, “houve um erro”.
“Informações que tenho até o momento: essa auditoria começou no governo Temer. E teve dois aditivos. O último aditivo parece, não tenho certeza, seria na ordem de R$ 2 milhões. E chegou a R$ 48 milhões no final. Tá errado, tá errado”, disse ele, ao tentar tirar o corpo fora do escândalo.
Montezano tentou justificar o gasto absurdo dizendo que “auditorias são caras mesmo”. E que a auditoria que resultou nas oito páginas mais caras do mundo foi “mal interpretada pela sociedade”.
“Tivemos essa notícia que foi mal interpretada pela sociedade novamente”, afirmou Montezano, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. “Dentro da nossa política de divulgar tudo o que achamos que é necessário, a gente recebeu essa informação e soltou para o mercado”, acrescentou.
Sem “caixa-preta”, Bolsonaro virou as baterias para o pupilo. “Tem coisa esquisita aí”, disse.
“Parece que alguém quis raspar o tacho. Não sei se vou ter tempo para estar com Paulo Guedes hoje, parece que ele está em Brasília. É o garoto lá [Gustavo Montezano, presidente do banco], foi o garoto, porque, conheço por coincidência desde pequeno, o presidente do BNDES é um jovem bem intencionado. E ele que passou as informações disso que falei para vocês agora que são os aditivos. A ordem é não passar a mão na cabeça de ninguém. Expõe logo o negócio e resolve”, acrescentou.
As únicas cabeças que podem ser acariciadas é a do filho, Flávio, a do seu operador Queiroz e de alguns outros protegidos do Planalto.
Gustavo Montezano é um arruaceiro bem ao estilo miliciano bolsonarista. Ele foi condenado em 2015 por arrombar, no meio de uma madrugada, dois portões do edifício onde morou em São Paulo porque queria dar continuidade à sua festa de aniversário com mais de 30 convidados. A festa havia sido iniciada em outro local e ele queria continuar no seu prédio.
As normas do condomínio não permitiam que isso ocorresse. Ele então arrombou o portão e foi denunciado pela administração. O ato de violência, caracterizado pelo juiz que o condenou, como “arrastão”, foi todo filmado pelas câmaras de segurança do condomínio. Por coincidência um dos convidados do arrombador era Eduardo Bolsonaro.
Informado do ocorrido, Bolsonaro achou que tinha encontrado o perfil que ele precisava para fazer a encenação e a demagogia da “caixa-preta” do BNDES. Um arrombador desqualificado.
O resultado final é que se gastou R$ 48 milhões do BNDES em uma auditoria encomendada a uma empresa estrangeira e outra brasileira. Depois de mais de um ano a montanha pariu um rato. O que saiu foi que não houve nenhuma ilegalidade. Ou seja, o “arruaceiro” não arrombou a caixa-preta, o que ele fez foi arrombar o cofre do BNDES.