Ao qualificar ideologia “bolsonarista como nazifascista”, professor Gherman é destratado pela Federação Israelita/RJ

O professor Michel Gherman (terceiro a partir da esquerda), junto com acadêmicos israelenses e de diversos países, recebidos pelo reitor da Universidade de Haifa, Gustavo Mesch, que abre o encontro sobre judaísmo e religiões evangélicas, realizado em Haifa (NB)

Depois de acusado de “banalizar o Holocausto” e “fortalecer o antissemitismo” pelo presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, o professor Michel Gherman recebe ampla solidariedade, tanto em documento firmado por treze entidades judaicas, como de milhares de judeus que se manifestaram através de redes sociais em repúdio à carta de Fierj

Bastou o professor e pesquisador de história e antropologia da Universidadde Federal do Rio de Janeiro, Michel Gherman, denunciar, via twitter, que “bolsonarista deve ser tratado como nazista ou fascista”, para que o presidente da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Fierj, Alberto Klein, saísse em defesa do bolsonarismo em carta aberta, datada do dia 24 de maio, na qual destrata e busca desautorizar Michel Gherman, acusando-o de que – ao comparar a ideologia que norteia o atual governo Bolsonaro à ideologia nazista -, estaria “banalizando o Holocausto” e fortaleceria “o antissemitismo e o revisionismo oportunista”.

“Minha resposta à nota do presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro: a tentativa de intimidação que o presidente da Federação faz é abjeta e ridicula, mas será mal sucedida. Calar judeus do Rio não pode ser a prática de quem supostamente deveria nos representar”, destaca o professor Gherman em vídeo, que publicamos ao final desta matéria, no qual o professor se coloca “disposto ao debate público” sobre a questão.

Imediatamente, treze entidades judaicas lançaram um documento de desagravo ao professor e milhares de judeus de todo o Brasil saíram – através das redes sociais – em solidariedade a Michel Gherman assim que a carta de Klein foi postada na página da Fierj.

O documento, assinado pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos (NIEJ, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro), Observatório Judaico de Direitos Humanos no Brasil, Casa do Povo, Associação Scholem Aleichem (ASA-RJ), Meretz Brasil, Centro Cultural Mordechai Anilevitch (CCMA), Casa de Cultura Habonim Dror – RJ (CCHD), Associação Cultural Moshe Sharett, Associação Cultural Mordechai Anilevitch, Movimento de Mulheres Judias Me Dê Sua Mão e pelos grupos Judeus Pela Democracia – RJ, Judeus Pela Democracia – SP, e Articulação Judaica de Esquerda, afirma:

“No dia 24 de Maio de 2021 a FIERJ (Federação Israelita do Rio de Janeiro) emitiu uma nota assinada por seu presidente, Alberto Klein, em repúdio a um tweet de Michel Gherman.

O tweet de Michel fazia referência a apoiadores de Bolsonaro que, segundo Michel, seriam, a partir daquele momento, referidos por ele como “fascistas ou nazistas”.

Na nota, a FIERJ desautoriza publicamente Michel (acadêmico com larga trajetória no estudo do nazismo e do Holocausto), chamando-o de “inconsequente”, acusando-o de banalizar o Holocausto e de ser futuro responsável por “antissemitismo e revisionismo oportunista”.

Independentemente do acordo ou não, a FIERJ, ao atacar a postagem de Michel, não apenas esquece que deveria representar a todos os judeus do Rio de Janeiro, como coloca o professor em posição de vítima de um linchamento virtual.

Quando ofende Michel, a FIERJ automaticamente ofende a todos os judeus que divergem de seus posicionamentos, abrindo mão de representá-los (como é a sua função).

Através desta carta, as instituições e coletivos judaicos abaixo-assinados exigem que seja feita uma retratação pública da FIERJ a Michel Gherman”.

Segue a carta na qual Alberto Klein, presidente da Fierj, acusa Gherman:

“RESPOSTA AO POST DE MICHEL GHERMAN

“Michel, nossos antepassados que pereceram nos campos de concentração Nazistas discordam. Só que eles não podem mais argumentar, porque infelizmente a maioria não sobreviveu ao regime. Você, por outro lado, pode dizer e escrever o que quiser, porque vivemos em um país que permite isso. O papel da FIERJ é alertar sobre a gravidade desse tipo de colocação. Portanto, sem intenção de entrar na coisa política que você busca tratar em seu post, chamo sua atenção para o respeito com nossos mortos, com nossa história e com as pessoas que sofrem e sofrerão os efeitos da banalização do Holocausto, ainda por muito tempo após o mandato do atual presidente do Brasil terminar.

“Quando você compara o atual governo brasileiro com os nazistas, autoriza outros – fora de seu lugar de fala – a fazê-lo também, abrindo um perigoso precedente para a proliferação de mais antissemitismo e revisionismo oportunista.

“Opinião, Michel, é quando um gosta do vermelho e o outro do verde. Comparar 6 milhões de judeus, além de outras minorias assassinadas sistematicamente em campos de concentração ao governo que você se opõe politicamente é, no mínimo, lamentável e inconsequente”.

Assina Alberto David Klein, presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro.

Veja o vídeo onde o professor Michel Gherman responde a Klein:

Nathaniel Braia

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