
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) denunciou publicamente a repressão violenta sofrida durante a marcha “A Resposta Somos Nós”, ocorrida nesta quinta-feira (10), em Brasília. O ato integra a programação do Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização indígena da América Latina, que anualmente reúne milhares de lideranças em defesa de seus direitos. A marcha, que seguia de forma pacífica até o Congresso Nacional, foi recebida com bombas de efeito moral e gás de pimenta por parte da Polícia Legislativa e da Polícia Militar do Distrito Federal.
A repressão policial aconteceu sem provocação ou confronto por parte dos manifestantes, que acessaram o gramado do Congresso Nacional de forma pacífica, sem transgredir qualquer barreira física ou promover vandalismo. Segundo a Apib, “o Congresso, além de aprovar leis inconstitucionais, ataca os povos indígenas e seus próprios deputados”. Entre os feridos está a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL), que, junto a outros participantes, foi atingida pela ação violenta das forças de segurança.
A entidade também lamentou o uso indiscriminado de agentes químicos contra indígenas, incluindo mulheres, crianças, anciãos e lideranças tradicionais, e reafirmou a natureza democrática e organizada da mobilização. “Lamentamos o uso desnecessário de substâncias químicas contra os manifestantes, mulheres, idosos, crianças e lideranças tradicionais”.
Gravações obtidas pela Apib revelam que a violência já era incitada nos bastidores. Durante uma reunião organizada pela Secretaria de Segurança Pública do DF na véspera da marcha, um dos presentes, não identificado, fez declarações racistas e de incentivo à agressão: “deixa descer logo… deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça”. A fala, proferida por um possível agente de segurança, reforça o cenário de institucionalização da violência contra os povos originários.
A Polícia Legislativa justificou a repressão alegando que o grupo teria descido o gramado sem autorização, ainda que sem violência. Mesmo assim, a resposta foi imediata e desproporcional, com uso de bombas e reforço da Polícia Militar, que informou ter atuado apenas de forma lateral no episódio. Indígenas afetados precisaram de atendimento médico, com alguns sendo encaminhados ao Hospital de Base.
O ATL 2025 reúne mais de 7 mil lideranças de diversos povos indígenas e tem como eixo central o enfrentamento à tese do marco temporal, que restringe os direitos territoriais aos povos que ocupavam suas terras na data da promulgação da Constituição de 1988. A proposta é duramente criticada por organizações indígenas por representar um apagamento de sua história e existência ancestral.
“A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) repudia de forma veemente os atos de violência do Congresso anti-indígena, cometidos pelo Departamento de Polícia Legislativa (DPOL) e pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na tarde desta quinta-feira, 10, durante a marcha ‘A Resposta Somos Nós’, que faz parte da programação do Acampamento Terra Livre (ATL).”
O Acampamento, que acontece há mais de duas décadas em Brasília, tem histórico de organização e respeito às instituições democráticas. A Apib reiterou seu compromisso com a luta constitucional e a manutenção de um espaço de diálogo e paz entre os povos originários e o Estado brasileiro.