Uma “oportunidade histórica” que exige que “o mundo árabe invista na atmosfera positiva de reconciliação que precedeu a cúpula da Liga Árabe”, enfatizou o presidente sírio no encontro da entidade em Jeddah, na Arábia Saudita
Com a Síria reintegrada à Liga Árabe depois de uma década, o presidente sírio Bashar Al Assad disse na cúpula de Jeddah na Arábia Saudita, recém concluída na sexta-feira (19), que “hoje temos a oportunidade de mudar a situação internacional, que assumiu a forma de um mundo unipolar, resultado do domínio ocidental”.
Uma “oportunidade histórica” que – acrescentou Assad – exige que “o mundo árabe se reposicione e invista na atmosfera positiva de reconciliação que precedeu a cúpula de hoje”, se referindo à retomada de relações diplomáticas entre Teerã e Riad, sob mediação da China, e de Riad e Damasco.
“DOMINAÇÃO OCIDENTAL CARECE DE PRINCÍPIOS MORAIS”
Assad também destacou a necessidade de consolidar a cultura árabe diante do “liberalismo moderno”, que visa despojar os árabes de “sua identidade”. Para ele, a ordem mundial sob o tacão ocidental é “desprovida de quaisquer princípios morais”.
A volta da Síria à Liga Árabe fora deliberada na semana anterior. Fundadora da organização em 1945, a Síria teve sua adesão congelada em 2011, quando os estados do Golfo em peso apoiaram a guerra por procuração movida por Washington, que patrocinou uma violenta revolta armada contra o governo Assad, que ia da Al Qaeda e, inclusive, Estado Islâmico, até à Irmandade Muçulmana e outros supostos ‘moderados’.
Com a ajuda do Irã e dos irmãos libaneses do Hezbollah, mais a chegada das forças e aviação russas atendendo a convite de Damasco, a Síria virou a guerra, faltando agora libertar a província de Idlib, mais os campos de petróleo e os trigais do leste do país, estes, ocupados por tropas dos EUA e colaboracionistas curdos.
Referindo-se aos conflitos na Síria, Líbia, Iêmen, Sudão e outras áreas, Assad alertou que você não pode tratar uma doença apenas tentando aliviar os sintomas, mas abordando a causa raiz. “O mais importante é deixar os assuntos internos dos países para o povo, porque são eles que podem administrar seus assuntos. Só temos que evitar interferências externas em seus países”, conclamou o presidente sírio.
Para Assad, os problemas enfrentados na região “não começam com os crimes do regime israelense ou a marginalização do povo palestino resistente pelo mundo árabe, e não terminam com os perigos do expansionismo otomano”, disse ele, referindo-se à ocupação turca no norte do país. A cúpula ocorreu ainda em meio à crise global de refugiados e aos esforços contínuos da Síria para devolver seus cidadãos à sua terra natal, apesar do bloqueio dos países ocidentais.
NORMALIZAÇÃO
Em outro lance da normalização de relações com a Síria, os Emirados Árabes Unidos convidaram Damasco a participar da cúpula do clima COP28 no final deste ano. Ainda como parte desse processo, o Bahrein anunciou a normalização de relações diplomáticas com o Líbano e com o Catar.
Normalização à qual Washington tem ojeriza, como expressou porta-voz do Departamento de Estado na semana passada. O que mostra a perda de espaço dos EUA no Oriente Médio, e o crescimento da concepção de que a região pode se tornar um pólo do mundo multipolar.
Por sua vez a Rússia, que tem sido um firme defensor de Assad e da Síria, está trabalhando em dobro para normalizar as relações entre a Síria e a Turquia, que antes também buscou derrubar Assad.
Assim, existe um impulso bastante positivo de que também o Oriente Médio se desloque no sentido do mundo multipolar e da soberania. Como registrou o colunista da CGTN, Bradley Blankenship, “é bom que os países da Ásia Ocidental estejam acabando com séculos de divisão e conquista de colonizadores ocidentais”.
“Qualquer um que acredite na liberdade de determinação e no desenvolvimento humano, coisas que a maioria das pessoas de compleição moral decente concordaria que são boas, deve concordar razoavelmente que a integração da Ásia Ocidental é uma coisa boa para o mundo”, acrescentou.
“Se isso inevitavelmente levar a uma situação em que Washington terá que abandonar suas sanções assassinas a Damasco ou, alternativamente, sancionar todos os países da Ásia Ocidental por contornar suas sanções unilaterais – isolando-se completamente – então isso seria uma coisa tremenda. A Síria tem o direito de decidir seu próprio futuro, participar da diplomacia e do comércio internacional e escolher seu próprio caminho de desenvolvimento. E acontece que os principais atores da Ásia Ocidental agora concordam que isso é verdade, apesar das acusações de Washington”.