Oposição no Paraná denuncia sucateamento da empresa e defende CPI após ciclone expor falhas na manutenção e no atendimento ao consumidor
Parlamentares da oposição ao governo Ratinho Junior (PSD) usaram a tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para denunciar os efeitos da privatização da Companhia Paranaense de Energia (Copel). Os deputados acusam o governo de promover o sucateamento da empresa e defendem a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a situação.
Um exemplo recente citado por Arilson Chiorato (PT), líder da Bancada de Oposição, foram as fortes chuvas registradas no dia 22 de setembro, provocadas por um ciclone, que deixaram mais de 1,1 milhão de pessoas sem energia elétrica em diversas regiões do estado por quase três dias. No entanto, Chiorato destacou que esse tipo de problema é recorrente e não se trata de um caso isolado, mas de uma consequência da precarização da estrutura e dos serviços da companhia desde a privatização.
“O que ficou claro é que não foi só o clima o responsável pela falta de luz. A ausência de manutenção, de investimento em infraestrutura e em profissionais qualificados após a privatização feita por Ratinho Junior contribuiu para a demora no restabelecimento da energia, apontou o parlamentar.
Arilson lembrou que, em agosto de 2023, o Governo Ratinho Junior abriu mão do controle da Copel ao vender ações da empresa na bolsa de valores, arrecadando R$ 3,1 bilhões com a operação. Desde então, a participação do Estado caiu para 15,91% do capital da companhia, com direito a apenas cerca de 10% dos votos nas decisões. “Quem manda agora são acionistas privados e a prioridade passou a ser o lucro, não o consumidor”, criticou o parlamentar.
Os problemas decorrentes da suspensão do fornecimento de energia se estenderam por todo o estado, mas as regiões mais afetadas foram o Leste e o centro-sul do Paraná. Mara Cristina, moradora de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, relatou os transtornos enfrentados com a falta de luz na casa dos seus pais. “Vela acesa para conseguir passar a noite. Caixinha colocando gelo para conseguir por algum alimento que fique refrigerado. Estamos há mais 3 três dias, bem dizer, sem energia”, disse ao G1.
Ela também descreveu as dificuldades enfrentadas no atendimento por telefone com a Copel, na ocasião. “Eles não dão retorno pra gente, não atendem as nossas ligações e os protocolos que a gente abre, eles somem”, informou. “Ontem eu abri um, deu lá que eles estavam vindo arrumar, e agora o protocolo tá como se fosse o início”.
Também moradora de Pinhais, Rosângela contou que a falta de energia por três dias impactou diretamente a rotina da família. Ela cuida da mãe, de 85 anos, que está acamada, tem dificuldade para engolir e depende do uso de um aspirador, também movido à eletricidade. Para conservar alimentos e medicamentos durante o apagão, a família improvisou uma geladeira usando um tonel de plástico.
Em Capitão Leônidas Marques, no oeste do Paraná, o produtor rural Carlos Lazurek teve um prejuízo estimado de R$ 20 mil após ficar cerca de 24 horas sem energia. A falta de ventilação no aviário resultou na morte de cerca de oito mil frangos. Além disso, ele precisou gastar mais de R$ 17 mil em diesel para manter geradores e evitar perdas na produção de leite de 100 vacas, que produzem cerca de quatro mil litros por dia e dependem de refrigeração.
A Copel privada procurou minimizar o dilema. “São casos isolados em áreas em que a rede elétrica teve danos severos decorrentes do evento climático de grande porte que atingiu o estado no início da semana”.
Para Arilson, “o que era sinônimo de orgulho para o Paraná, virou sinônimo de pavor”. “Essa é a Copel. A Copel privatizada do Ratinho Júnior, que não responde as pessoas, não soluciona os problemas em tempo rápido e nem mais faz o que é o básico: garantir o fornecimento”, denunciou.
Durante a sessão, o deputado Renato Freitas (PT) fez um aparte e reforçou as críticas apresentadas pelo colega. Ele relatou que escolas chegaram a improvisar aulas à luz de velas, comércios sofreram grandes prejuízos e famílias passaram dias sem energia. Freitas também denunciou ações judiciais movidas pela Copel contra moradores que vivem há décadas próximos a antenas da companhia, além de aumentos salariais de quase 500% para a diretoria após a privatização. “É necessária uma CPI das privatizações para ontem”, defendeu.
“A gente avisava que isso poderia acontecer, porque tiraram os funcionários de carreira, tiraram a expertise e agora visa um lucro. E não tem comprometimento com as pessoas. Ratinho, você é o responsável e tem que tomar providência. Tem que reunir a nova Copel que você vendeu com o governo do Estado e colocar um plano estratégico de solução para o povo do Paraná”, finalizou Arilson Chiorato.