“Parte da esquerda não aprendeu as lições da história”, afirmou o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, em entrevista à rede inglesa, BBC, na qual tratou da crise venezuelana (cujas causas centrais, segundo ele, são, de um lado a burocratização governamental e, de outro, as sanções norte-americanas).
Alertou também para o perigo que uma intervenção militar norte-americana representa para o país vizinho e o continente sul-americano: “a Venezuela se tornou parte da estratégia geopolítica dos EUA e que pode se tornar palco de uma guerra”.
Mujica avalia que a intervenção dos EUA se dá principalmente porque a Venezuela tem evoluído nas negociações em torno do petróleo com a China e que Washington quer intervir para manter o controle sobre o petróleo venezuelano.
O ex-presidente uruguaio também defende que diante da tensão política gerada, a saída deve ser pela via de eleições presidenciais, com “a participação de todas as correntes políticas” e “monitoramento internacional através da ONU”.
Ele alerta ainda que “então, se você quer evitar uma guerra, tem que criar alternativas. Porque, pelo andar das coisas, estão obrigando a uma guerra. Você pode ir à guerra por convicção ou por não ter mais remédio além disso. Ninguém vai se render para simplesmente ser encarcerado”.
“A dificuldade”, prossegue, “é conseguir ver essa realidade a fundo ante essa nuvem de declarações que oculta o essencial, que é o tema da guerra. Nesta área da América, sabe-se quando uma guerra começa, mas não quando termina”.
Mujica destacou que os erros do governo venezuelano prejudicaram a esquerda na América Latina: “O regime venezuelano” prejudicou a esquerda na América Latina. “Parte da esquerda não aprende as lições da história”, acrescenta.
Para ele, essa parcela da esquerda “faz confusão entre socializar e estatizar” permitindo que se instaure a ‘doença da burocracia” mas, insistiu que em um quadro no qual “o crescimento substancial joga a favor da economia transnacional e do mundo financeiro, e as classes médias estão congeladas e em perigo no mundo todo, a luta pela igualdade se justifica mais que nunca para reduzir os abismos”.
Mujica que a apoia as tentativas do governo uruguaio de criar um cenário de mediação, evitou também criticar abertamente o oposicionista, mas deixou claro que “não me lembro de governos que tenham se autoproclamado. Mas me parece que a discussão jurídica não é o mais relevante aqui. A grande potência está disposta a intervir. A Venezuela pode se tornar marco de uma luta geopolítica. O (que poderia permitir menor impacto) são eleições com garantias para que subsistam todas as correntes políticas e o diálogo”.
A entrevista de Mujica se deu na véspera do Encontro Internacional de Montevidéu, onde Uruguai, México e Comunidade do Caribe apresentaram uma proposta de organograma para as negociações denominada de “Mecanismo de Montevidéu”.
Ver matéria a respeito do encontro de Montevidéu no link ttps://horadopovo.org.br/montevideu-encontro-internacional-lanca-proposta-de-saida-negociada-para-venezuela/